16.

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Conforme eu me aproximava, mais ela se focava no celular. Só me repara aqui quando paro na sua frente.
- Está quinze minutos atrasado.
- Quem te passou meu número?
- Laura. Gostei da sua camisa. Nunca encontrei loja onde vendesse blusas do Metallica.
- Por que me chamou aqui?
- Nada em específico...
- É? Então, por que está com cara de quem acabou de chorar?
- ... Ok, eu estava chorando, mas não é por isso que te chamei aqui.
- Vai dizer ou...?
- Eu só não queria ficar em casa, beleza? Aah... Não tenho que aturar a mesma coisa todo dia. - Sua expressão se fecha e resolvo não tocar mais no assunto. Nos sentamos no banco mais próximo à nós e ambos guardamos os celulares.
- Parece estar melhor que ontem.
- Quando cheguei em casa ontem, eu capotei. Acabei acordando tarde demais para ir pra escola.
- Bom, eu diria que você não perdeu nada produtivo hoje.
- Que bom. - Seus olhos se voltam para o meu pescoço de repente. - O seu pescoço...
- Hm?
- Está sangrando. Posso ver?
- Não me importaria, contanto que não pergunte nada sobre isso.
- Tá bom. - Ela se aproxima ainda amis de mim, joga um pouco do meu cabelo para trás e passa o dedo ao redor dos machucados feito pelas presas de Lara. - Foi muito fundo. Pode acabar infeccionando.
Eu viro o meu rosto em direção ao dela, que agora me olha um pouco nervosa com nossos rostos tão próximos. Seus lábios se mexem com intenção de falar algo, mas acaba perdendo as palavras... E no fim, apenas aceita minha provocação. Mantemos o ritmo dos nossos lábios por uns segundos até ela se afastar novamente parecendo mais aliviada. É completamente diferente de quando está bêbada.
- Ei, aah... tá com o dinheiro de ontem?
- Deve tá naquela calça que eu estava usando...
- E acabou molhando na piscina...
- É. - Passo a mão nos bolsos da calça e encontro 5 dólares. - Parece que só tenho isso.
- Vamos comer alguma coisa.
- Não dá pra comprar muita coisa com isso.
- Ah, eu tenho mais uma grana aqui. Mexi na bolsa da minha mãe antes de sair. - Ela solta uma risada de medo que eu diga algo contra isso.
- Então vamos. - Ela se levanta logo depois de mim e vamos procurar algum lugar próximo aberto.
- Acho que o mercado mais próximo daqui fica... Na verdade não tem nenhum perto.
- Aqui por perto tem um bar.
- É o único lugar que temos agora.
Entramos no bar e tinha ainda alguns salgadinhos, mas não sei se ela vai querer levar esses. Olho para um frezer que estava ao nosso lado e tinha a promoção de uma bebida que minha mãe geralmente comprava. Deicido ir dar uma olhada enquanto ela escolhe o que vai levar e alguns segundos depois, ela aprece ao meu lado.
- Você gosta dessa?
- Minha mãe tomava direto. Já experimentei, até que tem um gosto bom apesar de ter 41% de álcool.
- Vamos comprar?
- Tem certeza? Acho que nenhum de nós dois está bem recuperados de ontem.
- Provavelmente vamos nos fuder pra caralho por causa disso, mas sei que você não se importa, então vai ser legal ter alguém pra beber.
- Já decidiu o que levar pra comer?
- Uhum. Tá aqui. - Ela pega um saco de biscoitos qualquer.
- Doce com bebida. Parece bem promissor.
- Né?

Nos sentamos no mesmo banco de antes e agora não há mais ninguém aqui além de mim, Anna e alguns cachorros. O ar está tão fresco e frio que acho que poderia ficar aqui a noite toda.
- Quantos litros tem aqui? - Pergunta ela.
- Um litro. - Ela faz força para abrir a garrafa, enquanto eu mando mensagem pra minha mãe.
- Toma. Cansei. - Dou o pacote pra ela e pego a garrafa de sua mão, abro sem muito esforço e jogo a tampa no lixo ao nosso lado.
- Claramente eu deixei fácil pra você abrir.
- Claro.
Ela come os biscoitos enquanto viro o primeiro gole dessa bebida. Realmente é muito boa, o sabor começa com um gosto de cereja e maçã e finaliza com o forte gosto de álcool, mas com o passar do tempo, acaba sendo bem enjoativo.
- É agora ou nunca. - Ela pega a garrafa da minha mão e vira na boca sem pensar duas vezes, dando três goles em seguida. Após fazer uma leve expressão de enjôo, ela olha para o líquido da garrafa enquanto o agita devagar. - Hmm, tem um gosto bom.
- Sua expressão disse o contrário.
- Fazer o que... Tanto meu paladar quanto meu estômago vão demorar pra aceitar isso.
- E pensar que acabamos com todas aquelas bebidas até ontem de tarde.
- Pelo menos, você é ruim de cair com bebida. O que é bom. Mas o que mais me surpreendeu foi Laura aguentar a noite toda.
- Por que?
- Parecia que ela seria uma das primeiras a desistir, mas às seis da manhã ela era a mais acordada entre nós.
- É verdade. - Ela toma mais um gole e me passa a garrafa.
- Não quer comer?
- Não tô com fome. Você precisa mais, já que disse que estava com fome.
- Eu não disse que estava com fome. Eu disse apenas que queria comer algo.
- Isso soa quase a mesma coisa pra mim.
Ela enche a boca com dois biscoitos e pega a garrafa da minha mão, engolindo tudo ao mesmo tempo.
- Toma, come um pouco também.
- Não fala de boca cheia... - Ela acha graça disso e acaba se engasgando quando começa a rir. - Ei.
- Aah... - Ela volta a tossir depois de conseguir descer o que estava preso. - Achei que fosse morrer agora.
- Puta que pariu...
Ela volta a rir e depois disso, ficamos só falando coisas irrelevantes por um tempo. Até restar só mais um pouco da garrafa... Agora é oito e cinquenta e sete da noite e ela não parece muito bem.
- Não tem problema chegar tarde em casa?
- Ah, não. Tá tudo bem.
- Você tá bêbada?
- Só com um pouco de sono. - O pacote acabou bem mais rápido que a bebida... Ela pega a garrafa e toma mais alguns goles.
- Você tá muito bêbada.
- Talvez... É...
Ela dá uma risada e me entrega a garrafa, onde termino de tomar o pouco que tinha. O final faz o álcool descer pior ainda e sinto o efeito que isso fez. O dia já havia escurecido bastante. Mesmo que tenhamos tomado a garrafa toda, ainda continuamos no controle. Mas enfim... Ela se aproxima mais de mim e deita a cabeça no meu ombro enquanto seguro a garrafa vazia.
- Minha cabeça tá dando infinitas voltas... - Está diferente da noite passada.
- Não vai dormir. Você ainda tem que ir pra casa.
- Nem um pouquinho?
- Não. Precisa que eu te leve?
- Eu tô bem. - Ela se levanta do banco, tropeçando no próprio pé e antes que caísse, eu seguro seus braços. - Ok, talvez eu não esteja tão bem...
- Agora sabemos que não é saudável beber tanto por dois dias.
- O que fazemos agora?
Ela se joga contra o meu corpo e se encolhe, percebo uma lágrima escorrer do seu olho e ela aperta os braços ao redor da minha cintura. Em resposta, eu acaricio seu cabelo. Inclino sua cabeça com minhas mãos e limpo as lágrimas escorridas pelo seu rosto com o polegar, fazendo ela esboçar um sorriso com as marcas da maquiagem escorrido pelo seu rosto, de novo.
- Vem. Vamos embora. - Sem dizer nada, ela apenas concorda com a cabeça. - Onde você mora?
- Perto da escola, algumas ruas perto daqui.
- A escola não é longe, pelo menos. - Me solto dos seus braços, pego a garrafa, o plástico vazio do banco e jogo no lixo. - E ainda bem que você não vomitou.
- Ainda.
- Ainda... - Estendo minha mão para ela e ela entrelaça os dedos aos meus. Cobrindo a cabeça com o capuz da blusa de frio com a única mão livre.
Paramos em frente a porta da sua casa e ela se vira pra mim.
- Então... Aqui é a minha fucking casa. Posso te chamar mais vezes?
- Se você quiser.
- Então até mais. - Ela me olha com os seus olhos brilhando com a luz da lua atrás de mim e encosta suas mãos no meu rosto, me dando um último beijo. Seus lábios gelados faz com que esse momento seja ainda melhor e depois que se afasta, ela dá uma risada satisfeita. Eu não digo e nem expresso nada, pegando a estrada de volta pra casa e nesse meio tempo chega mensagem da minha mãe.





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