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  Falta pouco pra sete da noite quando Tomas sai do quarto e eu volto a ficar sozinho. Deitado na cama, ouvindo música enquanto o celular carrega sem muito o que fazer agora. Terminei de arrumar as minhas coisas e daqui a pouco eu devo pegar no sono. Eu espero.
- CORTE. - Merda...
- VOCÊ VÊ?
- UMA TEMPESTADE.
- ONDE ESTÁ?
- ACORDE.
- ACORDE...
- QUE LUGAR É ESTE?
- ESTÁ FALTANDO ALGO.
- JÁ PASSOU DA HORA DE VOCÊ FAZER O QUE PEDIMOS.
- VAMOS, GAROTO.
- VAMOS.
  "Faça isso, faça aquilo". Sempre vai ter malditas vozes dizendo o que eu tenho que fazer...
- SIM.
- NOS ESCUTE.
- ATÉ QUANDO VAI FICAR SEM FAZER NADA?
- OS DEUSES ESTÃO CHEGANDO.
- ELES ESTÃO VINDO!
- HAHAHA.
- OUÇA ISSO DENTRO DE TODOS OS DETALHES.
- CONTRA A SUA ALMA.
- GAROTO.
- TUDO BEM TER MEDO.
  Medo? Abro os olhos e estou preso no abismo, meus pulsos acorrentados mais uma vez em um sistema sem regras. Pego uma flor que estava jogada no meio da estrada, a mesma flor ao lado do jarro quebrado junto com várias outras, mas a cor dessa vez é marrom escuro e está cheia de espinhos. Escorre sangue do meu dedo, mas mesmo assim não sinto a dor me incomodar de forma alguma. É inegável ter esse desejo de jogar essa flor no abismo e assim faço, desaparecendo em meio a escuridão e então eu pulo. Caindo no meio do escuro, paro em cima do abismo mais uma vez. Dessa vez, a garota ruiva do topo daquele prédio está aqui. Por que? Ela se vira para mim, parecendo supresa.
- O que eu estou fazendo aqui? - Ela pergunta, sem expressar medo no olhar... Aquela flor era ela? Por que está aqui?
- Eu não sei.
- Ei, eu lembro de você.
- É, eu também lembro de você.
- Por que estamos aqui?
- Não sei.
- Por que tá acorrentado?
- Por que você tá acorrentada? - Ela olha para os pulsos e só então percebe isso.
- Aah, droga.
  Eu me aproximo dela, cada vez mais enquanto ela dá uns passos para trás até parar na ponta do abismo.
- Por que está se afastando?
- É intimidador.
- Quer sair daqui?
- Aah... Poderia se afastar?
  Encosto minha mão entre os seus seios e empurro ela um pouco mais.
- Ei?! O-o que tá fazendo? - Empurro ela de uma vez no abismo, fazendo ela cair no meio do escuro enquanto grita. Chego do outro lado e a encontro no chão, transformada naquela flor marrom, novamente.
- Ela era mesmo aquela flor, afinal...
  Pego ela da ponta do abismo e a jogo, como não há pressão de ar no vácuo deste abismo, a flor cai rapidamente. Eu me jogo logo depois. Se ela era aquela flor marrom, então talvez as outras de outras cores também fossem pessoas que eu conhecia? Talvez eu esteja viajando demais... Chego no outro abismo e dessa vez ela estava em pé, perdida. Hm... Estou tentando acompanhar isso, mas não consigo entender como funciona. Nada parece fazer sentido. Ela me vê logo atrás dela e se enfurece de repente.
- Por que você me empurrou?!
- Queria testar algo.
- Mas precisava mesmo fazer aquilo?
- Por que tá reclamando? Você está bem.
- É verdade... Por que voltamos ao mesmo lugar?
- É isso que eu quero saber.
  Então, só eu e Lara não somos afetados pela queda deste vácuo. É como se fossem duas realidades reversas entre um abismo e o outro. Coisas diferentes acontecem mesmo assim, sem precisar de uma razão aparente. Não consigo fazer o que quiser enquanto estou nesse lugar, diferente de quando estou naquele lugar paradisíaco. Poderia ter alguém controlando este lugar? Ou talvez tudo isso faça parte da minha mente... Talvez eu só esteja procurando motivos para algo que não precisa. De qualquer forma, nada disso importa agora.
- Pula de novo.
- Hã? Eu não vou fazer isso.
- Quer ficar presa aqui?
- Mas eu não sei o que vai acontecer se eu me jogar.
- Você pulou antes e continuou da mesma forma.
- Bom, é...
- Pula.
- Não.
- Eu vou te empurrar de novo.
- Não, vai não. Espera aí... - Ela olha para a estrada. - O que é aquilo? - Ela corre para a estrada e pega uma das flores que estava jogada ao lado do jarro brilhando por conta da luz refletindo nele. - Tem várias flores aqui. Flores estranhas...
- Estou indo antes de você.
- Ei! Me espera.
  Pulo novamente neste vácuo e quando chego no próximo abismo, a flor marrom e uma flor verde escuro que ela estava segurando caem juntas. A flor verde não se transformou em alguém, diferente dela. Então não é mesmo com todas que isso acontece. Hm, posso usar ela como cobaia pra tentar entender isso melhor. Não consigo aceitar que nada disso faça sentido...



The plans of DestinyOnde histórias criam vida. Descubra agora