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  Assim que abro a porta do quarto, Aqua cai em cima da minha cabeça. Carla que estava atrás de mim dá um grito alto e pula para trás em um susto rápido fazendo o sono de Lara sumir de vez.
- Puta merda... Que susto. - A pressão dela caiu e está agora com a respiração pesada.
- É melhor você se acalmar.
- Desculpa o palavreado. - Aqua se vira para ela e ela dá mais alguns passos pra trás. - Enfim... Eu vou fazer algo pra vocês comerem.
- Tá legal. - Lara entra no quarto e se deita na cama, virada pra parede, tentando voltar a dormir.
  Pego Aqua de cima da minha cabeça e a deixo caminhar pelo meu braço e ombros. Fazia tempo que não a via, ficar todo esse tempo sem atenção, ela também deve estar com saudades. Uma gota de sangue pinga no meu braço e ela rapidamente começa a sugar meu sangue com suas pedipalpas. De novo, meus olhos estão sangrando. Pego um dos ratos de dentro da gaiola antes de lavar o rosto e o solto no chão, deixando Aqua começar a caçar. Carla também não os alimentou e por isso eles estão mais magros. Acho que um só não vai ser o bastante pra ela dessa vez. Deixo Aqua no chão e saio do quarto, essa dor nos olhos... Eu nunca vou me acostumar com a dor disso mesmo agora. Lavo meu rosto até tirar a última mancha de sangue e a cor das minhas pupilas agora estão castanhos escuros. Limpo o rosto na borda da camiseta e me encontro com Carla na cozinha fazendo biscoito.

- Está pronta, Lara?
- Sim. Terminei de arrumar as coisas na mochila.
- Certo. Todo mundo no carro.
  Os dias se passaram mais rápido do que eu me lembrava, mas agora já devo ter voltado a me acostumar com o fuso horário. E agora estamos a caminho da faculdade, Tracy me passou o número do quarto que vai ficar e me pediu para ir visitar ela quando eu chegasse e pelo que me lembro, da vez em que fomos visitar aquele lugar, é muito maior que a escola que nós estudamos antes.
- Você tem meu número novo, certo? Se precisar de algo é só ligar que eu venho.
- Ok.
  Ela nos deixa no estacionamento, Lara pega as coisas do porta-mala e Carla se despede de nós com um forte abraço, indo embora em seguida.
- Vamos, Lara. Você vai ter que voltar pra dentro.
- Tá bom.
  Assim que ela desaparece, eu pego as coisas dela e vou para a recepção. Um cara em frente a um computador pede os documentos que me foram entregues.
- Você é um dos aluno da escola campeã daquelas provas?
- Uhum.
- Só para ter certeza, preciso da sua digital. Por favor coloque o dedo no censor. - Faço o que ele pede e pelo visto, a segurança deste lugar não é tão despreocupado quanto eu pensava. - Pronto. Sabe o número do seu quarto e sua sala?
- Eu sei, mas pode me passar essas informações novamente, só pra ter certeza.
- Em qual área você está?
- Ciências humanas.
- De acordo com os dados... Você está no terreno da área de estudos sociais. Sala 5-B.
- Terreno?
- Cada área é separada por terrenos, onde o mesmo abriga os dormitórios dos alunos. 3-D, esse é o número do seu quarto no terceiro andar. - Ele pega uma das chaves na parede e deixa em cima do balcão na minha frente. - Caso esqueça, no seu chaveiro está o numero do quarto.
- Certo.
- E caso perca o chaveiro, venha nos informar imediatamente. - Guardo a chave no bolso da calça e pego as malas do chão. - E mais uma coisa. Não esqueça de escrever o seu nome na placa em frente ao quarto por prevenção a problemas. É obrigatório.
- Mais alguma coisa que eu precise saber?
- Para mais informações, em frente ao dormitório vai ter outra placa com tudo que precisa saber. Regras, tempo de aula e de descanso e até a história por trás da nossa bem sucedida escola. Então é basicamente isso. - Ele esboça um sorriso. - Bem vindo a Universidade O.S.
  Ele libera a passagem e passo pela recepção, entrando em uma área aberta com vários prédios espalhados para vários lados um longe do outro. Entro no prédio do dormitório e subo para o terceiro andar, Lara aparece atrás de mim fechando a porta do quarto.
- Então... Esse é o seu quarto novo.
- Coloque suas coisas em cima da cama.
- Vamos sair?
- Vamos procurar Tracy.
- Ela está aqui?
  Saímos do dormitório e o dormitório feminino não é ao lado do masculino dessa vez, é um pouco mais afastado. Entramos no prédio e pelo que ela me disse, seu quarto é no primeiro andar. Deixo Lara em frente a porta do quarto dela e me afasto, me encostando na parede. Ela bate na porta e alguns segundos depois a porta abre pelo lado de dentro.
- Lara.
- Oi.
- Se você tá aqui, então... - Ela aponta com o dedo na minha direção e Tracy sai pra fora do quarto olhando para mim, usando uma blusa regata preta escrito Led Zeppelin na frente, ocupando boa parte da blusa. - É claro que você também está.
- Esperava por outra pessoa? Parece decepcionada.
- Não, vem. Entrem logo.
  Entramos no quarto e o quarto já estava cheio com suas coisas. Ela abre os braços em frente a Lara e ela me olha. Afirmo com a cabeça, deixando ela corresponder ao pedido de abraço.
- Continua gelada.
- Eu?
- Uhum. Aposto que deve ter aprendido bastante coisa nesse tempo.
- Sim. Aprendi bastante coisa mesmo.
  As duas se afastam, agora encarando uma a outra.
- O que você aprendeu?
- Fisica, matemática, geografia, história, política...
- Política?
- Também aprendi bastante sobre a praia e o ecossistema do planeta.
- Isso é incrível. Aprendeu tantas coisas em tão pouco tempo. E você? - Elas me encaram. - Por que ensinou política pra ela?
- Ela estava interessada, então não vi problema em ensinar.
- Hmm...
- Então, como você tá?
- Eu tô bem.
  Ela tira a franja de cima do seu olho, o jogando para trás. Mesmo que ela diga que está bem, seus olhos não conseguem mentir. Medo, hesitação, desconfiança e também está receosa.
- Você tá bem mesmo?
- ... Tô. Bom... Tirando a parte que... vi umas coisas que me incomodaram bastante.
- Não faça mistério comigo. Diga de uma vez.
- Vi pessoas, muitas pessoas com a morte muito próxima a elas... As pessoas deste lugar irão morrer ainda esse ano.
- Então era isso. Sabe a causa?
- Não, mas você não está entre elas. Fora você e Lara, todos os outros como o lider e a vice-lider que eram da sua sala vão morrer também junto com professores, funcionários e todos os alunos.
- Se esse é caso, o que pretende fazer?
- Eu não pretendo fazer nada. Não posso impedir a morte de fazer o seu trabalho, sabe? Não há como escapar e também não sei a causa e nem quando isso vai acontecer.
- Já que é assim, por que se importa?
- Eu não sei... Talvez eu esteja com medo de estar junto a essas pessoas.
- Não consegue ver isso em você mesma?
- Não. Apenas em outras pessoas.
- Hm... Vamos ver o que vai acontecer. Se você estiver certa disso, pode ser que ocorra uma série de assassinatos, um por um. Ou todos de uma só vez.
- Também pode ser um acidente. - Diz Lara.
- O que te faz achar isso?
- Bom... Acidentes acontecem. Não é? Talvez um enorme acidente.
- Algo como uma explosão ou desmoronamento.
- E se cair um Ovni gigante em cima de todo mundo?
  Lara se senta na cama, olhando para mim, rindo disso.
- Essa não seria uma das principais probabilidades.
- É brincadeira. Brincadeira.
- Tracy, vamos andar um pouco. Precisamos conversar.
- Ok. Mas já aviso que seja lá qual tenha sido a merda, não foi eu.
- Lara, me espera no quarto.
- Mas-
- Não vamos ir longe.
- Mesmo?
- Só me espere no quarto, termina de ajeitar suas coisas e arruma o terrário de Aqua pra mim.
- Tá bom. - Saímos do dormitório e Lara volta pro quarto.
- Sobre o que quer conversar?
- Você sabe de mais coisas, não sabe?
- Mais coisas?
- Em relação a essa previsão sua.
- Talvez. - Ela desvia olhar para o outro lado.
- Me conte tudo.
- Pensei que você não se importaria com isso, mas já que quer saber, então vou te contar. Pode ser que Lara esteja envolvida nisso.
- Eu sei que ela tem mudado com o passar do tempo, mas por que ela estaria envolvida nisso?
- Até onde sabemos ela não faria algo como isso por vontade própria ou faria?
- Não, não faria.
- Pode ser que tenha outros como ela.
- Então, teoricamente você acha que esses "outros" vão vir atrás dela ainda esse ano?
- Provável. Se levarmos em consideração deles não a encontrarem, aí pode ser que irão matar um por um até a encontrar.
- Eu fiz ela progredir nesse tempo, então agora consegue sentir a presença de qualquer um que está por perto num raio de 50 metros. Se eles forem mesmo iguais a ela, irão sentir exatamente onde ela está.
- Porra. 50 metros?
- Pois é.
- Bom, de qualquer forma, isso é apenas uma teoria. E se ela estivesse sendo controlada por alguém?
- Lara agora tem força e capacidade física o bastante para matar essas pessoas sem problema nenhum.
- Ela é tão forte assim?
- Ainda não cheguei a medir toda a força dela, mas ela é mais forte que qualquer pessoa. Eu treinei bastante com ela nessas férias e sempre empatamos em questão de força, mesmo sem dar o nosso limite.
- Se alguém de alguma forma conseguisse controlar ela, então deve ser possivel que seja mesmo isso. Ela tem o costume de obedecer outras pessoas?
- Ela só obedece a mim. Se alguém pedir algo a ela, ela sempre vem pedir minha permissão para fazer.
- Então, se você mandasse ela matar as pessoas dessa escola, ela faria sem reclamar ou hesitar?
- Bom, eu não tenho motivo para mandar ela fazer algo como isso, mas sim. Ela faria.
- Precisamos pensar bem nas coisas que ela pode fazer e o que ela não pode. E você é quem está no controle. Se você mandasse ela obedecer outra pessoa, ela faria?
- Sim.
- É a quarta probabilidade.
- Espero que você esteja certa de que é ela.
- Sendo ela ou não, isso não importa. Mais tarde podemos testar a força que ela tem?
- Vamos para o quarto. Podemos fazer agora.
- Pode ser, não temos aula hoje mesmo.
- Estamos na mesma sala?
- Sim.
  Voltamos para o quarto quando Lara estava de pé em frente a janela, olhando para o lado de fora. Ela se vira e me olha com o brilho dos seus olhos ficando mais claro. Tracy fica olhando Aqua em seu novo terrário.
- Voltaram.
- Queremos fazer alguns testes.
- Testes?
- Sim. Ei? - Tracy me olha. - Aqua cresceu mais?
- Um pouco.
- Esse terrário é novo?
- Na última troca de pele dela, ela ficou tão grande que não cabia mais na toca e ela precisava de mais espaço para andar. Então comprei um terrário maior.
- Ah, entendi.
- Então, Lara, levanta um lado dessa cama só com o dedo indicador.
- Por que? Você já sabe que consigo fazer isso sem nenhum problema.
- Ela é quem tá curiosa.
- Então tá bom. - Lara faz o que eu pedi e como o esperado, isso não é nenhum problema para ela.
- Só isso?
- Está pesado? - Tracy pergunta.
- Não.
- Bom, tem restos de entulhos atrás do dormitório. Tem umas coisas bem pesadas por lá.
- Pouco tempo aqui e já explorou o território.
- Costume.
  Tem lixos e restos de materiais de construções aqui atrás, assim como ela havia dito.
- Lara. Carregue os maiores objetos que encontrar.
- Tipo... Isso aqui?
   Ela segura um grande bloco de cimento endurecido com as mãos, sem mostrar nenhum sinal de que está pesado. Sem fraqueza nos braços, sem mudança de expressão. Carregando isso como se não fosse nada.
- É o bastante. Vê? Não há muita coisa pesada nessa escola para fazer esse teste.
- Um bloco de cimentos como o que ela carregou não é leve.
- É leve pra ela.
- Leve? - Lara pergunta. - Como assim? Ethan consegue carregar isso com mais facilidade que eu.
- Verdade?
- Já que chegou a isso... Sim.
- O que vocês são, afinal? - Lara deixa o bloco no chão e vem até mim.
- Não sei. Acha que consegue empurrar ou carregar uma rocha?
- Depende do tamanho.
- Detalhes.
- No meu estado atual consigo empurrar algo com no máximo dezenove tonelada e meia.
- 19? Já consegue dar uma resposta exata. Quanto tempo leva pra ficar com fome?
- dezesseis horas, trinta e cinco minutos e quarenta e três segundos. Esse é o meu limite.
- Resistência?
- Isso eu ainda não sei.
- Sei que você tem capacidade de se regenerar rápido, mas tem sensibilidade a climas, então resistência ainda é questionável.
- Mas sempre que machuco eu mesma, minha fome chega mais rápido por causa da regeneração.
- Essa garota é tipo um super herói. Sabemos o quanto ela consegue carregar, mas e a força?
- Isso é meio óbvio, Tracy.
- Eu consigo quebrar uma árvore facilmente com um dedo.
- Acho que essa resposta é o suficiente.
- Eu adquiri isso no tempo em que comecei a ficar aqui do lado de fora. Isso foi se desenvolvendo, mas não sinto mais que estou evoluindo.
- Então esse é provavelmente o limite. Acha que pode superar se continuar praticando?
- Podemos tentar.
  Voltamos para o quarto e passo o resto das horas pensando com as duas as coisas que envolvem essa garota. Acho que já é tempo de eu começar a focar em saber mais sobre ela.

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