Andamos por alguns minutos até chegar na praia, está tarde e não dá para ver muito do oceano a essa hora. A princípio, Lara gostou do que viu. Sua expressão transborda animação.
- Ei. O que acontece se tocar a água?
- Nada, é como a água do chuveiro, a única diferença é que é mais salgada.
- E as areias?
- Também não apresenta risco algum.
Ela tira sua sandália e dá seus primeiros passos sobre a areia, mexendo as areias entre os dedos do pé, ainda pensando no que achar sobre essa sensação. Não demora até ela começar a correr por aí na beira do mar enquanto fico sentando vendo ela se divertir. Ela gostou mesmo da sensação da areia sob os seus pés, ficando toda molhada aos poucos sempre que é puxada pela correnteza, mas acho que isso não é algo que eu deveria me preocupar, é apenas água. O crepúsculo ainda se desfazendo atrás dela, daria uma boa foto. Essa imagem me faz lembrar... de quando ela brincava no mundo dos sonhos. Ela corria dessa mesma forma, com um sorriso no rosto e o cabelo balançando ao vento junto com aquela criança. Daqui a pouco vamos ter que voltar, é quase o horário que eu planejei com Carla, mas é melhor deixar ela brincar mais um pouco. As poucas pessoas que estão por perto sorri vendo Lara e por algum motivo... Isso me traz uma boa sensação, talvez seja por ela parecer mais humana...
Aceno pra ela e ela vem até mim voltando a calçar sua sandália.
- Você vai tomar um banho quando voltarmos. Você tá toda suja de areia...
- Eu estou molhada. Isso já não conta como um banho?
- Não.
- Por que não?
- Você gostou da praia?
- Sim! O grande oceano parece ser tão infinito.06:54 PM. Voltamos pelo mesmo caminho que tinhamos ido para a praia, Carla repara o quanto Lara está suja de areia e pede para ela ir tomar banho e que a janta ficaria pronta em cinco minutos. Depois de sairmos do banho, ficamos na cozinha. Carla fala sobre sua infância enquanto termina de fazer a comida, parece que ela teve uma infância normal como a de qualquer outra criança e mora sozinha nessa casa desde muito tempo. Ela parece se lembrar de quase toda a infância apesar de sua idade, seus olhos se enchem de emoção ao se lembrar do passado e das pessoas que perdeu com o tempo. Lara sentada ao meu lado parece não se importar com nada disso, eu ainda não entendo o porquê da minha mãe nunca mencionar nada sobre a familia do meu pai, pelo que Carla contou até agora, as duas pareciam bem próximas antes do meu nascimento. Ela nunca teve a chance de me ver nem uma única vez, desde a separação dos meus pais alguns meses antes de eu nascer. Minha mãe já havia decidido que iria cuidar de mim sozinha, sem precisar da ajuda de alguém. Algo que ela fez muito bem, mas ela se sentia solitária? Com o peso do emprego, as perguntas se eu queria um padrasto e as amigas que iam visitar ela de vez em quando... Ela estava satisfeita com tudo isso? Eu realmente não sei e isso vai ser algo do qual nunca vou ter uma resposta.
- Então, quando é seu aniversário?
- 24 de Novembro.
- Sério? Quase no fim de ano, eu não me lembrava disso.
- Achou que fosse quando?
- Em Agosto, mais ou menos.
- Entendi.
- Pena que não vai estar aqui neste tempo para celebrar seu aniversário.
- Não precisa se importar com o meu aniversário, eu também não me importo.
- Hmm... Eu não queria ter que perder seu primeiro aniversário - Primeiro aniversário? - E você, Lara? Quando é seu aniversário?
Elas se encaram, Lara tentando encontrar uma data, continuando pensativa. Ela olha para mim e pelo seu olhar, eu já percebi o que ela iria falar...
- 24 de Novembro. - Ela diz.
- Sério? Na mesma data? - Não tem como ela cair nessa... - Isso é incrivel. Teremos dois aniversários no mesmo dia! Agora é oficial, eu farei o aniversário de vocês. - Fala sério...
- Mas como ele disse antes, não precisa fazer nada se não quiser.
Ela começa a passar as unhas na mesa de madeira, olhando para o lado de fora da janela.
- Não se preocupem com isso. É claro que farei algo para vocês, mas quantos anos estão fazendo?
- Eu, 17. Ela vai fazer 16.
- Eu não sabia que podia entrar na faculdade tão cedo.
- É permitido quando encontram um aluno com inteligência bem acima da média.
- Então meu sobrinho é um gênio.
- É o que costumam dizer.07:37 PM. Terminamos de comer e eu não esperava que Lara fosse se engasgar com a comida... Volto com ela para o quarto e abro a janela.
- Parece que hoje é lua cheia. - Me viro pra ela sentada na cama, também me encarando.
- A noite tá linda hoje, não acha?
- Como sempre.
Algumas casas estavam na frente, mas no final, bem no final, dá pra ver o brilho da lua refletindo no mar.
- Ei.
- Hm?
- O quão longe posso ficar de você?
- Eu não sei.
- Hm... Daquela vez, em que você teve que sair para fazer a segunda parte das provas com os líderes de sala... Você ficou bem longe de mim, né?
- Agora que você mencionou, é verdade. Eu não tinha me tocado nisso até agora.
- Eu senti uma dor no pescoço enquanto você estava fora nesse dia.
- Uma dor?
- Sim. Do lado de dentro. Como se algo por dentro estivesse me puxando para onde você estava. Não era uma dor física como as que eu senti até agora. Parecia...
- Algo como dor psicológico?
- Sim, sim. Acho que era isso.
- Há uma corrente presa em nós dois, mas quando estamos muito longe apenas você sente esse efeito.
- Você não sentiu nada?
- Não.
- Eu fiquei sentindo essa dor desde quando você saiu da escola e ia ficando pior conforme você se afastasse.
- Bom, pelo menos agora não há como se perder de mim.
- Como assim?
- Você disse que essa dor era como se estivesse fazendo você ser puxada até mim... Então, basta seguir para o lado onde a dor estiver diminuindo para me encontrar.
- É... Eu não gostaria de sentir aquilo de novo.
- Vamos evitar que isso aconteça.
- Certo.
- Agora, eu vou te alimentar e depois disso você vai dormir.
- Você dizendo isso parece até que é algo normal.
- Já se passou um bom tempo desde que isso começou. Virou algo normal para nós.
- Não acha estranho?
- Não.
- Talvez devêssemos começar a experimentar o sangue de outras pessoas.
- Ainda não podemos fazer isso.
- Por que?
- Qual era o gosto do sangue de Tracy?
- O mesmo que o seu.
- O de Luce também, o único sabor diferente é o seu sangue. O efeito vai ser sempre o mesmo, então isso não importa.
- Bom, não é bem por causa do sabor que eu pensei nisso. É por causa do efeito que está fazendo no seu corpo. Isso pode afetar seus estudos na faculdade.
- Você não precisa se preocupar com isso. Eu não sinto mudança alguma no meu corpo desde que você começou a se alimentar do meu sangue.
- E quanto a Luce? Ela vai continuar te ajudando com isso?
- Uhum. Até porque, ela também é minha garota.
- Ela vai para a mesma faculdade que você?
- Não.
- Por que?
- O vestibular que ela vai fazer não tem a opção de ir para a faculdade em que estou.
- Então... Basicamente a faculdade que vai entrar tá além da capacidade de pessoas não tão inteligentes?
- Não exatamente.
- E acha que ela vai conseguir passar isso?
- Ela é mais inteligente do que pensa.
- Deixando isso de lado... Quando vamos visitar sua mãe?
- Ainda não sei. Um dia.
- Não houve funeral, né?
- Não.
- Por que?
- É complicado.
- Onde ela tá?
- Na cidade onde morávamos. Em um cemitério simples no centro da cidade, mas por enquanto não podemos ir.
Tiro o canivete do bolso e o deixo encostado na beira da janela. Me sento ao seu lado na cama e passamos a olhar a lua.
- O que podemos fazer nesse tempo livre?
- Não há muita coisa pra fazer. Está com fome?
- Ainda não.
- Aguenta quanto tempo agora?
- Doze horas, vinte e sete minutos e trinta e um segundos.
- Vai fazer nove horas daqui a dois minutos desde a última vez que se alimentou.
- Uhum.
Me deito na cama, deixando Lara deitar sua cabeça em cima do meu braço, olhando dentro dos meus olhos.
- Ainda não consegui me acostumar com seus olhos.
- Meus olhos?
- Sim. Você tem lindos olhos.
- É?
- É.
- E os seus por outro lado, não muda de cor faz um bom tempo.
- Continua verde.
- Todas essas cores que acontece em seus olhos lhe cai bem.
- Bom... Tenta dormir agora.
- Tá bem.
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The plans of Destiny
General FictionQuerido leitor, essa história que estão para ler vai muito além de apenas um drama adolescente - quando vimos que a natureza de sua alma fazia seu corpo humano fraco ser tão defeituoso a ponto de precisar de medicamentos para continuar vivo, pelo me...