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  Acordo dentro do mundo dos sonhos, sob os céus escuros e com uma lua cheia brilhando quase em cima de mim. O clima está frio com ventanias geladas e estou usando as roupas que estava usando quando fui dormir. Minha calça jeans preta e minha camiseta também preta com a estampa do Led Zeppelin no centro e nada mais. Me sento no gramado e aqui neste mundo, eu não estou com o pulso torcido, não estou com machucados, só me sinto triste... Como se algo dentro de mim tivesse ido embora e de fato, se foi. Essa sensação ruim que estou sentindo, eu não consigo evitá-la, quanto mais eu penso... Mais forte ela fica. Por que eu... iria querer evitá-la? Desde quando esse desejo se tornou tão incoveniente para mim? Eu não preciso me desapegar dessa sensação, seria mais fácil se eu me acostumasse. Tê-la ao meu lado, essa sensação ruim só pertence a mim pois só eu sinto como ela é, consigo imaginar sua aparência e ao torná-la real... Minha mãe aparece na minha frente. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e essa sensação ruim agora tem forma e está bem na minha frente, sorri para mim, seu belo sorriso que me trás nostalgia e dor é reconfortante. Ver minha mãe agora embrulha meu estômago de tantos sentimentos que me dominam e que não consigo controlar. Ela passa sua mão pelo meu rosto, limpando a lágrima que escorreu, me acalmando com o seu toque. Apesar de estar escuro, eu consigo vê-la bem, seu cabelo liso e escuro comprido em frente aos ombros, vestindo seu pijama que geralmente usa quando vai dormir e seu rosto... Que sorri de forma calma pra mim, mas isso só me dá ainda mais vontade de chorar. A dor na garganta impede que as lágrimas desçam, mas é melhor assim. Estendo meu braço até o seu rosto e ao tocar sua pele, ela desmancha, virando pó e sumindo no ar... Aos poucos o resto do seu rosto e do seu corpo se vai da mesma forma, desaparecendo no ar... Até não sobrar mais nada. Fazendo um desespero crescer dentro de mim por não tê-la mais aqui. Eu não quero ficar sozinho de novo, mãe...
  Eu acordo de repente, em um susto rápido, eu me sento no colchão, suado e com os batimentos cardíacos acelerados. Lara acorda quando me percebe aqui sentado e ela senta ao meu lado, olhando para o meu rosto, preocupada. Ela passa sua mão pela minha bochecha, limpando a lágrima que estava ali e que eu não tinha notado. Vejo a hora no celular, faltando dez para as cinco da tarde, minha cabeça dói e meu braço também.
- Ei, vou voltar outra hora, tá bom? - Eu afirmo balançando a cabeça e ela esboça um sorriso antes de desaparecer.
  Volto a ficar sozinho no quarto com a luminosidade laranja do sol entrando pela janela e refletindo na parede ao lado da porta. Parece que hoje, a noite vai chegar rápido... Bom para um passeio noturno pela cidade. Desconecto o notebook da tomada e o deixo agora sobre o colchão ao meu lado. Pego minha mochila, tiro o isqueiro de dentro e ao sentir a boca da garrafa de uísque tocar meus dedos, que só então me lembro que esta bebida estava aí. Por enquanto, eu vou deixá-la aqui dentro e pego o cigarro e o canivete, guardando dentro do bolso da minha calça com o isqueiro e o meu celular. Enquanto calço o All Star, a porta do quarto abre, dessa vez, é o meu irmão. Ele me encara, parado em frente a porta por algum tempo, vestindo um uniforme azul de alguma escola, mochila e uma calça jeans azul colada às pernas.
- Está saindo?
- Uhum.
- Posso ir junto?
- Por que?
- Conversar? Eu queria te conhecer já faz um tempo e... Bem, ontem a gente não teve tempo de se conhecer.
- Hm... - Volto a calçar o All Star e quando termino, ele sai do quarto junto comigo. O velho está na sua poltrona, tomando cerveja e assistindo um jogo de baseball na tv. O clima aqui na rua ainda continua fresco, parece que o céu esteve coberto por nuvens o dia todo assim como ontem. - O que você faz nesta cidade?
- Estudo, em maior parte. Uma vez ou outra eu saio com alguns amigos, só que, fora isso...
- Entendi.
- É uma cidade bem simples, sem muita diversão... Para nós, pelo menos. Há bastante bar por aí, casas de apostas, cafeterias. O que você gosta de fazer?
- Nada.
- Nada?
- Talvez eu descubra isso andando por aí.
- Por aqui, eu acho difícil. A propósito, meu nome é Thalles.
- Você bebe?
- O que? Álcool? Não.
- Hm. Pelo visto, você não quer acabar igual aquele velho idiota.
- Acho que nós dois usamos ele como exemplo para sermos melhores, né?
- "Melhor"... Eu só quero ser diferente dele, sendo "melhor" ou não, não importa muito.
- Entendo. Sabe... Eu sempre tive curiosidade em conhecer a nossa mãe.
- Você considera ela como sua mãe?
- Eu sempre achei que éramos irmãos da mesma mãe. Faz pouco tempo que descobri que não. Como ela era?
- Não quero falar dela.
- Foi mal. Consigo imaginar a dor que você sente. Nunca cheguei a conhecer a mulher que me pôs neste mundo. Quando nosso pai bebia e ficava irritado, ele vivia gritando comigo, dizendo que minha mãe era uma vadia ingrata que só ligava pra drogas e prostituição.
- ...
- Como ela nunca me visitou, então... Talvez ele esteja certo, né? Uma mãe que se importa com o filho, deveria vir visitá-lo. Não é?
- Única coisa que eu sei, é que aqueles que realmente deveriam morrer, não morrem. Já aqueles que não merecem, são os que morrem. Se um Deus existe, ele é idiota.
- Eu não acho. Não tem como saber os planos de Deus. - Não, o Deus de que fala, não existe.
- Você é livre para acreditar no que quiser.
  Viramos uma esquina e pego a carteira de cigarro do bolso, ele só me percebe fumando quando ouve o fogo do isqueiro.
- Você fuma? - Dou um trago fundo e agradável em resposta a sua pergunta. - Não devia fumar.
- Por que não?
- Porque você é menor de idade. E se algum policial passar aqui?
- E daí, porra?
- Fala sério... Sempre fez isso?
- O que?
- Ser teimoso assim?
- Você quer mesmo me irritar agora? O que te faz pensar que pode agir como um irmão mais velho pra mim?
- Tá legal. Foi mal.
- Qual é a sua, hein?
- O que?
- Aceita as coisas quieto. Parece ter alguns traumas de infância.
- É... Alguns.
- Hm. - Acabo deixando este assunto de lado. Traumas são traumas, afinal de contas...




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