Olhou para o espelho novamente, estava bem mal, não negava. Normalmente o primeiro dia era assim, mas tirando a palidez e o machucado nas costas, não parecia ser nada demais. Comparado a outras vezes aquilo era bem tranquilo, já havia recebido dores piores, dessa vez conseguia até andar.
A recuperação costumava acontecer rapidamente, bem mais acelerado que qualquer outro Escolhido, o que era bom. De certa maneira tinha algo para fazer agora. M10 franziu o cenho, odiava machucado nas costas, era o único lugar que não conseguia alcançar. Haviam estancado o ferimento, mas precisaria de pontos, o que a deixava um pouco irritada.
Ela pegou a agulha novamente, indo para a terceira tentativa. Tinha roubado uma das blusas de botões que Dylan costumava usar. Conseguia abaixar a blusa o suficiente para ver o machucado. A garota respirou fundo.
— Eu faço — disse Dylan aparecendo na porta. Ele entrou, encostando levemente atrás de si — Eu não sou um tarado nem nada tá. Só queria saber como você estava.
— Isso seria algo que um tarado falaria — disse M10, entregando-o a agulha, contente.
O rapaz sorriu e se sentou na cama, logo atrás de si. Ela abaixou um pouco mais a blusa, e afastou o cabelo, mantendo o cuidado de não mostrar nada a mais. Pelo espelho conseguia ver o rosto do rapaz, que olhava para o machucado pensativo. Ele limpou, e passou com as mãos firmes a agulha na sua pele, fazendo a pele se juntar.
— Para alguém que tem medo de sangue, você está se saindo muito bem.
Ela o observava pelo espelho. Dylan sorriu, correspondendo seu olhar.
— Eu tenho quando é o meu sangue. O dos outros é tranquilo.
Seu rosto ficou sério por um instante. Como se decidisse falar algo ou não. O que é que fosse não era um assunto fácil. M10 tinha esse poder, conseguia ler as pessoas facilmente, era uma grande observadora.
— Meu irmão lutava, era assim que ele ganhava dinheiro, em lutas — disse Dylan, a voz triste — Eu costumava costurar-lo quando precisava, depois das lutas.
— Tanto passado em uma só frase.
O rapaz trincou o maxilar, fazendo uma pausa.
— Imperatore matou ele. Ele era seis anos mais velho que eu — continuou — Nós começamos a ajudar Alice... Ele queria bastante. Eu entrava no sistema, roubava dados. Mas uma vez... Me descuidei. E George Huff apareceu lá em casa, em ordem de Imperatore de matar o responsável. Eu disse que era eu, mas eles não acreditavam que uma criança de apenas 13 anos poderia ser o responsável... Então mataram meu irmão.
M10 levou a mão até sua perna, tocando-o levemente. Virando a cabeça de leve, para vê-lo de canto de olho.
— Isso que você queria dizer com "Imperatore acha que o perigo já morreu".
Dylan concordou com a cabeça. Imperatore havia matado a pessoa errada. Talvez fosse egoísmo de sua parte, agradecer um pouco por isso. Se não, nunca o teria conhecido. Ela voltou os olhos para o espelho. Dylan tinha o cabelo um pouco bagunçado, mas já havia limpado todo o sangue do seu rosto.
Não tinha uma definição exata para ele. Primeiramente o achou muito parecido com ES9, mas havia cometido um grande equívoco. Dylan era... Dylan. Não tinha como explicar. Mas havia algumas características como engraçado, charmoso, gentil, corajoso... Que poderiam encaixar facilmente no seu perfil.
— Como você conseguiu esse corte no rosto? — perguntou.
Ela olhou para sua imagem no espelho, a cicatriz se estendia da sobrancelha até a altura da boca. Quando menor havia odiado a marca que ficou, todos comentavam daquilo,apontavam, mas depois que cresceu acabou se acostumando com a cicatriz.
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A Última Vida
Science-FictionEm um mundo futurístico os países se destruíram em caos. A única maneira foi juntar todos os sobreviventes em um novo e único país, liderado agora por apenas uma pessoa, Imperatore. O que ninguém sabe é que esse líder foi o responsável por todos os...