76.

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  O tempo se passa e Lara ainda recupera a consciência aos poucos. Já começo a sentir os efeitos que Toby havia dito... Tudo aquilo sobre compartilhar as mesmas sensações. Sinto meu sangue ficando gelado e a noção dos meu movimentos também parecem ficar mais travados... Ela levanta a cabeça do meu ombro e até mesmo sua tontura eu consigo sentir.
- Ethan...
- Hm?
- O que aconteceu?
- Você desmaiou.
- Eu... desmaiei?
  Sentados de baixo da sombra de um prédio destruido, eu começo a pensar em diversas coisas. No que eventualmente poderá acontecer. Ela parece não se lembrar da conversa que tive com Toby e muito menos o preço que teve que pagar por isso e vai ser melhor eu não tocar no assunto. Agora devo ser capaz de fazer ela parar de ler minha mente.
- Ei... - Ela aperta a minha mão e me encara ainda cansada. - Acabou, não é? As coisas serão diferentes agora. Não é?
- Sente algo diferente?
- Sim. Parece que estou mais leve, parece que um peso parece ter saído dos meus ombros e não consigo mais ler os seus pensamentos. Por que?
- Várias coisas serão diferentes apartir de agora. Ele tinha mencionado algo sobre você perder a maioria das memórias que aprendeu junto comigo durante todo esse tempo.
- É? Hm... É verdade. Tenho a sensação de ter perdido algumas coisas...
  Eu me sinto da mesma forma, minha mente não está mais tão pesada como costumava ser e agora consigo pensar melhor em várias coisas sem ter que me preocupar com a dor de cabeça.
- Você está comigo agora e apenas comigo, sabe que não vou te machucar.
- Nem me forçar a nada?
- Depende. Tem certas coisas que não permitirei que você faça.
- Já que é assim, então tudo bem.
- Você quer ir lá para fora? No meu mundo, um lugar do qual você não vai a muito tempo.
- Eu quero. Quero ficar com você naquele lado.
- Então tudo bem.
- Mas antes disso...
- O que foi?
- Eu preciso de sangue...
- Sua sede por sangue já começou, mais cedo do que eu esperava.
  Eu a alimento antes de sair e não demoro até conseguir controlar tudo que não conseguia antes. Faço ela sair daqui de dentro e se isso deu certo como eu queria, ela deve estar deitada na minha cama agora. Também selei a capacidade dela de sentir os machucados que eu sinto, mas não o contrário; para evitar que algo aconteça a ela sem eu saber e agora que me livrei destes principais problemas, as coisas podem ser mais tranquilas daqui em diante. Pelo menos, até eu me acostumar.

  06:12 AM. O celular deperta. Eu me sento na cama e minha cabeça dói por algum motivo. Parece que essa dor vai permanecer por um tempo...
  Sinto algo frio escostado ao lado direito do meu corpo e aqui está ela. Dormindo ao meu lado bem mais real do que antes. Seu cabelo espalhado pelo meu travesseiro e a boca entreaberta expondo suas duas presas afiadas... Ainda parece estar com dificuldades para acordar. Até mesmo o seu vestido branco de sempre passa uma impressão diferente agora. Pego a pelúcia entre seus braços... Tão sólido como qualquer pelúcia de pano e algodão, toco seu rosto, sentindo sua pele macia e gelada... Ela realmente está aqui, não é mesmo como das outras vezes. Tomas acorda num salto rápido, assustado com a garota na minha cama.
- Q-quem...? - Não pensei que chegaria ao ponto disso tirar as palavras dele.
- Se lembra da vampira que eu tinha dito ter mordido minha boca daquela vez?
- Nem fodend-
  Ele desiste de falar assim que ela abre os olhos, assustado com essa tonalidade escarlate de suas pupilas, ele se afasta ainda mais. Ela não tira os olhos dele enquanto se senta ao meu lado. Sem dizer nada, eu afasto o cabelo que estava tampando os seus olhos e ela então me encara, um sorriso começa a aparecer no seu rosto, seus olhos brilham e ela me abraça forte de repente. Não demoro a me acostumar com o seu corpo gelado, levando apenas alguns segundos. Acho que o que Toby disse estava certo, minha temperatura caiu razoavelmente e sinto meu corpo ainda travado por conta disso. Olho para Tomas com Lara de costas para ele e faço um sinal de "depois eu explico tudo" com a mão e ele entende, voltando a se relaxar na cama. Lara me solta, ficando sentada com as pernas cruzadas na minha frente.
- Eu... Eu estou mesmo aqui?
- Sim, está. - Seu sorriso se estica ainda mais e ela volta a encostar a cabeça no meu ombro. - Tomas. - Chamo sua atenção e Lara volta a encará-lo.
- O-o que?
- Sabe onde posso arrumar roupas para ela?
- Roupas?
- Sim.
- Ah... Duda ou... Amanda. Elas devem ter de sobra.
- Certo, vou ir vê-las depois.
  Eu me afasto um pouco dela e me levanto da cama... Minha camiseta ainda está um pouco com cheiro dos cigarros de ontem. Lara se senta na beira da cama e segura minha mão, tomando um impulso pra ficar em pé. Com as pernas trêmulas, quase cai de volta na cama.
- A gravidade... É diferente. Vai ser difícil pra eu me acostumar.
- Por enquanto, continue sentada.
- Tá bem.
- Eu vou ir tomar banho, não saia do quarto. Entendeu?
- Tá bom, não vou sair daqui. - Pego minhas coisas, saio do quarto e Tomas acaba vindo junto.
  No banheiro, seco meu cabelo com a toalha e Tomas ainda parece estar curioso sobre tudo isso.
- E então?
- O que?
- Quem é ela?
- Eu já te disse.
- E acha mesmo que vou acreditar naquilo?
- Por que não acredita?
- Isso não faz nenhum sentido. Acha mesmo que eu vou cair nessa? Agora que parei para reparar, você está pálido como ela.
- Ela está morta.
- Hã?
- É o que eu disse antes, ela é uma vampira.
- Ainda sinto que está mentindo para mim.
- Então vai ter dificuldades para aceitá-la de agora em diante.
- Deixa eu ver se entendi... Você invocou uma vampira na mesma noite que jogamos Ouija. Ela está sem nenhuma roupa além daquele vestido velho manchado de terra e vai ficar no NOSSO quarto?
- Você não tá completamente errado.
- Então, me prova. Me prova que ela é o que diz.
  Tiro o cabelo de cima do pescoço, onde havia cicatrizes e ainda a última mordida de Lara a mostra.
- Tá brincando... Isso é sério mesmo?
- Você vê as cicatrizes e a ferida ainda aberta. Não estou mentindo.
- Então ela é... Como vocês se conheceram?
- Essa é uma história longa. Preguiça.
- Quem é ela?
- Não importa.
- Cara, porra, é claro que importa. Se ela for ficar no mesmo quarto que eu.
- Está com medo?
- É claro que sim!
- O nome dela é Lara.
- Lara... Nome mais simples do que eu esperava.
- O que esperava?
- Que ela tivesse algum nome de vampiro ou algo assim.
- Um nome simples... Combina melhor com ela.
- Se você diz. Parece que são bem íntimos.
- Até demais. Enfim, se você quiser, digo para ela não chegar perto de você. Ela é obediente.
- Espero que seja mesmo... Não quero que ela me chupe de madrugada.
- ...?
- Digo! Meu pescoço! Não quero acordar com ela tomando meu sangue. Foi o que eu quis dizer.
- Isso não vai acontecer.
  Ouço passos do lado de fora do banheiro e um aluno entra... Ele para assim que nos vê de frente pra pia e eu me lembro desse cara, mas não do seu nome.
- Oh! E ae, galera.
- Deni. Cara, seus olhos tão mó vermelho. - É, esse é o seu nome. Daquela madrugada.
- Nem dormi, chapei a noite toda. Ainda sinto meu corpo tão leve quanto uma pena.
- Imagino. Devia pegar mais leve.
- Não cara, isso não é pra mim. E aí, Ethan. Ei, cara... Cê tá legal? É o efeito da minha maconha ou cê tá mais branco que cocaína mesmo?
  Tomas acaba achando graça disso e os dois começam a rir.
- É, eu tô legal. Isso não é nada.
- Da hora. Coragem tomar banho tão cedo. Cês dois são loucos.
- Eu tô acostumado, me ajuda a acordar.
- Pode crê. Aí... - Ele pega um cigarro de maconha do bolso e acende, entregando pra mim. - Aquela noite foi foda, né?
- Qual?
- A noite que a gente se conheceu, cara. Ah, cê tá ligado daquele dinheiro que tu nos deu pra comprar maconha?
- Uhum.
- Cara, aquilo tudo durou nem a noite toda...
- Eu sei, você todos pareciam sóbrios ainda. Enfim, aqui, Tomas. Eu vou me vestir e voltar pro quarto, ver como ela tá.
- Beleza. Vou ficar aqui mais um pouco.
- Aí, Ethan...
- O que?
- Eu tô muito louco?
- Ainda pergunta? Sua cara de nóia não engana ninguém. - Eles riem e eu volto para umas das cabines, pegando as roupas da mochila...









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