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02:45 AM. Ainda sem sono. A casa está quieta e a minha cabeça bagunçada mais uma vez.
- Apesar de já estar acostumado a isso.
- Lara...
- Oi.
- Se sentindo sozinha?
- Não. Claro que não.
- Certeza?
Ela fica em silêncio e volta a aparecer aqui no quarto, mas dessa vez, deitada ao meu lado olhando pra mim. Parece que ela está toda machucada de novo, mesmo não dando pra ver isso claramente.
- Esteve lá de novo. - Ela abaixa a cabeça e agarra o tecido da minha camiseta.
- É sempre tão... doloroso. - Ela começa a chorar e decido deixá-la assim por alguns minutos, eu não posso fazer nada sobre isso por enquanto. - Eu não conseguiria passar por aquilo se eu não tivesse você. Você não vai me abandonar também, não é?
- Não.
- Promete?
- Prometer? - Ela levanta sua cabeça alguns centímetros abaixo do meu queixo. Suas pupilas estão escuras e o sangue que escorreu de seus olhos neste meio tempo já estão secos pelas suas bochechas.
- Prometa.
- Sabe que eu não posso. Até porque... não tem como eu te abandonar se está sempre comigo. Não é?
- Eu sei, mas eu quero que você me prometa que vamos ficar juntos... pra sempre.
- ... Eu prometo. Você está muito machucada. Vai precisar de sangue dessa vez?
- Por mais que eu queira, não posso. Você já tem muitas marcas de machucados pelo corpo.
- ...
Ela pega minha mão e deixa sobre a sua bochecha, querendo que eu a acaricie e assim faço até ela esboçar o seu belo sorriso, esfregar o naiz na minha camiseta e adormecer logo depois disso.

Hoje que fui perceber... que hoje é dia 14 de novembro, está chovendo muito lá fora. Pensando agora, dia 24 é meu aniversário. Nunca me importei com isso e na minha cabeça é só mais um dia normal. Lara acorda assim que me levanto da cama e saio do quarto, me deparando com minha mãe assistindo TV com um copo de café e um cigarro. Ela me encara.
- Você tá com cara de morto.
- Olha quem fala. - Ela esboça um sorriso. Vou até a cozinha, pego um pouco de café e me sento no sofá ao lado dela.
- Acordou cedo. Por que?
- Não sei. - No jornal que ela está assistindo mostra um acidente de trânsito que aconteceu agora pouco. - Por que tá assistindo isso?
- Tem algumas coisas que me interessam.
- Pensei que era só pelas fofocas.
- Bom, isso também. Então, eu... queria te perguntar uma coisa.
- O que é?
- Você gostaria de um padrasto?
- Por que isso do nada? Você sabe que não sou eu que tenho que querer isso.
- Eu sei, mas-
- Já que me perguntou, então não. Eu não preciso, nunca precisei. Mas você tem o direito de ter um amante e por mim tudo bem se quiser se relacionar com alguém.
- E quanto a você, tá namorando?
- Não.
- Gosta de alguém?
- Não.
- Nem depois daquela festa? As novas gerações estão cada vez mais difíceis, pelo visto. Não é à toa que dizem que você se parece comigo.
- Até porque sou seu filho. - Ela apaga o cigarro no cinzeiro e toma o resto de café na xicara.
- E eu não estou tão desesperada assim por um companheiro. Só achei que... estava faltando uma figura paterna pra você.
- Não esquenta com isso. Você tá velha demais para se preocupar com essas coisas. - Ela dá um tapa na minha cabeça.
- Eu não sou velha. Tenho só 34 anos ainda.
- Por que me bateu?
- Me chama de velha de novo e vai levar uma ainda mais forte. Enfim, vá tomar banho e começar a se aprontar logo. Eu mudei os horários com o seu médico pras sete da manhã, então vamos sair cedo hoje.
- Aah...

- Mais uma vez... Saímos de lá sem nenhum resultado útil. Precisa mesmo continuar marcando consulta?
- Mesmo que não tenhamos nenhum resultado até agora, ele disse que está progredindo nas pesquisas de pouco em pouco.
- Pra mim, só parece que ele continua marcando isso pra ganhar mais dinheiro. Eu sei que essas consultas não são baratas.
- Você se lembra de como foi dificil para nós dois quando você não tinha essas pilulas? Você se lembra em quantos médicos fomos pra resolver esse problema e que ele foi o único que ajudou a controlar o seu estado instável?
- É, eu lembro...
- Eu sei que ele vai conseguir algo melhor em breve. Quando você era mais novo, tinha ataques cardiacos e paralisias musculares constantemente. Graças a esse remédio, você não tem mais que sofrer com aquilo.
- Foi difícil... pra nós dois.
- Foi mesmo. E é por isso que precisamos dessas consultas.
- ...
Ela me deixa na escola enquanto é intervalo e vai para o trabalho em um dia chuvoso como hoje, tem menos alunos bagunçando pelo pátio. Me encontro com Laura no refeitório fazendo atividades e me sento de frente pra ela, seus olhos se voltam pra mim no mesmo momento.
- Ah. E aí, Ethan.
- Parece estar se esforçando.
- Diferente de você, eu não sou um gênio. Preciso me esforçar pra ser melhor.
- Acha que eu sou um gênio?
- Tenho certeza.
- Por que?
- Você tá meio estranho hoje.
- Mais estranho do que já sou? Acho que essa é a minha decadência.
- Você tira nota máxima em todas as matérias, não faz bagunça...
- Não tiro nota máxima com algumas matérias, por causa do professor que enche o saco pela minha falta de participação nas aulas.
- É, tem isso. Ah, eu estava conversando com a diretora mais cedo e eu descobri algo bem legal.
- O que?
- Sabe a sala de teatro? Ela me contou que aquele lugar era um teatro de verdade antes até mesmo disso aqui ser uma escola.
- Dava pra notar isso pelas pinturas.
- Tenta adivinhar há quanto tempo aquele lugar está sem ser usado.
- Não.
- Desde 1953.
- Hmm... está a mais de 65 anos sem ser usado.
- Exatamente. Como isso pode ser possível?
- É, pensando melhor agora... Encontramos aquela sala em um bom estado levando esses anos em consideração.
- Acha que tem algo legal escondido lá?
- Agora está interessada em saquear?
- Não, mas vai que o dono daquele lugar naquela época, escondeu algo por lá ou esqueceu alguma coisa valiosa. Isso não atiça a sua curiosidade?
- Não, mas já que está tão interessada nisso, podemos dar uma olhada.
- Quer dizer... Agora?
- Algum problema?
- Não. Pelo contrário.
Enquanto guarda as suas coisas dentro da mochila, ela me entrega a chave da sala. Ela vem até mim pouco tempo depois de eu ter acendido todas as luzes.
- Então, por onde procuramos primeiro?
- Hmm... Esses palcos geralmente tem uma entrada por baixo da madeira. O que acha?
- Sabe onde fica a entrada?
- Então...
- Pois é.
- A gente procura. Temos tempo até o sinal tocar.




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