Baile

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Ariadne

Afonso ficava lindo e gostoso até dentro de um saco de batatas, mas hoje ele havia se superado. O smoking parecia ter sido feito sobre medida, perfeitamente alinhado. Cheiroso.

Eu já disse gostoso?

- Sempre muito pontual, adoro isso em você sabia? - Ele disse ao se aproximar do meu corpo assim que estacionou e saiu, divinamente, de um Porsche 911.

- Não curto atrasos, mas obrigada pelo elogio. - Respondi timidamente. Eu adorava quando ele me direcionava aquele sorriso safado.

O vestido que arrastava sob meus pés era dourado, coberto por pedras em diferentes tons. O decote apertava e levantava gentilmelnte meus seios e, como minhas costas estavam praticamente nuas, assim que a brisa fria atravessou meu corpo me arrepiei inteira. Era um pacote completo de luxúria e sensualidade. Uma generosa fenda na perna esquerda atraiu a atenção do delegado assim que bateu os olhos em mim. Me dava a chance de me movimentar melhor, caso precisasse correr, e também maior acesso ao canivete chileno cuja qual escondi na parte interna da coxa, preso à cinta liga, na mesma tonalidade do vestido, é claro. Vermelho como o sangue que escorreria aquela noite.

- Gostou querido? Sou uma esposa dedicada. - Brinquei. Ele me ajudou a entrar no carro preto alugado e nos acomodamos bem.

- Espero não ter que matar alguém por ficar babando na minha mulher. - Disse após fazer uma curva apertada com uma mão só sobre o volante. Sexy pra caralho.

- Vai bancar o marido ciumento? - Ironizo.

- Você não me deu outra opção. - Passou a mão pela minha coxa enquanto dirigia. - Eu só espero não ter que te carregar por aí a
fora se formos perseguidos porque esse vestido apertado não te permite fazer muitos movimentos. - Olhou para mim enquanto eu tentava me distrair do delegado que estava ao meu lado, dentro dos meus pensamentos e dentro do meu coração.

- Relaxa, somos apenas um casal rico e inocente, o máximo que pode acontecer é talvez sermos flagrados brigando por alguma besteira.

- Assim eu espero, dona Estela. - Concluiu. Chegamos ao local prescrito no manual. Era um lugar exuberante e lindo, com flores brancas cercando todo o caminho até chegar à propriedade, mas nossa tarefa não era contemplar e sim observar. Enxerguei de longe alguns pontos estratégicos de "escolta" escondidos entre as árvores, mas não consegui ver ninguém. Assim que passamos em torno da cascata de Afrodite, esperamos o momento de descermos em uma fila enorme de carros luxuosos. Afonso desligou o automóvel e desceu para que o manobrista pudesse assumir a partir dali.

Desci do carro, me coloquei ao lado dele, como uma adolescente gamada pelo primeiro namorado, para que tirassem algumas fotos. Fizemos algumas poses com sorrisos apaixonados enquanto ele segurava minha cintura e eu colocava minha mão em seu peitoral. "Se isso chegar até os meus pais, porque eu sei que vai, esses abutres jogam tudo em sites de fofocas para promover engajamento, vão me encher de perguntas e eu vou precisar de uma boa desculpa." A quantidade de flashes era exorbitante e começou a me cegar. Andamos pela escadaria encoberta por um extenso tapete vermelho até chegar aos enormes portais de vidro com fileiras monstruosas cobertas de seguranças em traje social. Identifiquei alguns aparelhos de comunicação sem fio, além de armas calibre 32 e 38, algo muito radical para um baile de gala em que geralmente são usadas apenas armas de choque por vigilantes. O aperto firme de Afonso em minha cintura afastava qualquer proximidade de estranhos.

- Boa noite, preciso do nome dos senhores para averiguar na lista de convidados. - Uma jovem bonita com um vestido longo e preto diz com uma espécie de tablet nas mãos.

- Boa noite, sou Otávio Medeiros e essa é minha bela esposa Estela Duarte. - Disse Afonso, me olhando com um completo olhar de admiração.

- Ah sim, podem entrar e se sentirem à vontade. Sigam o senhor Álvares, nosso chefe de segurança, ele irá guiá-los até a área
reservada para convidados especiais do Governador. - Estendeu um dos braços para indicar o caminho. Averiguei o senhor Álvares. Não percebi nenhuma postura suspeita ou tatuagem de baixo calão a mostra, e nenhum sinal de desconforto. Percorremos todo o saguão interno até chegarmos a área restrita. Tinha uma visão privilegiada de todo o salão principal oval abaixo de nós, que por sinal estava lotado de figuras bem-vestidas que mandavam e desmandavam na economia, política e na sociedade da região. O glamour da Polícia Federal é todo ofuscado por essa gente que nos obriga a limparmos suas merdas com investigações sem sentido e nenhuma razão. Passei os olhos pelas mesas reservadas ao nosso redor e percebi que Afonso também fazia o mesmo disfarçadamente. Me acheguei a ele como se fosse abraçá-lo, afaguei seus cabelos macios e senti o ponto de interrogação formado em seu rosto, mas logo ele percebeu, eu vi o Governador chegar e o abracei para que o visse pelas minhas costas.

PERIGO AMOR EMINENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora