59.

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- E aí. - Ela diz. - Como foi sua noite?
- Complicada. E a sua?
- Eu fiquei muito chapada.
- Entendi.
- Já experimentou maconha?
- Uma vez.
- Cocaina?
- Não.
- Então você é do tipo que só bebe?
- Eu só nunca me interessei por essas coisas.
- Aposto que ia gostar se fumasse mais maconha. - Ela vira o olhar para Tomas e ao perceber sua amiga focada em outro alguém além dela, parece deixar ela com ciúmes. Conforme suas emoções mudam quando olha para aqueles dois. - Quanto tempo cê acha que eles vão durar? - Ela volta a olhar para mim.
- Isso importa? - Termino de comer e deixo a bandeja de lado.
- Qual é, fala um número.
- Vinte e dois.
- Então, esse será o máximo de dia que aqueles dois vão ficar juntos. - Ela começa a rir... das próprias palavras. - Mas por que vinte e dois?
- Você disse para eu dizer um número, não estava especificando nenhum. Então eu disse aleatoriamente.
- Hmm... Você é estranho.
- Só estranho?
- Complicado. Você não expressa nada. Não sorri, não fica sério, nem mostra se está interessado ou não. Você não é de falar muito, não é?
- Pois é.
- Então, você é do tipo que só ouve?
- Eu só não me importo.
- Hm...
- Vou voltar pro quarto.
  Levo a bandeja de volta para o refeitório e Amanda acaba fazendo a mesma coisa. Não presto atenção nas coisas ao meu redor e caminho em direção ao dormitório até perceber que ela estava me seguindo. Paro de andar e quando olho para ela, ela me encara de volta. Em passos acelerados, ela se aproxima de mim ficando a alguns centímetros de distância.
- O que foi?
- Vamo pro campo.
- Por que?
- Tem algo para fazer agora?
- Não.
- Então vamos.
  Ela passa na minha frente e sigo ela até o campo de futebol. Nos sentamos no alto da arquibancada, onde ficamos aqui sem muito o que fazer. Como da última vez, tem o time da escola treinando.
- Você faz algum esporte?
- Não.
- Por que?
- E você?
- Só natação. Gosto de nadar apesar de não ser boa nisso.
- Entendi.
- Como acha que você se sairia praticando aquele tipo de esporte?
- Eu acho que seria uma merda.
- Sério? - Ela volta a rir. - Precisa ser um pouco mais confiante.
- Dizer isso enquanto ri não passa tanta confiança. - Ela ri ainda mais depois disso chamando a atenção de alguns outros alunos que estavam do outro lado da arquibancada. Eu fico em silêncio enquanto eles vem até nós.
- Eii! PIMENTA!! - Uma garota desse grupo grita, acenando para nós.
- Aah... droga. - Ela se vira pra trás dela reconhecendo a garota loira que esboça um sorriso de sarcasmo. - Mas que porra. Ignora eles.
- Cê tá legal? Parece tensa do nada.
  Em resposta a minha pergunta, ela fica quieta virando o olhar para o lado. Eles se aproximam mais e agora estão perto o bastante para ver melhor. Três garotas e dois garotos. Um deles aparentava ter dezoito anos ou mais, os dois caras usando os uniformes de treino do time. Amanda apoia os braços nos joelhos, escondendo o rosto deles. Não me importo o bastante para me interessar em suas aparências, mas talvez seja melhor mesmo eu não me intrometer nisso.
- Ei, pimentinha. Por que não nos responde? - A mesma garota loira coloca os braços em cima da cabeça dela.
- Não me chame assim... Hanna.
  Diz ela evitando o contato visual com eles. Eu continuo quieto, não os encaro, nem mantenho algum tipo de contato. Apesar de eu sentir que os dois caras e as garotas estão me encarando incomodados, continuo apenas ignorando eles. A garota que estava falando com Amanda passa a me encarar agora.
- Quem é esse garoto?
- Pergunta para ele ué.
- Ei, garoto. Qual o seu nome? - Olho para ela e volto a ignorá-la. Focando minha atenção no pessoal jogando no campo. A mesma garota aproxima seu rosto do meu com uma expressão de raiva por tê-la ignorado. Seus olhos azuis expressando remorso e o cheiro enjoativo do seu perfume chama minha atenção. - Eu te fiz uma pergunta. Ei!
- O que?
- Ora. Você fala. - Eu a encaro e ela afasta um pouco o rosto esboçando um sorriso. - Qual o seu nome?
- Não te interessa. - Os dois caras atrás dela me olham com raiva agora.
- Que pena. Só porque eu te achei bonitinho. - Ela volta a se afastar de mim, sussurrando algo para os dois caras e no mesmo momento os dois sorriem pra mim. Eu desvio minha cabeça do primeiro soco de um dos grandalhões fazendo a mão dele bater na quina da madeira atrás da minha cabeça. Nesse momento ele deixa a guarda completamente aberta e então chuto o seu estômago fazendo ele descer a arquibancada rolando. Isso nem vale a pena... O outro cara desce os degraus indo ajudar o primeiro idiota.
- Humf... Vamos embora, meninas.
  Conforme elas iam descendo os degraus, Amanda ia se sentindo mais aliviada e supresa por algum motivo.
- Caralho. Isso foi da hora. - Ela olha para trás, vê que eles já estão bem afastados e dá uma risada. - Você é mais ágil do que eu esperava.
- Cê tá legal?
- Sim, claro. - Seus olhos brilham como se ela quisesse dizer algo a mais, mas de sua boca não sai nenhuma palavra. Movo minha cabeça um pouco para trás e a bola que os alunos estavam jogando acaba de atingir a arquibancada onde nós estava. A bola não nos acerta, mas bate entre a distância que tinha entre o meu rosto e o rosto de Amanda. Fazendo um impacto imprevisto e um alto barulho. A bola desce rolando na arquibancada, voltando para a mão de um deles que estava vindo buscar.
- Desculpa aí, pessoal. Foi culpa minha. - O veterano que veio pegar a bola, acaba se desculpando.
- QUE BOM QUE SABE QUE FOI VOCÊ! SEU IDIOTA!! - Exclama Amanda assustada. Quase ficando vermelha de tanto desespero e o garoto a ignora voltando para o campo. - Mas olha, me ignorou completamente. - Eu me levanto da arquibancada e ela me encara. - Vai para onde?
- Pro quarto.
- Ah...
- Você vem?
- Por mim tudo bem, mas eu não avisei Duda... Bom, tanto faz também. Quem mandou ela ter me trocado. - O humor dela muda de repente.
- Você é um pouco bipolar.
- Não é verdade.
- Não. Você é muito bipolar.
- Onde será que ela deve tá agora...
- Quem?
- Duda. Ah, Tracy. Duda é o apelido dela.
- Hm.

  01:22 PM. O quarto estava do mesmo jeito de antes, não parece que Tomas esteve aqui no intervalo. Amanda entra e fecha a porta, olhando para a Aqua no terrario, sem tirar os olhos dela.
- Que aranha bonita. E que... forte cheiro de cigarro.
- É.
- Vocês beberam a vodka inteira e ainda tomaram algumas vervejas.
- Tomas não tomou essas cervejas.
  Pego a carteira de cigarro que tinha deixado em cima da mesa e onde eu tinha deixado o isqueiro... Procuro nos bolsos da calça, mas não encontro.
- O que tá procurando?
- O isqueiro.
- Foda.
  Me abaixo e olho em baixo da cama e lá estava. Estico meu braço e o pego, arrastando-o de volta para mim.
- Como isso foi parar aí em baixo?
- Não importa. - Tiro um cigarro de dentro e dou o outro para Amanda. - Vai querer ficar em pé? Pode sentar na cama se quiser. - Ela faz o que eu digo e se senta ao meu lado.

  01:43 PM. Depois de já ter fumado mais alguns, eu e Amanda ficamos quietos. Apenas passando o tempo fumando.
- Não gosto desse silêncio.
- Então diz algo sobre você.
- Por que eu tenho que falar sobre mim?
- Você disse que não gosta desse silêncio, eu já não me importo. Então fala um pouco.
- Apesar de você nem se importar com o que quer que eu diga aqui.
- Então?
- Tá bom. Deixa eu ver... Eu sempre morei nessa cidade, esse é o meu primeiro ano nessa escola. E...
- Como você conheceu Tracy?
- Nós somos amigas já faz um tempo. Desde bem antes de começarmos a estudar aqui.
- Hm...
- Tínhamos onze anos quando nos conhecemos. Ela estava participando da mesma peça de teatro que eu em uma escola. Tudo estava indo bem até o dia da apresentação, onde no momento em que eu tropecei no meu próprio pé e ela caiu em cima de mim por algum motivo. Todos riram de nós. Não sei como ela caiu em cima de mim, mas foi tão vergonhoso que eu me escondi atrás dela enquanto ela tentava se esconder atrás de mim. A nossa professora ficou muito brava com a gente e desde então, somos amigas.
- Conhece ela bem?
- Ela tem alguns segredos que nunca me contou, mas fora isso, eu a conheço bem. - Então não tem a informação que eu quero.
- O sinal vai tocar em dez minutos. Sabe qual a próxima aula?
- Não faço ideia. Agora me conta um pouco de você.
- E o que quer saber?
- Como veio parar aqui?
- Depois que eu me mudei para essa cidade, eu estava morando com meu pai e acabei vindo parar aqui.
- Você gosta dele?
- Não.
- Imaginei.
- Algo a mais que queira saber?
- Onde morava antes?
- Na cidade vizinha.
- Com quem?
- Minha mãe.
- E por que não tá morando mais com ela?
- Ela morreu. Há alguns meses.
- Aah... Sinto muito.
- Hm.
- Alguma decepção amorosa?
- Eu não chamaria de decepção amorosa, mas é...
- Como era o nome dela?
- Anna.
- Hm... É um nome bem simples. - Ela dá mais uma tragada e me encara. - Ela beijava bem?
- Uhum.
- O quão bem?
- Não sei bem como comparar.
- Então... - Ela aproxima seu rosto do meu. - Pode tentar comparar comigo.
- Tem certeza?
- Tenho. - Eu faço o que ela pede e assim, eu a beijo da mesma forma que fazia com Anna. Encosto minha mão no seu rosto e ficamos assim por alguns segundos. De fato, não é a mesma coisa. Eu volto a me afastar e ela me olha satisfeita.
- E aí? É melhor?
- Não. Ela beijava melhor.
- Droga. Mas por outro lado... Você beija muito bem.
- Hm...
- E como ela era?
- Só uma garota triste que procurava consolo com alguém que pudesse satisfazê-la.
- Você?
- Sim.
- E que tipo de satisfações são essas? - O sinal toca.
- Hora de ir pra aula. Talvez eu te conte mais outra hora.
- Vou cobrar.






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