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  Volto para o quarto e coloco as sacolas em cima da cama, Tomas sentado ao lado de Amanda me olham preocupados com Lara deitada de bruços na minha cama. Me sento ao lado dela e ela se levanta, limpando os olhos dessa vez com lágrimas normais.
- O que houve com ela?
- Não sei. Ela simplesmente ficou irritada. Ela não disse nada desde que voltou?
- Não.
- Ou fez algo estranho?
- Não cara, ela só se jogou na cama.
- Hm. Vamos tomar banho, Lara.
  Ela não responde e nem reage, com o olhar perdido fixado na parede. Seguro sua mão e puxo ela pelo braço para fora da cama e ela se levanta. Pego a mochila e vou direto para o banheiro, dessa vez tem um aluno encostado na pia e ele acaba nos encarando, mas eu o ignoro, trancando a porta. Eu não sei muito bem o que houve com ela, mas ainda continua um pouco perdida... Me encarando com uma expressão neutra, seus olhos não estão brilhando como das outras vezes. Deixo a água escorrer entre nós.
- Lara? - Ela volta a me encarar.
- Hm?
- Está melhor?
- Eu não... Não sei. Eu só... - Abraço seu corpo gelado e a medida que meu pescoço está entre seus lábios, ela me morde. Fazendo força com seus braços ao meu redor, me apertando cada vez mais. Pegando mais sangue que o de costume. Alguns minutos se passam e ela tira suas presas do meu pescoço, abaixando a cabeça, evitando olhar para o meu rosto. - O que eu fiz?
- Nada.
- Então, por que estou chorando?
- Está doendo? - Seus olhos agora começam a sangrar e faz uma poça de sangue misturado com água no chão rapidamente.
- Não sei.
- Você perdeu o controle por um tempo.
- Acha que era por causa da fome?
- Pode ser. Você estava quase no limite, acabaria agindo por instinto. Você poderia até mesmo ter atacado Amanda ou Tomas. Eu não vou deixar isso acontecer de novo. Quando estiver com fome, você precisa me avisar.
- Me desculpa. Não vai acontecer de novo.
- Se isso acontecer de novo, sabe que pode acabar machucando alguém, não sabe?
- Eu sei.... mas eu não consigo entender... O que aconteceu, o jeito que aquela garota fazia eu me sentir... Me deu raiva.
- Você se irritou com ela pela presença estranha que ela te passava?
- Eu não sei. Eu estava com fome e com raiva... Eu não sei explicar.
- Enfim, não faça isso de novo.
- Mas e se eu não conseguir controlar?
- Me avisa se sentir o mesmo de hoje. Vamos terminar aqui e voltar logo para o quarto.
- Preciso lavar o cabelo?
- Não. - Seguro seu rosto com as duas mãos e ela foca o olhar nos meus. - Parece que você perdeu a vergonha de ficar nua na minha frente também.
  Ela volta a apertar seus braços ao meu redor com vergonha, abaixando a cabeça.
- Idiota...

  Quando voltamos para o quarto, Tomas e Amanda não estavam mais.
- Aah... - Lara tá usando uma das saias da cor alaranjada que compramos e uma blusa preta sem desenho algum. - Esqueci de colocar a calcinha e o... Aaah... como isso se chama mesmo?
- Sutiã.
- Isso.
  Parece que tudo voltou ao normal, exceto a falta de atenção dela. Pego um dos ratos da gaiola e deixo no terrario onde é capturado facilmente pela Aqua seguido de grunhidos vindo do rato.
- Agora que me lembro... Você não era tão desatenta desse jeito antes, como ficou assim?
- Eu sempre fui assim.
- Não. Você não era assim.
- É? - Acho que ela não vai voltar a ser a Lara que era antes. - Isso é um problema?
- Não. Quer ajuda com isso?
- Quero.
  Ela puxa de dentro da sacola um sutiã branco e ela tira a blusa que estava usando, me entrega o sutiã e fica de costas pra mim sentada na minha frente.
- Pronto.
  Quando termino de abotoar, Tomas entra no quarto no momento em que Lara estava sem blusa. Ele olha diretamente para ela e desvia o olhar. Lara parece não se importar mesmo sabendo que está com uma roupa intima a mostra, acho que ela não tem vergonha disso a menos que esteja nua...
- Tô atrapalhando?
- Não. Já terminamos.
  Ele entra no quarto com Amanda atrás de si e fecha a porta. Ela também fixa o olhar nela, mas não diz nada. Lara volta a colocar a blusa e se senta do meu lado na cama. Tomas parece melhor do que antes, as manchas do pescoço estão quase sumindo completamente.
- Então. - Tomas inicia um assunto. - Por que vocês dois não estão se falando?
- Como assim? - Deixo na gaiola dos ratos algumas comidas e por um tempo, só esses nove vão ter que bastar, até procriarem, pelo menos.
- Aconteceu algo, não aconteceu?
- Não que eu saiba. Só não tenho nenhum assunto para falar com vocês dois.
- Nenhum remorso?
- Do que você tá falando exatamente, Tomas?
- Vocês não brigaram? - Eu olho para Amanda.
- Brigamos?
- Não.
- Então por que ele tá dizendo isso?
- Acho que... Ele entendeu tudo errado o que eu disse pra ele.
- Foi o que pensei.
  Tomas se cala, ficando sem criatividade para acrescentar sua desconfiança.
- Ei, ei. - Lara chama minha atenção.
- Hm?
- Vai me ensinar a escrever agora?
- Não. Melhor começar pelas vogais e abecedário. Já que você não conhece nenhuma letra do nosso idioma.
- Tá bom.
- Como assim? - Tomas pergunta.
- Descobri recentemente que Lara não sabe muita coisa da nossa lingua.
- Mas ela fala nossa lingua.
- É, mas é só porque ela está acostumada a isso, mas nunca leu, nem escreveu nada.
- Complicado e confuso.
- Nem tanto. Ela sabendo falar, já facilita bastante as coisas.
- Como uma criança no fundamental.
- Então... Vou escrever as letras no papel e dizer o som de cada uma delas. Quando você aprender o som de cada uma, vou te ensinar sílabas, acentos e depois formar palavras. Entendeu?
- Sim.
- Não sabia que tu era tão inteligente, Ethan. - Diz Amanda.
- Não sou.
  Lara me entrega o caderno, o lápis e então começo a escrever as letras do alfabeto em ordem.

  06:35 PM. Lara conseguiu entender o som de cada letra e como as sílabas devem ser separadas, faladas, escritas e lidas sem nenhuma dificuldade, sem que eu precisasse repetir algo. O avogal ajudou de certa forma. A formação de palavras agora está indo bem. Ela disse que aprenderia fácil e até agora está indo melhor do que eu esperava.
- Certo...
- Terminamos?
- Não. Agora, escreva uma frase.
- Algum específico?
- Crie uma.
- Hm... Ah! Já sei. - Enquanto Lara escreve, falo com Luce por mensagem, Amanda e Tomas estão fumando maconha quietos ao lado. - Pronto.
  Pego o caderno da sua mão e a escrita dela também é bem feita. "Existir é o bastante para pessoas que não podem viver." Nenhum erro de escrita.
- O que essa frase significa pra você?
- Bom... É como eu sou, não é?
- Você é o que você quer ser. Não se limita a uma frase como essa.
- Então, se esse é o caso... Ainda não sei o que quero ser. Isso é o suficiente por enquanto, né?
- Se você acha, então não vou discordar.
- Mas... O idioma daqui é bem diferente do que eu usava antes.
- Achou difícil?
- Não, mas eu gostei de aprender isso.
- Entendi. Vamos continuar amanhã, acho que tá bom por hoje.
- Eu ainda posso continuar.
- Continuamos amanhã.
- Por que?
- Porque eu não quero mais.
- Existe outros idiomas?
- Sim, existe.
- Sério? Quais?
- Como eu já disse, por hoje já deu.
- Aah...






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