Passamos o resto da noite sem dormir e acho que vou ir tomar banho. Se não me engano o banheiro fica quase ao lado do quarto. Pego minha mochila e abro a porta.
- Vai tomar banho?
- Uhum.
- Acho que vou também. - Saímos do quarto e ainda não tinha ninguém andando por aí.
- Então, como funciona esse dormitório?
- Nada de muito diferente. Cada andar é separado por turmas. Tipo... O primeiro andar é só para os novatos que acabaram de entrar no ensino médio. O segundo andar é do pessoal que tá no segundo ano e o terceiro e o quarto andar é dos nossos veteranos.
- Entendi.
- E tem dois banheiros por andar.
Bom, pelo menos o banheiro é grande.06:18 AM. Volto para o quarto, termino de colocar o meu All Star e o sinal toca no mesmo momento.
- Acho melhor irmos ou ficaremos sem comida.
- Tô sem fome.
- Você comeu alguma coisa ontem?
- Não.
- E não tá com fome?
- Enfim.
Chegamos no refeitório em frente ao pátio principal e ainda não tem muitos alunos por aqui também.
- Vamo lá.
Pegamos os lanches e nos sentamos em uma das mesas vazias. A comida não estava com uma aparência boa e o cheiro também não, mas Tomas come sem problema nenhum. Deixo o que peguei de lado e mordo uma maçã.
- Você não vai comer?
- Não.
- Mas até que tá bom.
- Pode comer, se quiser.
- Aí sim. - Ele pega a bandeija sem hesitar.
- Aqui não tem café?
- Não. Nunca estava entre os cardápios, pelo menos.
- Vou tomar um pouco de água e voltar pro quarto.
- Beleza.
Já faz um bom tempo desde a última vez que tomei café e eu acabei me acostumando a isso mais rápido do que eu gostaria.06:44 AM. E aqui estou, dentro do quarto me isolando do resto da escola... De novo. Coloco música sem fone e aumento o volume, acho que não dá para ouvir do lado de fora. Alguns minutos depois Tomas entra no quarto, se despedindo de alguém.
- Essa banda é boa.
- Conhece?
- Suicide Silence? Claro que sim.
O próximo sinal toca as sete horas em ponto e termino de molhar a terra do terrario, deixando um pouco de água para Aqua. Ela se esfrega na minha mão por um tempo antes de eu deixá-la em paz.
Chegamos na sala onde já havia alunos, a sala já está quase cheia. Eu vou para o fundo da sala e Tomas vem junto, se sentando na mesa a minha frente. Alguns estavam brincando de quem acerta a lixeira com bolas de papel em maior distância e outros estavam com fone no ouvido, com a cabeça abaixada na mesa. Nada muito diferente da antiga escola.11:32 AM. O sinal da última aula dessa manhã toca e eu volto para o dormitório sozinho. Tomas desaparece na multidão de pessoas na saída e assim como eu esperava, não houve nada mesmo de especial nessas primeiras aulas e eu prefiro assim. Lara não fala mais comigo e nem aparece pra mim desde aquela vez na praça... Ela só aparece quando estou dormindo.
Saio do quarto e tinha alguns alunos andando sem camisa pelo dormitório. Passo por eles e vou para fora. Este excesso de alunos espalhados por todo lado me dá a merda de uma sensação que não entendo. Não preciso me acostumar a isso, só quero comprar os cigarros, alguma bebida e voltar pro quarto, mas pelo visto, Tomas está bem ocupado. Me sento no topo da arquibancada do campo de futebol e fico mexendo no celular, o mais afastado dos outros. Quanto mais mexo no celular mais entediado fico, sem nada para fazer, além disso. Até as memórias com Anna voltarem ao meu incômodo.12:45 PM. Uma garota vem até mim, me entrega um papel e sai. Olho para o papel e volto a prestar atenção no celular. O volume dos fones tão altos que não consigo ouvir nada do lado de fora, o papel que recebi é sobre uma festa que teria hoje de noite no ginásio da escola. Parece ser só uma festa aleatória marcada pelos alunos da escola, eu não tô interessado, de qualquer jeito. Amasso o papel e o coloco no bolso da calça. Vejo Tomas subir as arquibancadas e vir até mim.
- Então, ainda temos tempo se quiser ir comprar algo. - Me levanto da arquibancada e desço até o gramado junto com ele.
- Por onde é?
- Atrás da escola. Vem comigo. - Andamos por um tempo até sair da área do campo e chegar ao gramado, onde levava para uma parte de trás da escola, tinha um espaço pequeno aberto na grade. - Você tem o mesmo tamanho que eu, acho que passa ai numa boa.
- Essa é a única forma de sair daqui?
- Infelizmente. A recepção não nos deixa sair, só com autorização do responsável ou pra fazer algo importante.
- Hm. Vai vir junto?
- Vou.
Eu empurro a grade com um pouco de força até entortar o bastante para eu conseguir passar sem problemas.
- Acho que agora, não vai ter problema para passar por aí. Você é forte hein, porra. Olha a grossura dessas barras. - Não digo nada a ele e passo para o outro lado, ele vem em seguida. - Como vamos fechar isso de volta?
- Não vamos. Damos um jeito nisso depois. Vamos logo. Onde tem um lugar aqui que vende cigarro?
- Tem uma lanchonete ali na esquina ao lado da escola. Geralmente os alunos compram bebida lá.
Quando chegamos no lugar, percebo que havia mais gente aqui dentro do que nas ruas. Sinto um forte cheiro de batatas fritas e hambúrguer, mas não parece que as pessoas daqui estão interessadas nessas comidas. Só se vê gente bebendo pelo lugar. Enfim, paro em frente ao balcão de atendimento e um cara alto com barba esfarrapada para na minha frente, enquanto Tomas assistia uns bêbados jogar carta. O cara olha pra mim.
- O que quer?
Ele tem a aparência de um velho musculoso, um pouco gordo e branco, com pouco cabelo sobre a cabeça.
- Duas carteira de cigarro.
- Quatro dólares. Mais alguma coisa?
- Uma vodka também.
- Quantos anos você tem?
- Não importa.
- Importa.
- Dezesseis.
- Sabe que não é permitido vender esse tipo de bebida pra menor de idade, né?
- Eu sei. - Ele olha pra minha cara por um tempo até decidir algo com uma risada irritante.
- Se a autoridade te pegar com isso, não me bota na sua merda.
- Pra dizer isso, algo assim já te aconteceu.
- Principalmente com os alunos dessa escola de merda aqui perto.
- Bom saber.
Ele puxa duas carteiras de baixo da mesa e me entrega, coloco os cigarros dentro do bolso da calça e Tomas aparece ao meu lado.
- Então, conseguiu?
- Pega ali um energético no frezer.
Ele faz o que eu digo e o cara volta com a vodka, Tomas coloca o energético ao lado da bebida.
- Então... vocês vão fazer uma festa hoje a noite, é?
- Quanto ficou?
- Dois cigarros, uma vodka e o energético, dezenove. - Depois dele me dar o meu troco, nós saímos do bar com a sacola em mãos.
- Cara... Como convenceu ele a te vender bebida?
- Não convenci.
- Então, ficou sabendo da festa que vai ter hoje?
- Uhum.
- Você vai, né?
- Acha que eu comprei bebida pra ir nessa festa? Eu vou ficar bebendo no quarto mesmo.
- É claro...
Voltamos pelo mesmo lugar que havíamos saído. Dou a sacola com a vodka para ele segurar enquanto dou um jeito de arrumar essa grade como estava antes. Faço um pouco de força e consigo fechar um pouco, da mesma forma que a encontramos.
- Acho que ninguém vai notar.
Pego de vota a sacola e voltamos para o quarto sem nenhum adulto nos ver pelo caminho. Deixo as garrafas em cima da mesa e me sento na cama.
- Onde posso arrumar copos aqui?
- Hmm... Tenta pedir para a tia que cuida do refeitório. - Saímos do dormitório e Tomas vem junto até o pátio. - Então, nos vemos depois. Preciso me encontrar com alguns amigos.
Não digo nada e ele sai, pelo caminho tinha uns alunos jogando algum jogo on-line pelo celular nos corredores, pela forma de como eles gritam e parecem irritados. No pátio estavam uma galera andando de skate e bicicleta. Chego no refeitório, as mulheres que cuidavam dali estavam lavando a louça e preparando a comida, então simplesmente entro, pego três copos de plástico e saio sem incomodar ninguém. No caminho para o dormitório, aquele mesmo grupo que estavam em meio ao mato de madrugada param na minha frente, os tais... Satanistas. Três caras altos e duas garotas, todos vestidos de preto, parecem ser do último ano. Eles ficam parados na minha frente sem dizer nada, apenas me encarando.
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The plans of Destiny
General FictionQuerido leitor, essa história que estão para ler vai muito além de apenas um drama adolescente - quando vimos que a natureza de sua alma fazia seu corpo humano fraco ser tão defeituoso a ponto de precisar de medicamentos para continuar vivo, pelo me...