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  03:21 PM. Ficamos em frente a casa, esperando o carro chegar. Acabo de gastar o resto de crédito que tinha no meu celular, mas chegando lá eu dou um jeito de recarregar isso. Melany me encara, segurando minha mão.
- O que foi?
- Parece preocupado.
- Por que acha isso?
- Foi você que me ensinou a como analisar as expressões de alguém. Eu não quero que o papai fique preocupado.
- Não precisa ficar incomodada com isso. Não vai levar o seu urso?
- Ah! - Só então ela repara que não estava com o seu urso nos braços. Olhamos para a porta e dá pra ver ele se debatendo no vidro querendo sair. - Posso ir pegar ele? - Entrego a chave para ela e ela vai correndo até ele.
- Que fofinha. - Duas idosas param na frente de Lara.
- Vocês formam um lindo casal. - O cachorro encoleirado por uma delas, se esconde do outro lado da dona, ficando longe de Lara.
- Ah... Não, não. Acho que entenderam errado. - Lara fica nervosa, mas sem perder as palavras.
- Ela tem seus olhos.
- Você deve ser o sobrinho de Carla, não é? Ouvimos sobre você.
- Sim. - O carro que estávamos esperando estaciona na nossa frente.
- Senhoras. Foi um prazer conhecê-las.
- Quanta formalidade, querida.
- Melany. Hora de ir. - Ela agarra o urso pelo braço, tranca a porta e volta até mim.
  Leva menos de 15 minutos até chegar onde queremos e descemos do carro, agora que vi as duas em frente ao shopping, me pergunto qual será a reação delas ao entrarem. A garota abraça o urso de pelúcia mais forte e Lara fica do lado dela vendo o quão grande é o lugar olhando de ponta a ponta. A atenção das duas foca em uma presença chamativa quando entramos e a prova disso é em como os olhos de Lara se dilatam, mas não sabe de onde vem essa presença.
- Lara. Olhe ao redor, mas não faça nada chamativo.
- Entendido.
- Papa...
- Está tudo bem.
  Subimos para o segundo andar e parece que hoje é dia de Evento Nerd, há barracas e pessoas vestidas com roupas de personagens de anime e outras coisas assim. Luce ia gostar disso.
- O que é tudo isso?
- É um evento. Vamos dar uma olhada.
- Todas essas pessoas vestidas desse jeito, então isso é moda.
- É... Não exatamente. - Melany para em uma das barracas, olhando uma faca de ninja de brinquedo, parecendo bem interessada nisso. - Quer uma? - Ela afirma com a cabeça. - Quantos custa uma dessas? 
- Cinco, mas para a garotinha posso fazer pela metade. Aliás, gostei da lente de vocês. Bem irado.
- Aham.
  Ela pega uma com a cor de tecido preto e me entrega. Dou o dinheiro pra ele e nos sentamos em um dos bancos vazios.
- É assim que se usa? - Ela segura a faca como se estivesse segurando um graveto.
- Não. Segura do outro lado. - Ela faz o que eu digo.
- Assim?
- Isso. Vai querer algo, Lara?
- Não. - Ela ainda está focada com a presença misteriosa, apoio minha mão na sua bochecha e ela consegue esquecer isso por enquanto. - O que essa faca significa?
- Se não me engano, significa que ela é uma ninja ou algo assim. Luce me contou um pouco sobre isso, então eu sei algumas coisas.
- Ninja? - Melany observa outras pessoas correndo com os braços para trás. - Eu sou uma ninja!
- Não leva isso a sério. Vamos.
- Papa, o que é ninja?
- Aah...
  Pegamos o caminho pra sair daqui. Parecemos deixar aberturas para a pessoa com essa presença se aproximar mais e está bem mais perto agora por causa disso, logo atrás de nós. Lara invoca a foice e vira para trás rapidamente parando a ponta da arma no pescoço da pessoa atrás de nós.
- P-porra... - A presença dele desaparece e a pessoa que está na mira de Lara está assustado e não tem nada demais, então não tem como ser ele. As pessoas ao redor nos encara e bate palmas, Lara abaixa a arma.
- Ele sumiu.
- Sim. Pra onde ele pode ter ido?
- Parece ter saído deste mundo.
- Tá com fome?
- Um pouco.
- Consegue segurar?
- Sim, sem problema.
- Certo. Vamos comer alguma coisa.

  05:10 PM. Acabo de colocar mais créditos no meu celular e agora que percebi o tempo que passamos aqui. Melany está jogando um jogo de terror em um dos brinquedos e Lara sentada na minha frente, tomando sorvete.
- Então, vai querer roupas novas?
- Tô precisando.
- Ela também precisa. - Ela olha para Melany manuseando uma arma de brinquedo toda animada. - Ainda tenho alguns tickets, vamos fazer algo.
- Tá.
  Ela deixa o sorvete na mesa e nos levantamos, após andar um pouco por aí, não encontramos nada muito interessante. Então acabamos optando para uma nave espacial que não tinha ninguém na fila, o brinquedo custa um bilhete por pessoa. Aqui dentro é todo escuro com luzes leds piscando no teto.
- O que é isso aqui?
- O lugar vai começar a se mexer. Mas não foi por isso que eu decidi vir nesse brinquedo específico. - Seguro nas duas barras de ferro atrás de Lara, deixando ela presa entre os meus braços. - Eu sei que tem alguma coisa te perturbando desde hoje cedo e eu quero que você me conte. - Ela entrelaça os braços no meu pescoço e a nave começa a se mexer.
- Eu tenho pensado muito sobre aquilo de... Eu começar a fazer o trabalho de Hades e passar a viver por lá, eu não sei o que deu em mim pra pensar tanto nisso, mas acho que é a minha divindade me incentivando tanto. Só que... Eu não quero mesmo me separar de você... Então eu não sei o que fazer. O que eu devo fazer?
- Não vá.
- E o que vai acontecer com aquele lugar?
- Eu não sei. Não me importo.
- ...
- Eu posso dar um jeito nesses pensamentos. Quer que eu faça isso?
- Não, tá tudo bem. Eu consigo me acostumar a isso, só preciso de tempo.
- Tá legal.
  Eu coloco uma das minhas mãos na sua cintura e ela aceita o meu beijo, abraçando meu pescoço ainda mais e encarando meus olhos. Ela está mesmo preocupada, não achei que ela ia acabar criando um laço como este com o submundo, mas mesmo que ela acabe tomando sua decisão no fim das contas, eu ainda não vou poder rejeitar seus desejos. Ela sorri e deita a cabeça no meu ombro. Com o passar de uns minutos seu corpo passa a esquentar, é a primeira vez que seu corpo tem essa reação, seria por causa da eletricidade no meu corpo? O poder de Zeus está fazendo isso pelo atrito entre o meu corpo e o dela.
- Está me fazendo cócegas com o choque.
- Ainda não consigo controlar isso totalmente. - Ela volta a me encarar, segura uma das minhas mãos e ao tocar seu pescoço, os fios de cabelo começam a flutuar, gerando uma onda de choque que faz ela se arrepiar do pescoço até os braços. - Isso até que é legal. - Ela sorri.
- Porque não é você que tá sentindo. - Aproximo seu rosto a ponto de sentir sua respiração. - O que aconteceria se nós nos beijasse agora?
- Nossos corpos estão eletrizados com cargas opostas então seriamos ainda mais atraídos um pelo outro, como estamos agora.
- E se as cargas estivessem iguais?
- Haveria uma força de repulsão entre nós.
- E isso quer dizer que iria explodir nós dois ou algo assim?
- Haveria uma mini explosão entre nós, mas nada sério e nisso não daria para nos encostar de novo até a carga sumir.
- E se você esfregar sua mão no meu pescoço?
- O atrito te deixaria com mais e mais carga até ficar igual a minha e haver uma força de repulsão. Inclusive... essa eletricidade ia percorrer por sua cabeça e não seria nada confortável.
- E como nos desgrudamos agora? - Ela começa a rir e agora eu não faço ideia de como reduzir essa carga. Concentro toda a energia na minha mão segurando a barra de ferro atrás dela e passo a corrente elétrica para o lugar todo, fazendo as luzes piscar até o lugar parar de girar e tudo ficar escuro. - Puta merda. Você quebrou o brinquedo. - Ela ri ainda mais e a porta se abre.
- Vamo vazar daqui.
  Quando saímos, um dos seguranças nos pergunta o que houve e agimos como se não soubéssemos de nada. Ele nos entrega nosso ticket de volta e Melany vem até nós, segurando minha mão.
- "Não sabe de nada", né? - Diz Lara ainda achando graça do que aconteceu.
- Eu não tô nenhum pouco afim de me desculpar por isso, então vamos deixar assim.

  06:11 PM. Andamos por quase todo o shopping e não encontramos nenhuma loja de roupas que Melany gostasse. Não é atoa que ela é tão parecida comigo, o estilo gótico infantil que ela quer não tem por aqui. Lara para em frente a um dos seguranças e pergunta onde tem esse tipo de roupa.
- Vire a direita no segundo andar e siga reto, um pouco antes de chegar nas escadas que levam para o estacionamento.
  Chegamos na última loja que vende camisetas de Rock, vinil e tudo que é relacionado a isso. Está tocando "Sad but true" quando entramos e só pela música já gostei daqui. Bom, terminando com isso, acho que vamos embora. Enquanto Melany escolhe as roupas, Lara fica comigo andando pelo lugar, dando uma olhada em tudo.
- Não vai levar nada mesmo?
- Eu não sei.
- Você gosta desse estilo também, né?
- Uhum. Mas não tem nada específico que eu queira muiiito agora.
- Não está te faltando roupa?
- Não, é sério. Eu não iria mentir pra você.
- Está bem, então.
- Agora que Melany está com você, o que pretende fazer?
- Vou falar com Carla sobre isso. Ver se ela consegue arrumar isso pra mim.
- "Isso" o que exatamente?
- Documentos. Vou tentar fazer as coisas mais "politicamente correto" de agora em diante.
- Interessante.
- Como você sabe, eu não sei como é ser pai. Eu não tive algo como isso e nem sequer já passou pela minha cabeça o fato de um dia eu ter que cuidar de uma criança.
- Mas você está disposto a tentar. É isso que importa, não é?
- Deve ser.
- E também, ela não é uma criança qualquer. Além de ser sua filha, ainda é uma Deusa... Então deve ser mais tranquilo.











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