Lara sai do balanço e vem até nós, entrelaçando seus dedos aos meus.
- Já vamos embora?
- Não. Vamos ficar mais um pouco. Está com sono?
- Não, mas estou ficando com fome.
- Fome? Você fica com fome bem rápido. - Lara a encara.
- Dessa vez não é "fome". - Lara responde fazendo gestos de aspas com os dedos. Isso que ela acabou aprendendo comigo.
- Aah... Eu tinha me esquecido disso.
- Sugere alguma bebida?
- Algo mais forte seria bom.
- Tem certeza? Não quero ver você passando mal.
- É claro que não quer, mas vai. - Ela sorri.
- Um tanto teimosa.
- Isso nós temos em comum.
- Infelizmente.06:01 PM. Após Lara ter bebido um pouco com a gente, ela acabou dormindo. As nuvens no fim do horizonte está rosa quase escurecendo. Enquanto Lara dorme sem ser pertubada no banco, eu e Luce estamos sentados no gramado, logo atrás dela de baixo de uma árvore. As luzes ainda não foram acesas e não vai demorar até que isso aconteça. Ela começa a cantar perfeitamente um trecho da música de Amy Winehouse - Wake Up Alone. Sua voz em sincronia com a dela sai ainda mais melancólica seguido com um bom shot.
- Eu adoro essa música. - Ela diz. Com o passar do tempo, eu me deixei ficar um pouco bêbado para entrar no mesmo clima de Luce, o que tem valido a pena até agora. - Você ainda vai voltar pra faculdade hoje?
- Sim. - Ela me olha, levantando a cabeça do meu ombro.
- Por que não dorme na minha casa? Está tarde para vocês voltarem.
A música para de tocar e o celular começa a vibrar com uma ligação de Tracy. Ela volta a deitar a cabeça no meu ombro e atendo a chamada.
- Ethan?! - Ela diz desesperada. - Não volte para a academia hoje. Entendeu? - Ouço barulho de sirene no fundo, várias sirenes e pelo visto, com o meu silêncio, ela voltou a se acalmar.
- O que aconteceu? - Sua voz falha do outro lado e mais uma vez a chamada acaba caindo.
- Será que aconteceu alguma coisa?
- Definitivamente aconteceu alguma coisa. Para ela ter falado algo como isso, não deve ser qualquer besteira. Acho que não vou voltar para a faculdade hoje.
- Isso quer dizer que você vai ficar na minha casa.
- Você tem certeza?
- Você não tem outro lugar pra ficar. Já ela, tudo bem. Porque ela pode ficar dentro da sua cabeça, mas você não consegue fazer isso.
- Na verdade, eu consigo. - Ela faz careta para mim. - Tá legal. Vou fazer Lara voltar para dentro. - Me levanto do gramado e vou até onde Lara está, me agacho na sua frente e levanto sua cabeça fazendo ela acordar. - Lara.
- Ham? Já é hora?
- Sim. Você vai ter que voltar para o mundo dos sonhos, tudo bem? - Encosto minha testa na sua e ela fecha os olhos.
- Tudo bem, querido. - Ela encosta sua mão no meu rosto e desaparece em seguida. As poucas pessoas que tem por aqui estão longe o bastante para não terem percebido isso. Volto para o gramado e Luce me entrega a garrafa.
- Isso parece mágica.
- Isso é só o começo da quantidade de coisas que essa garota pode fazer. - Ela toma mais um gole e me dá um beijo em seguida, molhado e forte em álcool, ficando assim por alguns segundos com a intenção de me provocar ainda mais.
- Agora estamos sozinhos.
- Aqui não é lugar pra isso.
- Eu sei. - As luzes dos postes da praça se acendem, clareando tudo. - Aah, droga. - Reclamando dos postes que estragaram as expectativas dela, ela se levanta tirando as folhas grudadas na calça. - Acabaram com a nossa diversão. Vamos andar um pouco. Ficar sentada aqui vai me deixar deprimida. - Eu me levanto, viro a garrafa na boca e ela entrelaça seus braços ao redor do meu pescoço. - Então... Tem planos pra essa noite?
- Hoje os meus planos são todos seus.
- Eu gosto disso. - Ela me dá outro beijo e aperto sua bunda com a única mão livre. O tecido da calça impede que eu sinta a maciez de sua pele, mas com a força que fiz, ela deve ter sentido. - Tem alguém olhando? - Passo a olhar atrás dela e algumas pessoas que estavam olhando disfarçam assim que eu as encaro.
- Eles parecem estar curtindo o show.
Ela dá umas risadas, soltando seus braços ao redor de mim e segura minha mão. Pauso a música do celular e caminhamos em direção aos balanços, os mesmos em que Lara estava. Nos sentamos ao lado um do outro e começamos a balançar devagar. Enquanto tomo mais um pouco e agora, a bebida já está quase acabando...
- Então, onde você tá morando agora?
- Num apartamento em um prédio no centro.
- Não é longe daqui.
- É bem perto. - Dou a garrafa pra ela e ela para de balançar. - Podemos ficar mais um pouco.
- Está morando com seus pais?
- Não. Meu pai sabe da merda que iria dar se eu morasse junto com a minha mãe de novo, então ele mesmo levou minhas roupas para o apartamento e estou morando lá sozinha agora.
- Entendo.
- Eu me sinto meio mal com isso. Eu sei que minha familia é rica, mas eu não gosto de abusar do dinheiro do meu pai. E saber que meu pai está me pagando um apartamento, me deixa bem incomodada.
- Apesar de não ter muita escolha.
- Pois é. Eu já combinei com ele de que assim que eu começar a trabalhar, eu mesma vou pagar o aluguel.
- Veja por um lado bom, não vai ter ninguém te incomodando o tempo todo.
- Eu gostaria que você viesse morar comigo. Eu já pensei tempo demais sozinha... É bem solitário.
- Eu não posso morar com você.
- Por causa da faculdade, eu sei. Mas e quando terminar?
- Aí com certeza será diferente.
- Certo. Inclusive, eu já contei de você para o meu pai.
- E o que ele disse?
- Bom... Ele não gostou muito. O que era de se esperar. Mas ele me disse que para você conseguir "permissão" pra ficar comigo, você tem que se mostrar mais inteligente que ele. Vencendo uma partida de xadrez.
- Por que xadrez?
- Ah, ele é bem competitivo. E desde sua infância, ele sempre ficou em primeiro nos torneios de xadrez que já competiu.
- E ele já perdeu alguma vez?
- Não. Tem outra opção, ele disse.
- Por mim tudo bem ser xadrez.
- Tem certeza?
- Xadrez é simples pra mim, mesmo entre outros Deuses, quando se trata de estratégia, eu sei bem o que fazer.
- Então vai ser moleza.
- Mas qual seria a outra opção?
- Boxe...
- Seu pai é forte?
- Nem pense nele como um oponente. Você tá completamente em outro nível.
- Parece que ele gosta de esportes.
- E vai ter que se acostumar com isso. Sempre que ele perde em alguma coisa, ele vai ficar enchendo saco até que um dia ele consiga te vencer.
- É, isso é bem chato.
- Não precisa esquentar com isso. Vocês não vão se conhecer tão cedo.07:39 PM. Ela vira o que restava na garrafa e força com que a bebida não saia de novo.
- Você tá bem?
- Estou. Só... preciso esperar com que desça por completo.
- Vamos embora.
- Ah, sim, vamos. - Me levanto do balanço e percebo que estou muito bêbado, ela se levanta tonta também, quase caindo para o lado, mas recupera o equilíbrio se apoiando em mim.
- Você aguentou bem.
- Né. Deve ser porque fiquei muito tempo sem beber. - Seguro sua mão e saimos da areia. Ela joga a garrafa no lixo, mas acaba errando, espalhando cacos de vidro por toda parte. - Será que alguém viu isso?
- Vamo sair logo daqui. - Ela ri e aperta meu braço enquanto caminhamos para fora da praça.
- Vamos beber mais?
- Não. Por hoje é o bastante.
- Eu tô ficando com fome. Vamos ter que comprar algo no restaurante do hotel.
Atravessamos o semáforo e adentramos uma rua escura.
- Lembra como volta para casa?
- Lembro... A bebida ainda não atingiu minhas memórias.
- Bom.
- Não acha que hoje escureceu mais rápido?
- É verdade. - Meu celular volta a vibrar. Dessa vez era ligação de Carla. Continuamos andando pela rua escura e Luce fica em silêncio. - Carla.
- Ah, Ethan... Graças a Deus. - Seu tom de preocupada não deixa escapar que algo deve ter acontecido e já consigo imaginar o que pode ter sido. - Que bom que está bem. Me ligaram da faculdade e disseram que não te encontraram lá. Onde você tá?
- Aqui na outra cidade.
- O que tá fazendo aí?
- Vim visitar minha mãe.
- Estou indo te buscar.
- Não precisa. Vou passar a noite na casa de uma pessoa.
- Quem?
- A namorada dele. - Diz Luce alto o bastante para ser ouvida da rua toda e Carla parece ter perdido as palavras.
- Enfim, você a ouviu.
- Certo... Tudo bem. - Gosto quando ela não questiona certas coisas e simplesmente aceita.
- Mas você pode vir me buscar amanhã.
- Ela ainda mora naquele mesmo lugar?
- Não, ela está morando pra cá agora. Te mando a localização do GPS depois.
- Tá bom. Vou ir te buscar amanhã às quatro da tarde. Pode ser?
- Quando achar melhor.
- Fiquei tão preocupada, deixa eu falar com essa garota.
Passo o celular para ela e ela me olha, aproximando o celular na orelha. Não presto atenção no que Carla está dizendo, mas pela expressão de Luce deve ser algo desnecessário.
- Certo. Tudo bem. - Ela termina e me entrega o celular de volta.
- Então, o que aconteceu na faculdade? - Pergunto.
- Não sei. Não disseram muita coisa. Parece que não vai funcionar por um tempo.
- Entendi.
- Então, você está bem?
- Sim. Creio que sim.
- Certo. Preciso desligar. Amanhã eu estarei aí.
- Tá.
- Se cuida. - Ela encerra a chamada e volto a guardar o celular no bolso.
Viramos a esquina e agora entramos numa rua mais clara, com algumas lojas fechadas e outras ainda abertas.
- Então, quem era?
- Minha tia. Ela é quem estava cuidando de mim e de Lara desde que saímos da escola.
- Parece ser uma boa pessoa. Pelo jeito que você trata ela.
- O que ela te disse?
- Disse para eu cuidar de você e não te deixar fazer nada imprudente.
- "Fazer nada imprudente"...
- Engraçado. Acho que ela não te conhece tão bem assim.
- Ela não sabe muito sobre mim.
- E quanto pretende contar?
- Algum dia.
- Hm... Bem, chegamos. É naquele prédio. - Ela aponta com o dedo para o outro lado da rua.
- É um dos maiores e mais fomosos que existe na cidade. Em qual andar?
- Trigésimo quarto. Eu ficaria em um que fica no topo porque a vista de lá é incrível. Mas está todo oculpado. Esse era o único quarto mais alto livre.
Nós entramos no prédio e sigo ela até a recepção. O primeiro andar é cheio de pessoas e ainda mais ao fundo tem um parque para as crianças brincarem. Assim que ela pega a chave do seu quarto, nós seguimos até o elevador, onde subimos até o andar do seu apartamento.
- Mesmo não sendo o topo, aqui já é bem alto.
- Pela sacada, vai ver que não é tão alto assim. Mas pelo menos, os vizinhos não fazem tanto barulho.
Assim que ela destranca a porta, um cachorro pequeno e peludo pula em cima de suas pernas e ela o carrega nos braços. As luzes já estavam ligadas quando chegamos e a sala é bem grande, do outro da porta de entrada tem uma porta de vidro que leva para uma sacada, ao lado tem dois quartos, o banheiro e a cozinha. Aqui na sala, há sofás, uma mesa entre a tv e um tapete, fora um pequeno armário, tudo parecendo ser do próprio hotel. Sigo Luce até o seu quarto e me sento na sua cama.
- É um bom lugar. - Ela deixa o cachorro em cima da cama e ele vem até mim.
- É sim. Apesar de ser meio grande pra uma pessoa só. Vamos ver se encontramos algo pra comer.
Após procurar um pouco pela geladeira, acaba ficando decepcionada por não encontrar nada além de água. Ela liga pra recepção e pede um bolo de chocolate completo e uma garrafa de vinho.
- Vai chegar daqui a dez minutos. Vamos tomar banho enquanto isso?
- Seria bom.
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The plans of Destiny
General FictionQuerido leitor, essa história que estão para ler vai muito além de apenas um drama adolescente - quando vimos que a natureza de sua alma fazia seu corpo humano fraco ser tão defeituoso a ponto de precisar de medicamentos para continuar vivo, pelo me...