Plano

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                                                                                           AFONSO

"Você está sendo vigiado."

Foi tudo o que Otávio me disse antes de sair da garagem rumo à sua Harley-Davidson, com o capacete preto em uma de suas mãos. Seu rosto estava mais sério que o habitual e sua postura extremamente formais durante nossa conversa sobre os rumos da missão – que aconteceria no dia seguinte.

- Cris não poderia participar diretamente, boca de sacola. – Disse após um longo gole em minha long neck. – Ela acabou de completar o sétimo mês, inclusive. – Ressalto.

- Não dava para colocar o Léo no lugar dela? – Ele aponta indignado, da mesma forma que fiquei quando soube do plano idiota. Soltei uma risada em escárnio.

- A resposta é meio óbvia. – Coloco a breja sobre a mesa de madeira e espalmo as duas mãos sobre ela. – Ele é o noivo da agente Lis, filha do Diretor-Geral.

– E não seria esse o sonho de qualquer sogro? – Ele movimenta os ombros. – Despachar o futuro genro? – Realmente, ele tinha um ponto.

- Lis nunca o perdoaria se algo viesse a acontecer com o noivo, ainda mais com o pai chefiando a missão. – Coço a barba, incomodado com a situação.

- Algumas peças ainda não se encaixam nessa história. – Otávio fita o chão repassando os passos que acabei de informa-lo. – Mas eu vou descobrir. – Seu sorriso cresce, e eu não costumo gostar muito quando isso acontece, porque, na maioria das vezes, ele tem a porra da razão.

- O diretor Geral te ligou hoje cedo? – Ele pergunta após um longo período em silêncio.

Apesar de nenhum ataque ter sido registrado até aquele momento, pedi ao Otávio que utilizasse uma das suas habilidades como um excelente Hacker e impedisse qualquer invasão em minha vídeo chamada com o Diretor-Geral.

- Infelizmente, sim. – Lembro da conversa que tive horas mais cedo e minha boca automaticamente começa a amargar.

"- Mudança de planos doutor Afonso. – Seu tom enxuto e firme ordena pela tela do notebook à minha frente.

Minhas pernas começaram a balançar freneticamente quando ouvi aquilo. Maldita ansiedade de merda.

- Sim senhor. – Confirmo para que prossiga.

- Decidimos colocar Ariadne como isca à paisana. Tudo que ela precisará fazer se resume à uma breve visita. – Ele diz como se fosse apenas uma simples tarefa. Como se uma das melhores agentes do esquadrão não corresse o risco de morte no momento em que pisasse sozinha - e sem armamento - na porta de um narcotraficante, com um exército vigiando cada centímetro daquela mansão.

- Como efetuaremos o plano, senhor? – Indago dando tudo de mim para não o xingar ali mesmo.

- Como foi dito anteriormente. – Esse babaca só podia estar fazendo uma brincadeira de muito mal gosto.

– Tudo será repassado pelos pontos de escuta conforme o planejado. – Ótimo, tudo sobre descontrole.

- Senhor, ainda não estou compreendendo como a agende efetuará a abordagem. – Em plena luz do dia diga-se de passagem.

- Ela saberá o que fazer. – O diretor une as duas mãos e esboça um pequeno sorriso, como se estivesse asseguradamente tranquilo com a decisão estúpida em sacrificar uma das vidas mais importantes para... a missão."

Foram 10 anos. A porra de 10 anos arquitetando os mínimos detalhes para pegar aquele vagabundo. Tudo escorrendo pelo ralo diante dos meus olhos. Naquele momento, tudo havia congelado ao meu redor. Antes mesmo que desligasse a ligação, suspirei fundo e cavei minha própria cova.

PERIGO AMOR EMINENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora