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  06:03 AM. Eu acabo de acordar com a cabeça doendo e com o batimento cardíaco acelerado. O dia ainda está fresco, mas a claridade do sol já está bem irritante. Mal consigo mexer minhas mãos, mas eu preciso tomar o remédio antes que piore. Me sento na cama e instantâneamente sinto minha cabeça se revirar, Tomas ainda não está no quarto e eu ainda estou com sono. Eu me forço a pegar o remédio de dentro da mochila e assim que engulo a pilula, minha respiração começa a se estabilizar de novo. Eu ainda estou com tanto sono... Foi por aquele gatilho de Lara que estou tão sonolento agora... Poderia simplesmente voltar a deitar na cama e dormir e é exatamente isso que eu faço. Tiro a carteira de cigarro e o isqueiro do bolso da calça e coloco em cima da mesa. Me deito virado para a parede tentando me esconder da luz que entra pela janela e não demora muito até eu voltar a dormir.

- Ei, cara. Acorda.
  Sinto alguém balançar meu ombro e vejo Tomas. Pego o celular e agora é 11:46 da manhã. Volto a encostar minha cabeça no travesseiro, mas não durmo.
- ...
- Conseguiu dormir.
- É.
- Dormiu por quantas horas?
- Não sei.
- Isso é bom.
- Hm. - Me sento na cama e minha cabeça ainda dói, mas fora isso, tudo deve ter voltado ao normal.
- Como você tá?
- Com fome.
- Você não comeu o que trouxe para você ontem?
- Não.
  Pego de cima da mesa e desenrolo do papel o pedaço de bolo e alguns salgados pequenos sobre um pequeno prato de plástico.
- De onde os alunos tiraram tanto dinheiro para fazer tudo isso?
- Aqui tem alunos que vieram de uma família muito boa de grana. Os pais jogam eles aqui simplesmente para não ficarem estressados pelo filho deles serem uns merdas sem futuro ou estão pouco se fudendo para a educação deles. E também têm idiotas que querem ficar nesse lugar. Muito irônico.
- Hm...
  Bolo de chocolate com pouca cobertura e confetes coloridos. Nunca gostei muito de bolo, mas eu poderia comer qualquer coisa agora.
- Acredita nisso?
- O que?
  Mordo um pedaço e o coloco de volta no prato... Não consigo sentir o gosto. Completamente sem gosto algum.
- Esses idiotas que tem grana e ainda assim... preferem ficar em um lugar como esse. - Ele solta uma risada sarcástica.
- Este lugar não tem muitas regras. Perfeito para vagabundos fazer o que quer.
- Isso é verdade.
- Mas mesmo assim, você não é obrigado a ficar aqui. Então por que não sai?
- E para onde iria? Se eu aparecer na frente dos meus pais, eles vão me mandar para cá de novo ou talvez para um lugar até pior.
- Não acho que seriam idiotas o bastante para te mandar para cá de novo, caso fugisse.
- Pior que são.
- Então, onde você tava noite passada?
- Tava com a Tracy no quarto dela. Também não fui pra aula hoje. Inclusive, só acordei agora porque ela tinha acordado antes e me acordou junto.
- Entendi. Aquela garota parecia estar bem animada. - Ele desvia o olhar para a janela aberta.
- Quem?
- Essa tal de Tracy.
- É mesmo?
- Uhum...
- Entendi. Então, quer saber dos detalhes do que aconteceu essa noite?
- Não.
- Ah, qualé. Eu preciso compartilhar isso contigo.
- Então fala, Tomas.
- Bom, já que tá interessado, eu vou te contar.
- ...
- Foi legal. Um pouco inesperado, confesso. Mas ela é uma boa garota.
- Se você diz. - Quando volto a perceber, já havia comido o pedaço de bolo e os salgados e sinto que isso não fez nada no meu estômago. - Então, qual o motivo dela gostar de você?
- Como você sabe que ela gosta de mim?
- Eu percebi. Eu falei um pouco com a amiga dela, Amanda. Eu vi o jeito que ela reagia quando mencionei o seu nome ou coisas ligadas a você. Não sei porque, mas tem algo nela que me intriga.
- Será que é porque ela gosta de mim?
- Não. É algo mais... pesado, talvez.
- Deve ser só coincidência.
- É, deve ser.
- Bom, a um tempo atrás, tinham alguns idiotas zuando ela por ela ser desse jeito. Ela estava assustada quando a encontrei pela primeira vez e ela não sabia o que fazer. E então... eu meti um soco no rosto de um desses merdas que estavam provocando ela e aí a gente começou a brigar. Como o esperado, eu levei uma surra.
- ...
- Inclusive, foram os mesmos caras que me bateram ontem na festa. Desde então, ela tem sentido isso por mim.
- E você? Sente o mesmo por ela?
- Não sei. Eu espero que sim. - Ele sorri. - Digo... ela é uma boa garota. Não sei do seu passado, nem pelo que ela passou e nem sei o porquê dela estar aqui ou o motivo de ser tão tímida, mas sei que ela é uma boa garota. Talvez eu não seja bom o bastante pra ela.
- Hm...
- Vai para a próxima aula?
- Acho que sim. Vai ser qual matéria?
- Física.
- Uma boa matéria pra lidar com enxaqueca e toda merda que tô sentindo.
- Né.
- Amanda é da nossa sala, mas e ela?
- Ela é da sala ao lado. Da turma D.
- Ah.
- Acho que estamos namorando ou ficando. Não sei.
- Sua expressão mudou. - Sussurro.
- Hã?
- Deixa pra lá.

  12:30 PM. Hora do almoço. Vamos para o refeitório e toda aquela sujeira da noite passada foi limpa antes de amanhecer, pelo visto. Tomas foi se sentar junto com aquela garota, então eu decidi ficar na minha. Ele me olha ao longe e aponta o dedo em minha direção sem que ela veja, aceno com a mão em sinal de "tanto faz" e ele volta a prestar atenção nela.
- Então... Abandonado também, é? - Amanda aprece alguns segundos depois, jogando a bandeja com comida na mesa e se sentando na cadeira de frente pra mim, parecendo animada. - Não se importa se eu me sentar aqui, não é? 
- Não.
  Ela está com esse sorriso no rosto... mas por que?
- Você parece péssimo.
- E essa galera fazendo barulho não tá colaborando.
  Agora que vejo as pontas roxas no seu cabelo, usando algumas pulseiras de bandas, uma calça jeans rasgada e uma blusa toda preta com algum símbolo estampado na frente que não reconheço.
- Você também não parece muito bem.
- Eu estou muito bem. - Ela força ainda mais o sorriso... - Agora que notei, seus olhos são da mesma cor que os meus.
- Por enquanto.
- Como assim?
- Nada.







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