Capítulo 9 - Um acordo é uma promessa, e promessas são compridas.

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Se perguntasse o que ficou fazendo nesse tempo, responderia que estava na academia, abrindo e fechando seu bloco o máximo de vezes que podia. Sentia-se uma criança com um novo brinquedo. Sabia a melhor maneira de atacar e de se defender. Foi um tempo bem utilizado, pensou. Seu corpo estava melhor, mas nenhuma outra memória tinha surgido. Resolveu tomar outro comprimido.

Sem pensar, foi atravessando todos os corredores. Conseguia se localizar melhor naquele lugar. No ponto de reuniões, L4 a cumprimentou com um meio sorriso. Ele estava no lado oposto da mesa onde P50 se encontrava, com os olhos fixos na tela, arrastando alguns arquivos de um lado para o outro. Ela se aproximou e ficou do lado vazio da mesa, praticamente entre os dois. O programador parecia nem ter notado sua companhia. Ele tinha a testa franzida e parecia ainda mais desarrumado.

— Quando eu cheguei ele já estava assim, e ele não responde até acabar o quer que seja que esteja fazendo — disse L4, dando de ombros.

— Bom... Pelo menos não estamos com pressa — respondeu em um meio sorriso.

L4 se aproximou.

— Sabe... Se você quiser treinar mais tarde.

— Que bom que vocês já chegaram — disse P50, cortando a fala de L4 — Eu acho que finalmente tô conseguindo recuperar as câmeras.

Ele arrastou uma foto e ampliou. Todos se aproximaram para ver. A foto é de um simples corredor, no canto havia uma porta, idêntica a todas as outras. L3 não conseguia reconhecer qual era o corredor.

— O que tem esse corredor? — perguntou a menina.

— A gente sabe que foi nessa sala que alguém contatou uma pessoa de fora — disse P50, apontando para a porta —Tudo que a gente faz com tecnologia, emana energia. E o sistema captou uma fonte de energia diferente nesta sala logo antes da nossa missão. Saberíamos quem era se as câmeras não tivessem sido apagadas. Suspeito, não?

— A questão é o que vamos fazer agora. Não tem nenhuma chance de irmos atrás de Imperatore com um de nós o avisando. E a cada dia que esperamos é mais um dia que perdemos — acrescentou L4, com a voz calma.

— O nosso último plano tinha sido ótimo, certeza que a gente teria matado Imperatore.

L4 o lançou um olhar.

— Mas não tem nada que a gente possa fazer, pelo menos não agora, certo? Nossa melhor chance é pegá-lo no deslize, como quando ele foi atrás do meu remédio.

— Remédio?— perguntou P50.

L3 olhou confusa, esquecendo que ainda não havia contado. Ela repassou tudo que aconteceu, tirando a parte da fala de M10 sobre sua primeira memória. Enfatizou o fato de ter visto PI14 saindo do corredor e deixou claro que tinha fechado a porta. L4 franziu a testa.

— Então quer dizer, que alguém não quer que você se lembre de algo que você já sabe. Isso é ótimo! — comentou P50, animado — Quer dizer... Você precisa se lembrar primeiro.

— Pode ter certeza que eu tenho tentado.

— Por sinal, a gente chama de pílula. Remédio é mais para doença e não exatamente isso que você tem.

L4 fixou o Programador novamente, que deu de ombros.

— De qualquer maneira, esse foi um grande risco — disse L4.

— Mas como não conseguiu, provavelmente vai tentar de novo, ou tentar outra coisa.

P50 olhou para a mesa, revendo a imagem algumas vezes, com a mão no queixo.

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