Mula

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Eu ainda não acreditava que ele realmente havia me colocado na cova dos leões. Por puro capricho.

Era um teste?

Vingança por não ter seguido o plano inicial? Até um cego poderia enxergar o quanto estava pouco me fodendo para isso e só dava ouvidos à paixão avassaladora que atravessava meu peito.

- Eram os termos... – Minha voz saiu fraca. Minha boca estava seca. Um misto de sede e ansiedade.

Eu adoro a adrenalina que a minha profissão me proporciona e esse foi um dos principais pontos na minha escolha em ser casada com a polícia federal. Mas confesso que a minha principal missão de vida sempre foi salvar vidas e não tirá-las. Por isso doeu tanto quando a vida me negou a entrada no curso dos meus sonhos. Não seja boba Ariadne, você ainda pode salvá-las. Aquelas mulheres te esperam naquele maldito galpão. Muitas famílias não perderão seus parentes acometidos pelo vício, pelo menos não dessa vez, em mais uma overdose. 

Estava caminhando a cerca de 45 minutos em uma mata fechada para chegar até o segundo depósito. Mais conhecido como a galinha dos ovos de ouro do governador. O coração de sua vaidade e ganância. Os arbustos eram altos, alguns espinhosos... O desafio era me atentar onde pisava, em afastar os galhos e me certificar de que não estava sendo seguida ou na mira de algum de seus homens. A mochila pesava sob meus ombros.

Ao longe avistei uma tocaia perfeita e me agachei para ouvir melhor.

- Ele pediu 850 gramas em cada pacote, estão faltando 200... – O som de um gemido escapa e meus sentidos aguçam. – Não costumo ser muito paciente, existem muitos fornecedores loucos para ocuparem o seu lugar. – Era a voz dele. Mendes era o seu braço direito, ninguém se aproximava do governador sem que antes fosse dada sua permissão.

Ouço engatilhar a arma e logo após um disparo, que pelo som apostaria ser de um calibre acima do 38, escuto um chiado em um tom de voz baixo:

- Boicotaram minhas cargas... Aqueles malditos federais apreenderam 600 kg com um de meus motoristas. – Ele geme de dor, mesmo assim continua a falar. – Pediram para que eu entregasse na sexta, não deu para acelerar a produção da remessa. – Outro gemido sai de sua boca.

- Você acha que eu sou burro? – Mendes solta uma risada em escarnio. – Vendeu nossas remessas para outro fornecedor... – outro grito esguelado – Seu incompetente de merda!!

Escuto outra bala sendo atirada e o som oco e pesado de um corpo caindo no chão. É hora de agir. Ele chamaria o governador para ver um de seus fornecedores mortos. A chance de haver uma guerra era grande. Fico de pé e checo minha munição silenciosamente. O sol se escondia atrás das serras que até ontem estava admirando com o corpo quente de Afonso abraçado a mim. É hora de agir. Caminho a passos largos até a porta dos fundos do local mal iluminado. O som de um galho sendo quebrado atrás de mim e de uma arma engatilhada me paralisam. Engulo em seco.

Olho para trás e vejo Léo e Murilo sorrindo como duas crianças arteiras. Reviro os olhos instantaneamente e minha feição não esconde uma repreensão velada. Eles só poderiam estar querendo ferrar a missão. Eu poderia apostar que havia dedo de Afonso para colocá-los à minha escolta.

Me viro decidida e pronta para fazer o que faço de melhor. Fingir ser o que não sou.

- Trouxe o que precisava. – Entro na vista de Mendes e com apenas um aceno ele me manda parar. Obedeço. Mostro minha mochila e abro o zíper para comprovar o que havia lá dentro. – Grampos, granadas e canivetes. – Mendes arqueia uma das sobrancelhas, claramente duvidando do motivo de trazer comigo algo tão insignificante e comum perto dos recursos e armamentos que utilizavam.

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⏰ Última atualização: Sep 03 ⏰

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