Detetive

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. A R I A D N E
O cheiro adocicado do óleo de amêndoas preencheu todo o quarto assim que abri a porta do banheiro suado da enorme suíte. O sol se põe em uma mistura de laranja, lilás e rosa no céu atrás das janelas francesas do quarto. Seria impossível não parar para apreciar uma vista daquela.

Minha mãe, meu pai e Guilherme também adorariam o lugar. Eles sempre iriam comigo para onde fosse.

Estava tudo muito silencioso.

Aperto ainda mais o nó da toalha branca sob meus seios e alcanço meu celular em cima da cama em busca de alguma atualização sobre as amostras analisadas no laboratório, ou até mesmo de Cris.

Ela havia ficado no sítio de Luís Felipe e, pelo que disse, permaneceria por no máximo dois dias. Seus enjoos estavam cada vez mais espaçados mas ainda estavam presentes, por mais dura que fosse, percebia o cansaço físico e mental presente sob as costas de minha parceira, que agora era responsável por mais uma vida, senão a mais importante, em mais uma missão. Sejam quais forem os motivos dos diretores para tal decisão, presumi que fosse para não gerar suspeitas e confundir qualquer olheiro pelas redondezas da região.

Mesmo que corresse o risco de não me responder, decidi me arriscar.

Ari: Como andam as coisas por aí?

Não me surpreendia o fato dela me responder em pouco tempo, mesmo que a propriedade estivesse no meio do nada. A antena, que captava sinal de internet, mais próxima ficava em um raio de 5 km.

Cris: O cheiro de café me faz virar do avesso.
Soltei um riso nasalado só de imaginar Felipe saindo à procura de comidas completamente exóticas de procedência duvidosa.

Ari: A sua sorte é que a tia Cely gostou de você e está te mimando por dá-la o primeiro sobrinho/neto!!

Cris: Aquela mulher me odeia... Fora os olhares estranhos que me dá quando abraço Felipe. Acredita que ela chamou ele mais de trocentas vezes, nada mais nada menos que às 6 horas da manhã?

Solto mais algumas gargalhadas. Cris consegue ser engraçada até mesmo quando estava brava.

Ari: Provavelmente vc deve estar cansada nessa terça-feira braba, já que escalou montanhas, salto na vara, artes marciais e afins...

Cris: Se as artes marciais incluírem chave de buceta e um sexo violento, estou morta.

Ari: Afonso e eu acordamos assustados mas, logo depois, vimos que não havia nenhum tornado derrubando a casa.

Ari: Mudando de assunto... É impressão minha ou já ouvi uma lenda sobre investigadores com o nome do pai de Afonso?

Cris: Não. Você esteve na casa de um dos maiores investigadores criminais do Brasil. Ele se afastou do cargo após o falecimento da esposa.

Ari: Como assim?

Cris: A morte dela é um mistério escondido nas profundezas da polícia há quase 30 anos. Ninguém nunca conseguiu encontrar, acredite nós já tentamos. Pelas costas de Afonso, mas tentamos. Ele sempre foi extremamente fechado em relação à sua vida pessoal. Nunca nos deu nenhuma brecha.

Minha boca se abre e logo se fecha em completa surpresa. Um fruto nunca cai muito longe da árvore. Enquanto estava na faculdade de farmácia, o detetive Luís Felipe Rodrigues já havia sido citado em inúmeras teses de graduação, pós-graduação e doutorado na área da saúde vinculada à segurança pública, e já havia atuado em muitos casos grandes chefiados pela União.

De qualquer forma, deveria cumprir as horas extracurriculares, e preferi pagá-las assistindo TCC's. Graças a isso, consegui perceber os erros e os acertos dos estudantes e moldá-los no meu trabalho de conclusão de curso. Foi um sucesso.

PERIGO AMOR EMINENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora