Capítulo 7 - Tudo normal.

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Saiu da academia chateada com seu desempenho. Não tinha nenhuma semelhança com a menina do seu sonho. Tinha perdido praticamente toda luta com L4, era como em um jogo de xadrez, ele parecia estar dez passos à frente dela. No começo é mais difícil mesmo, L4 a incentivava, você vai melhorar, a gente desenvolve muito rápido. Por alguma razão suas palavras não a consolava.

Andou pelos corredores, sentindo-se inútil, não tinha tempo, precisava melhorar agora. Ninguém havia dito com as palavras exatas mas ela conseguia ler pelos olhares que todos esperavam que voltasse a ser como era, e que independentemente de quem fosse, precisava voltar o mais rápido possível, uma urgência.

L3 parou no ponto de reuniões, estava vazio, o que era muito raro. P50 parecia morar ali grande parte do tempo, sempre apoiando um braço sobre a mesa, o óculos desajeitado em seu rosto. Procure as câmeras... ache quem é, lembrou-se do seu próprio aviso. Se aproximou devagar da tela em forma de mesa, demorando um tempo para conseguir acendê-la. A tela ficou toda preta, com uma pequena barra de pesquisa. Tentou digitar mas não apareceu nenhum resultado. Foi para as outras telas, mas nada acontecia.

Olhou para os lados, preocupada. Já estava começando a ficar nervosa, o tempo passava e não conseguia progredir. Tentou arrastar os lados e nada. Apertou o botão de ligar e desligar várias vezes, como se fosse dar certo. Tentou até a brutalidade, com um tapa firme no meio da tela, mas tudo que aconteceu foi a mesa balançar por um tempo. Após vários minutos, chegou em um consenso, de nenhuma maneira conseguiria chegar até as câmeras, precisava de P50. Limpou tudo que poderia dizer que estivesse ali e saiu da sala, amaldiçoando, em voz baixa, todos os computadores.

Só foi perceber para onde estava indo quando chegou no corredor que dava para a enfermaria. Estremeceu um pouco na porta com a imagem mental de M10, e como ela havia piorado depois de tomar sua dor. Sentia uma gratidão gigantesca por ela. L3 ouviu um pequeno barulho do lado de dentro que a tirou de seu devaneio, empurrando rapidamente a porta, encontrou M10 estirada no chão.

— O que aconteceu? Você está bem? — perguntou L3, ajudando a menina a se sentar na cama.

— Estou ótima! Eu tentei me levantar mas minhas pernas não corresponderam ao meu pensamento — respondeu M10, com um sorriso fraco.

— Por que você tentou? Você não está em condições de se levantar — disse, ríspida.

— Você não me diz o que estou ou não em condições de fazer. Eu faço isso a muito tempo, sei meus limites — disse M10, olhando diretamente nos seus olhos.

Realmente a garota parecia estar melhor. Sua cor estava voltando ao normal. Ela conseguia se mexer com mais facilidade e não falava de uma maneira pausada, como se o ar estivesse escapando. Os hematomas pareciam sumir aos poucos, e seu corpo ficando mais forte.

O que quer que estivesse dentro daquele remédio, parecia funcionar, em uma velocidade insana. Ninguém em apenas um dia, nunca seria capaz de aparentar tão bem, não após praticamente morrer. Sabia que não tinha o direito de falar qualquer coisa, então reduziu o seu tom de voz.

— O que você precisa?

— Nada, eu só queria caminhar um pouco — respondeu a garota, triste.

L3 não concordava muito bem com o que estava fazendo, mas mesmo assim segurou o braço de M10 e a levantou. As duas andaram juntas por alguns metros, ombro a ombro. A mão da Médica sobre seus ombros.

— Me põe aqui, me põe aqui — pediu M10, sentando-se na cadeira.

L3 voltou a olhar o ambiente novamente. Em cima das camas tinha algumas cortinas, que tapavam as janelas falsas. Provavelmente para deixar o ambiente mais agradável já que a T.O.C.A se encontrava a vários palmos abaixo do chão, o que fazia as janelas não terem sentido nenhum.

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