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- Ah, Luce. - Carla se levanta e vem até nós. - É um prazer em fim conhecê-la.
- O prazer é meu. Já estava ansiosa pra conhecê-la.
- Vem, vamos comer. A janta está pronta. Luce, esse é Taylor, um amigo do trabalho. - Taylor se levanta e cumprimenta ela com um aperto de mão também.
- Oi.
- Oi.
Um sussurro agudo começa a chamar minha atenção, vindo de vários lugares repetidamente, fazendo a voz dos três na mesa desaparecer.
- Olhe para ele.
- Olhe.
- Quem é ele? - Os sussurros se tornam risadas e o tom de suas vozes aumentam.
- Não se esqueça.
- Isso não é pra sempre.
- Confie.
- Confie nos instintos.
- Os Deuses estão mortos.
- E ninguém se importou com isso.
- Você não merece o dom que recebeu!
- Amor? - Luce chama a minha atenção e as vozes se calam com isso, enquanto Carla ainda conversa com Taylor, apenas Luce percebeu. - Você tá bem?
- Eu acho que sim.
- Tem certeza?
- É só aquelas vozes que eu tinha te falado antes.
- Ainda estão incomodando?
- Pararam agora. - Ela sorri e aperta minha mão mais forte.
- Que bom...

08:41 PM. Passamos um bom tempo conversando e agora estou ajudando Carla a tirar as coisas da mesa. Taylor foi embora e Luce agora me espera no quarto.
- Amanhã vou até o terminal com Luce.
- Tudo bem.
- E então?
- Hm?
- Qual é daquele cara? Vocês estão-
- Não. Só amizade mesmo.
- Entendo.
- Pelo jeito que ele me trata e me olha às vezes, sinto que ele quer algo a mais... Mas, eu não sei se estou preparada para algo novo agora.
- Caso ele tente forçar algo contra sua vontade, é só me dizer.
- Por que?
- Ele esconde mais coisas do que parece. Não vou deixar que ele faça algo com você.
- Mesmo eu sabendo que é capaz de lidar com isso, não me sinto bem em deixar essa responsabilidade sobre os seus ombros, mas eu vou te contar caso algo aconteça. Obrigada por lavar a louça. Vai ficar com Luce enquanto termino de arrumar as coisas aqui. - Ela segura meus ombros e olha nos meu olhos expressando preocupação, amor, tristeza e remorso. Sinto que não devo me intrometer e deixo as coisas assim mesmo, do jeito que ela quer.
- Certo. Se precisar de algo, é só chamar.
Priorizo o seu espaço e prefiro não tocar mais no assunto a menos que ela decida o contrário. Volto para o quarto, me sento ao lado de Luce na cama e ela me olha preocupada.
- As vozes voltaram?
- Não.
- Ainda parece um pouco abalado.
- É?
- Uhum. Tem certeza que tá bem?
- Sim, Luce. Pelo menos, eu me sinto normal.
- Tá bom, mas eu vou estar aqui. Tá? Para o que você quiser. - Quando ela termina de dizer isso, ela me abraça tão forte que faz eu sentir seus braços tremerem. - Eu passei tempo o bastante com você a ponto de saber quando tem algo errado, então não esconda nada de mim.
- Aquelas vozes vêm em momentos aleatórios e dizem coisas aleatórias que não se encaixam.
- E são tão chamativas a ponto de te fazer perder a concentração?
- Na maioria das vezes, mas está tudo quieto agora. - Abro o portal para o mundo dos sonhos que brilha na nossa frente. - Vamos?
Ela afirma com a cabeça e entramos no mesmo e velho paraíso. Faço a gigante árvore caída no chão voltar a vida, cada pedaço do tronco se reconstrói até ficar de pé como era e não consigo imaginar o que poderia ter derrubado isso. Faço com que o céu fique escuro em uma tonalidade de roxo e preto de uma ponta a outra, Luce para na beira do morro e olha para o lugar onde estava a antiga cidade destruida. Priscila saí da floresta atrás de mim e se aproxima comendo algumas uvas.
- Descobriu algo a mais de seus poderes?
- Não. Eu só estive praticando aquilo que tinha me ensinado. Eu consigo controlar a luz do sol agora como eu quiser.
- Consegue fazer o mesmo com a lua?
- Foi um pouco difícil, mas sim. Eu consigo.
- Vai aprender algo mais difícil dessa vez. Onde tá o garoto? - Luce volta até mim e passa a prestar atenção no que estamos conversando.
- Ele está comendo. Descobri que tem bastante frutas deliciosas entre as árvores.
- Enfim. Luce, o que quer fazer?
- Eu quero voar como da última vez.
Faço o mesmo par de asas aparecer em suas costas e com total controle sobre elas, ela se levanta do chão.
- Vamos começar então. - Ela fica receosa de repente e apenas movimenta a cabeça em afirmação.

A noite aqui no mundo dos sonhos já sumiu e agora o brilho da manhã ocupa o céu em cima de nós. Há sangue de Priscila espalhado pelo gramado e agora está tão cansada de ter esforçado tanto seu corpo quanto sua mente ao limite. Mas como resultado, ela consegue curar feridas pequenas deixadas em seu corpo agora.
- Vamos para a segunda parte agora.
- Segunda?
- Eu quero que regenere um membro decepado agora.
- O que? Mas... Eu já estou no meu limite. Não vou conseguir fazer isso.
- Se esforce. Ainda não entendeu? Eu quero que supere seus limites e continue evoluindo. Se eu ver que realmente não consegue, eu falarei pra você parar.
- Está bem... - Após ela se sentar no gramado, com a força do vento, eu arranco seu braço direito sem muita enrolação. Uma grande quatidade de sangue cai e o resto do seu corpo começa a tremer, sem falar nada, seu rosto expressa apenas dor.
- Está doendo como antes? Ou a dor está mais fraca?
- A dor... diminuiu um pouco, mas ainda dói pra caralho.
- Se lembra do que eu havia explicado? Faça aquele procedimento antes de desmaiar por falta de sangue.
- Certo. Focar na dor... e na região que eu quero restaurar. Focar nos formatos dos meus... dedos, no formato da mão, do meu braço e na minha pele. Lembrar da textura da minha carne... dos ossos, nervos e músculos.
- Multiplique as células que serão criadas neste braço.
Ela passa a se concentrar mais, acalmando sua respiração e o batimento cardíaco. Uma estrutura óssea começa a aparecer na região sem o braço. A formação dos ossos dos dedos são criados e assim o resto continua a partir deste procedimento. Os ossos dos seus cinco dedos, sua mão, ante-braço e por fim o braço ligado ao ombro.
- E agora... os nervos. - Os nervos são espalhados pelo seus ossos em construção rapidamente. Ela ligou os pontos corretamente, mas de forma aleatória. Isso não vai efetar sua coordenação, então não tem problema. - Agora os músculos.
- Não se esqueça de ligar os músculos com seu ombro, o fluxo de sangue precisa percorrer pelo seu braço.
- Já posso fazer isso só com os músculos?
- Sim.
De seu ombro começa a ser criado... O fluxo do sangue é interrompido pela lentidão em que ela faz a carne. Quando termina de completar o ante-braço, de seu pulso começa a pingar sangue dando o resultado positivo que eu estava esperando. Por fim, ela termina a mão e os dedos. Ela abre os olhos, prestando atenção em mim.
- O que mais... falta?
- As camadas de pele. Consegue colocar tudo de uma vez só?
- Eu posso tentar.
- Movimente o seu braço. Se ver que está sentindo algo fora de ordem, deixamos pra terminar na próxima vez. - Ela movimenta o braço para frente e para trás, abre e fecha os dedos. A primeira vista, parece estar tudo normal.
- Não sinto nada diferente. Somente dor.
- Agora a parte mais fácil, mas não menos importante. Se lembra por qual camada começa?
- A... hipoderme. Não é?
- Exato. Essa parte em específico é constituída por células adiposas, fibras de colágeno e vasos sanguíneos.
- Eu me lembro.
Assim que essa etapa é concluida, ela passa a sentir ainda mais dor com essa pele sensível ao ar. Sangue e pus começam a ser expelidos pelos vasos sanguíneos.
- A segunda parte agora.
- Eu... Eu preciso de uma pausa.
- Precisa terminar agora. A segunda camada vai diminuir sua dor.
- ...
Por mais que esteja exausta, ela faz isso o mais rápido possivel para fazer a dor parar. Enquanto ela cria a segunda camada, eu faço a sujeira escorrida por seu braço desaparecer até chegar os dedos sem causar nenhuma infeção.
- Você está diminuindo seu ritmo.
- Já estamos acabando?
- Quase. Se conseguir concluir isso, irá conseguir reconstruir qualquer parte do seu corpo.
- Do que mesmo... A superfície da pele é... formada?
- Por epitélio estratificado queratinizado e avascularizada. Se lembra como são?
- Sim... Eu... Eu acho que sim.
Após uns minutos depois de ter terminado tudo, ela fica deitada recuperando um pouco das energias que perdeu. Eu acordo Luce que estava dormindo de baixo da sombra da árvore e ela me olha com cara de cansada.
- Já vamos voltar?
- Já terminei o que tinha que fazer. Vamos. - Ela fica de pé ao meu lado e Priscila vem até mim. Se curvando a minha frente em reverência. - Já conversamos sobre isso.
- Me desculpe...
- E o braço?
- Está funcionando normalmente.
- Certo. Já recuperei suas energias, então é bom que descanse e pratique o que aprendeu até eu voltar.
- Entendido...










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