Os dois começaram a andar no escuro para o lado de fora da academia. L4 rapidamente empunhou sua espada. Emitia um pequeno brilho toda vez que fazia movimentos circulares, como se fosse abrir um portal. A luz era pouca, mas útil. L3 preferiu não fazer o mesmo, não tinha o porque de abrir seu objeto se ele não era útil contra os próprios Escolhidos, e claro, não fazia ideia de como abrir um portal.
Os passos eram leves, tentando emitir o mínimo de barulho possível e prevendo uma surpresa a qualquer momento. No corredor principal, as luzes de emergência iluminavam melhor o local, emitindo um vermelho escuro.
L4 andava um pouco a sua frente, por conhecer melhor o caminho. Algo dentro de si dizia que tinha uma similaridade naquela ação, como se não fosse a primeira vez.
— A gente precisa ir atrás do P50 — disse L4, com a voz baixa.
L3 assentiu positivamente, já prevendo o que ele falaria. Foram em direção ao ponto de reuniões, primeiro com cuidado, mas nos últimos corredores, passaram praticamente correndo. Quanto mais demorasse, pior P50 ficaria.
Viraram no último corredor e começaram a chamá-lo. Ele não respondeu. A sala parecia estar vazia, intocável. Onde P50 normalmente ficava, só havia a mesa. L4 trocou um olhar com a garota de preocupação, procurando com mais empenho, era notável o quanto que se importava. L3 andou até a parede, evitando as pilastras e continuou a chamá-lo.
Estavam quase dando meia volta quando a menina começou a ouvir sussurros baixos, como um segredo. Ela apurou os ouvidos, fazendo um sinal para o Lutador. Devagar seguiu o barulho, sentindo estar cada vez mais perto, até que trombou com um dos armários, o baque fez um grande barulho e o murmúrio aumentou de volume.
Ela continuou seguindo, finalmente encontrando o rapaz, sentado, com as pernas junto ao corpo, tremendo, entre dois recipientes grandes de metal. Chegou próximo, com passos lentos para não assustá-lo.
— Eu não fiz nada... Eu não fiz nada... Eu não te fiz nada. Me tira daqui — sussurrou com uma voz trêmula.
— P, calma — disse L3, tocando o menino com carinho.
Ele levou um susto, começando a tremer ainda mais forte. P50 parecia ter perdido totalmente a noção de espaço. Como se de repente ele tivesse voltado aos seus piores dias, preso como castigo. L3 tentava consolá-lo, mas só piorava, ele continuava repetindo as mesmas coisas.
Uma mão a tocou no ombro, dessa vez, pegando L3 desprevenida. Ela deu um pequeno pulo.
— Eu fico com ele — disse L4, agachando ao lado do garoto — Você vai atrás da E35, ela vai resolver o problema com a luz.
O rapaz abriu um dos recipientes próximos a eles, e tirou de lá uma lanterna. Com uma explicação rápida de onde era a sala de energia, ela se encaminhou para um dos corredores. Mas antes de ir, viu L4 se sentando ao lado do menino, passando os braços ao seu redor, com carinho.
Adentrou os corredores novamente, agora, do lado oposto. A lanterna ajudava a iluminação, acelerou um pouco os passos. Pensava no P50, no seu rosto assustado, o corpo tremendo. Os gregos diziam que não importava o quão forte você seja, todos possuem uma fraqueza, andando por aqueles corredores, imaginou qual era o seu.
L3 não tinha certeza por onde ia, mas era no mesmo corredor do refeitório, de acordo com L4 um pouco mais para a frente. Ela voltou o foco totalmente para o corredor, passando tranquilamente pelo refeitório. A garota apontou a lanterna para o vidro, enxergando as cadeiras vazias.
Adiante, começou a ouvir passos lentos, seu coração acelerou. Sentia-se bem melhor depois do desmaio, o que tecnicamente era estranho. Ela apoiou as costas na parede, antes do corredor, focalizando a fonte do barulho. Involuntariamente, colocou a mão no bolso, preparada para erguer sua arma, mesmo sabendo que não funcionaria.
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A Última Vida
Science FictionEm um mundo futurístico os países se destruíram em caos. A única maneira foi juntar todos os sobreviventes em um novo e único país, liderado agora por apenas uma pessoa, Imperatore. O que ninguém sabe é que esse líder foi o responsável por todos os...