105.

0 0 0
                                    


  Após irmos comprar alguns apetrechos que eu precisava, encontramos Lara sentada no sofá quando voltamos pra casa, ela está com as roupas toda suja e rasgada. Aparentemente parece mais aliviada ao me ver.
- Lara, o que aconteceu? - Luce vai até ela preocupada. Em resposta a pergunta dela, Lara esboça um sorriso mostrando que está tudo bem. - Ah, achei que estivesse machucada...
- Eu estou bem, vê? Não tem com o que se preocupar.
- Ok... - As duas voltam a olhar para mim e ela se levanta. - Eu vou deixar as coisas em cima da sua mesa, tá?
- Tá bem. - Luce caminha para as escadas, indo para o segundo andar e fico de frente para Lara, a olhando de cima. - Por que está nesta situação?
- Fui pega numa armadilha enquanto fazia meu reconhecimento por lugares próximos que ainda não exploramos.
- Fizeram algo com você?
- Não. Eu me fiz de fraca pra ver até onde eles iam me levar e saber mais sobre o que planejavam.
- Então foi isso. Tem que ser mais cautelosa ou vai acabar rasgando todas as suas roupas desse jeito.
- Me desculpa. Eu não tive muitas opções.
- E o que descobriu?
- Nada demais. Eram só uns mercenários. Eles tinham armas e todos os recursos necessários para me capturar e assim deixei que fizessem.
- Mercenários? Tirou alguma informação deles?
- Tudo que precisava saber. Não é nada tão importante. Assim como os outros que encontramos, só queriam roubar e trocar por recursos com os comerciantes.
- Só isso? Não tem nada mais para me dizer mesmo?
- Não, é só isso.
- Certo. Ainda bem que não está machucada. - Passo minha mão pelo seu cabelo e ela esboça um belo sorriso no rosto. - Ficou sabendo da festa no palácio hoje a noite?
- Sim. Pelo que acabei descobrindo, é um evento tradicional entre os nobres, não é?
- É? Não sabia.
- Vamos ter que ir?
- Infelizmente. Já que fazemos parte deles...
- Então, vamos treinar no tempo que ainda falta. Ainda tá bem cedo, podemos treinar até escurecer?
- É uma boa. Me sinto travado ultimamente por ter ficado tanto tempo estudando e ajudando o povo daqui. Nós dois precisamos disso.
  Ela vem comigo até o quintal e nos afastamos um do outro. Seu olhar reflete que mais uma vez não vai pegar leve e acabo me inspirando nisso também. Apesar de termos os mesmos atributos, ainda competimos por algo idiota como isso.

  A tarde já estava quase escurecendo quando Luce nos disse pra parar. Ambos estamos jogados sobre o gramado mais destruído que da última vez, exaustos como sempre.
- Isso... foi um empate? - Ela pergunta.
- Não. Eu ganhei.
- Droga...
- Mas você evoluiu bastante. Na próxima até pode acabar me superando.
- Acha que vai ter muita diferença entre o meu poder e o seu quando eu recuperar minha divindade?
- Acho que sim. Você está mesmo interessada nisso?
- ...
- Lara?
- ... Um pouco. Ultimamente eu só tenho pensado nisso.
- Hm. Será tudo resolvido com calma. Aproveite o tempo que passarmos aqui e tenta deixar isso de lado. Ok?
- Ok.
  De repente, eu sinto a energia de novos Deuses que nunca tinha sentido antes bem longe daqui. Lara também percebe e se senta ao meu lado olhando rapidamente para onde vem essas presenças que são bem diferentes de Poseidon.
- São três. - Digo.
- Sim... Quem poderiam ser?
- Convidados para a festa no palácio, talvez.
- Devem chegar em mais ou menos um minuto.
- Vá tomar banho.
- O que vai fazer?
- Eu vou até eles.
- Me deixa ir com você.
- Não. Tivemos sorte de nenhum dos Deuses daqui ter te descoberto até agora, não podemos arriscar.
- Tá... bom. - Ela se levanta e antes de entrar em casa, ela volta a me olhar preocupada. - Toma cuidado, está bem?
- Pode deixar. Avise Luce sobre isso.
  Ela afirma com a cabeça e fecha a porta após entrar. Volto a ficar em pé e paro pra perceber as condições atual do meu corpo... É, ainda não estou preparado para usar uma velocidade tão rápida por tanto tempo, não o bastante para chegar lá agora mesmo, então tenho que usar o que posso, por enquanto. Levo cerca de 15 segundos mesmo evitando todos os obstáculos, até atravessar o reino todo e chegar onde esses Deuses estão se aproximando. A carroça branca e vermelha em que estão é parado na mesma hora que os Árions se assustam comigo.
- Por que paramos? - A voz de uma mulher ecoa do lado de dentro.
  Uma das portas se abrem lentamente mostrando uma das primeiras pessoas que chama meu interesse. Hélios. Sua aparência de um jovem adulto e a auréola sobre sua cabeça feito de raios dourados, me encara curioso assim que está completamente fora da carroça.
- Que surpresa agradável temos por aqui. - Ele não deixa de escapar nenhuma intenção hostil assim que sai da carruagem e os Árions se curvam a minha frente.
  A voz da mulher que tinha ouvido antes, começa a sair da carruagem também logo depois dele. Seu capacete medieval dourado é a primeira coisa que me chama atenção. Ela usa um vestido que combina com o capacete e sua beleza é diferente das plebeias deste Reino. Creio que esta seja Athena. Jamais pensei que ela voltaria a se aliar a Minos, aposto que foi por minha causa recente ao reino. Aqui temos uma Deusa da sabedoria e um Deus quase onisciente... As chances deles não saberem quem eu sou é de 5% considerando que eles não sabem nada sobre os humanos da terra.
- Você é... - Ela repara bem antes de terminar a frase e se perde em meio aos pensamentos. - Quem é você mesmo?
- É o convidado que o Rei Minos tem hospedado em seu reino. - Hélios reponde. - Estou correto?
- Uhum.
- A que devemos sua inesperada visita?
- Apenas me incomodei com suas presenças. Vim conferir quem eram.
- Não parece surpreso ao nos ver. Sabe quem somos?
- Hélios e Athena. Pude perceber ao ver suas aparências.
- E você é...? - Parece que aqueles 5% subiram bastante agora. Essa pode ser uma boa oportunidade.
- Eu sou Hypnos.
- Hm? - O olhar dela fica mais sério ainda.
- É mesmo?
- Mas Hypnos... Não havia morrido?
- Melhor dizendo... Sou a reencarnação dele.
- Aquela Nyx maldita. - Outra voz misteriosa, porém mais grave que a voz de Hélios, vem de dentro da carroça. - Teve mesmo a audácia de fazer algo como isso.
- Isso explica muita coisa. Não é, Athena?
- De fato...
- Mas apesar disso, aposto que você não tem más intenções ao ver a situação em que está.
- Não me entenda errado. Eu quero apenas saber das coisas que tenho curiosidade. Não estou aqui para ameaçá-los nem nada do tipo. Se fizerem o que eu quero, ninguém sairá com problemas.
- Então, diga. O que deseja saber?
- Primeiro... O que eu quero saber é: o que estão fazendo aqui?
- Não é óbvio? Fomos convidados para essa festa e apenas isso.
- Agora, me conte sobre os poderes de Zeus. Desejo saber até onde vai as capacidades do Deus dos Deuses.
- Nem um piu, Hélios. - A figura finalmente decide se mostrar. Seu cabelo ruivo que vai até os ombros e a pupila de seus olhos, da sua barba e das sombrancelhas seguem o mesmo tom ruivo... Me passa uma certa familiaridade. - Não digam mais nada a este pirralho.
- Ah, sim... Agora eu te reconheço. - Com mais de três metros de altura, eu me questiono como ele foi capaz de entrar nessa pequena carroça com esse corpo cheio de músculos exagerados. Parece irritado ao me ver e de fato, eu o reconheço apenas ao sentir sua presença. - O filho de Nyx que se esconde atrás do sol de Hélios, Éter. Um dos filhos de Érebo e Nyx.
- Você tem coragem apesar do seu tamanho, pirralho.
- E você, pra alguém tão grande, é bem estressado. O que foi? Se sentiu ofendido pelo que eu disse?
  Ele fecha a porta da carroça e vem até mim, fazendo o solo tremer a cada passo. Mas apesar dele ser um dos mais velho entre os filhos de Nyx, não é lá muita coisa além de força física.
- Vejo que Hypnos terá que reencarnar mais uma vez.
- Um cara grande com uma personalidade infantil e um humor refinado. Você consegue ser uma vergonha pior que Thanatos. - Eu toquei na sua ferida e agora ele está ainda mais irritado comigo.
- Vocês dois. É melhor pararem. - Athena saca sua espada da cinutra e o afasta de mim, fazendo ele se posicionar ao seu lado e agora ela passa a reparar melhor nas minhas roupas. - Você não é daqui, é? Não me lembro de já ter visto roupas como estas antes.
- Já é a centésima vez que alguém por aqui me faz essa pergunta. Não tem necessidade de eu responder isso.
- É mesmo? Perdoe minha grosseria, mas exigo que me responda.
- É melhor não. - Ela fecha sua expressão, de novo. - Graças aquele ali, não vou mais conseguir tirar nenhuma informação de vocês. Sendo assim, talvez nos encontramos no salão de festa.
- Uma coisa é fato, Hypnos. - Diz Athena com um tom confiante. - Nos veremos novamente.
- E espero que ainda seja em situações... amigáveis.
- O que quer dizer?
- A propósito, eu adoraria conhecer o seu reino um dia, Athena. Não tenho motivos para arranjar brigas com outros deuses, então espero que entenda minhas intenções.
- O jeito que fala me passa uma impressão duvidosa. Assim como eu me lembrava de Hypnos, eu não sei dizer se está falando a verdade ou sendo irônico.
- Eu estou sendo sincero. Dentre os reinos deste mundo, o reino de Athena é o que mais me interessa.
- Bem, enquanto estivermos em uma... "Situação amigável", pode ter certeza que será bem vindo em minha casa, então quando se sentir a vontade, passe por lá.
- Me lembrarei disso. - Ela volta a guardar sua espada e aquele idiota ainda tá muito puto comigo. Vai ver ele sempre teve inveja de Hypnos e Thanatos por sempre serem aqueles que mais tem a atenção de Nyx, por isso não gosta nenhum pouco de mim. - Ainda quer brigar, Éter? Ainda tenho um tempo livre.
  Athena olha pra ele com sua expressão ainda séria e ele recua, tirando aquela expressão de raiva do rosto.
- Estamos atrasados, Hypnos. Vocês podem se divertir outra hora. Ok? - Coloco as mãos nos bolsos da calça e ela sorri, entendendo minha resposta perfeitamente. - Ótimo. Então, esperarei por uma conversa mais detalhada com você durante a festa.
- Sim, com certeza.
  Os três voltam para a carroça e quando Athena fecha a porta, os três Árions voltam a ficar em pé, acaricio a cabeça de um deles e após balançar a cabeça de satisfação, eles voltam a cavalgar pelos céus, continuando seu caminho para o palácio.



The plans of DestinyOnde histórias criam vida. Descubra agora