𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟔

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𝑺𝒆𝒐𝒌𝒊𝒋𝒊𝒏

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𝑺𝒆𝒐𝒌𝒊𝒋𝒊𝒏

— São Paulo - Brasil —

Dois anos depois...

Hoje faz dois anos da última vez que estive na Itália. Dois anos que minha vida mudou. Dois anos que me sinto culpado por tudo o que aconteceu.

Aquela viagem que era para ser diversão se tornou meu maior pesadelo. Não há como esquecer, e mesmo que eu quisesse, todas as vezes que me olho no espelho, o sentimento de culpa vem tão forte que sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado.

Logo na nossa primeira noite na Itália, eu queria ir a alguma festa. 

Taehyung estava estranho e passou a tarde toda no quarto alegando estar com dor de cabeça. Jennie e Rose, disseram que iriam descansar um pouco devido ao estresse do final de semestre, e que no dia seguindo estariam mais dispostas.

Jungkook conheceu uma garota na piscina do hotel e fez sua festinha particular no quarto mesmo.

Então, Yoongi topou ir comigo. Fomos em um dos carros do meu tio e combinamos de que eu seria o motorista da vez. Depois da forma como minha tia Aurora se foi, sempre evitei a combinação de álcool com direção. Preferia não beber, a colocar em risco a vida de alguém que esteja comigo. Mas, mesmo com tanto cuidado o pior aconteceu, me deixando sequelas não apenas físicas, mas emocionais.

Olho para minhas pernas, ou que restaram delas e não consigo sentir gratidão por estar vivo. Parece-me tão injusto já que fui eu quem estava dirigindo. Fui eu quem causou a morte de Yoongi. Meu melhor amigo. Eu sou o culpado de toda dor que seus pais e irmãos sentem.

Ouço meu celular tocar na mesa de cabeceira do meu quarto. Tiro minha prótese de banho, e coloco minha prótese do dia-a-dia.

Meu apartamento, que já estava passando por uma reforma quando viajei, foi adaptado para minhas necessidades. O banheiro, por exemplo, passou a ter um acento no lado oposto ao chuveiro. Dois quartos de hóspedes foram transformado em uma espaçosa academia, com aparelhos de musculação e alguns específicos para minha fisioterapia.

Enrolo uma toalha na minha cintura e vou até o meu quarto para atender minha mãe. Apenas ela me ligaria tão cedo. Ainda são 06:00 horas da manhã.

- Bom dia, meu querido. Como você está? Sabia que você estaria acordado. Seu pai não queria que eu te ligasse tão cedo. Mas gostaria de sabe como se sente para o seu primeiro dia de trabalho. Estou tão feliz, querido. - Minha mãe diz assim que atendo, não me dando nem chance de falar alô.

- Estou bem mamma. Acabei de sair do banho e vou me vestir. - Digo indo até o closet. Opto por um terno preto de três peças, uma camisa social branca e gravata cor de vinho.

- Não se esqueça de tomar um café bem reforçado, meu filho. Não sei por que voltou para seu antigo apartamento. Estava tão bem aqui em casa. - Fala, soando preocupada.

- Ele precisava de privacidade, amoré mio. - Ouço meu pai falando ao fundo da ligação e minha mãe bufa.

- Já tinha me esquecido como é bom ter meus filhos debaixo das minhas asas. - Suspira e logo torna a falar. - Vou entrar na justiça para você e seus irmãos voltarem a morar comigo para sempre. - Fala sendo aquela mãe coruja e dramática que é.

- Eu vou fica bem, mamãe. Não se preocupe. Assim que chegar à empresa, lhe aviso. Tudo bem?

- Tudo bem querido. Nos falamos daqui a pouco. Mamãe te ama.

- Também te amo, mãe. Beijo. - falô e finalizo a ligação.

Após o acidente, fiquei na Itália por seis meses. Depois que já não corria mais risco de vida ou infecção, meus pais pediram minha transferência para São Paulo, mas me neguei, pois não suportaria encontrar a família de Yoongi sabendo que eu era culpado por sua morte.

Quando já era inevitável, voltamos para o Brasil e fiquei morando por mais alguns meses na casa dos meus pais. Não saia e evitava qualquer pessoa que ia me visitar, exceto meus irmãos e Taehyung.

A contra gosto, e por muita insistência de dona Beatriz, comecei a fazer fisioterapia e exercícios para me adequar a minha nova realidade.

Com o impacto do acidente, parte da minha perna direita foi amputada. Sofri o que a medicina chama de amputação traumática transtibial, ou seja, não tenho mais parte da minha canela e nem meu pé direto.

Há três meses, decidi voltar a trabalhar. Principalmente por minha mãe que vivia preocupada com a saúde de meu pai, que ainda trabalhava a todo vapor e comigo por estar cada vez mais distante e fechado. Desde então, tento transparecer ao máximo que estou bem para não a deixar triste. Mesmo estando um lixo por dentro.

Visto-me e vou em direção a cozinha, onde está minha governanta Rosa.
Ela é a responsável pela limpeza e organização do meu apartamento.
Moro em uma cobertura dez minutos de carro da empresa.

-Bom dia menino. Já preparei seu café da manhã. Sua mãe pediu pra caprichar. - diz sorrindo. Rosa é uma senhora baixinha, de cabelo naturalmente loiro e curto. Pele branca e olhos verdes. Com certeza fez sucesso quando era mais nova. É dona de uma simpatia contagiante. Está comigo desde que sai da casa dos meus pais e me mudei para cá.

- Bom dia Rosa. Obrigado. - Digo lhe dando um abraço de lado e sentando na banqueta da cozinha.

[...]

Chego ao escritório e é impossível não notar a forma como as pessoas me olham cheias de curiosidade e pena, mesmo que tentem disfarçar por saber quem eu sou. Já faz um tempo que estou adaptado a andar com minha prótese. Mas andar com ela em público ainda é muito desconfortável.

Desço do carro, agradeço ao motorista e vou direto ao elevador, dando passos o mais confiante que consigo.

Aperto o botão do último andar, que tem apenas minha sala e torço para que eu consiga sobreviver a mim mesmo hoje. 

𝐒𝐄𝐎𝐊𝐉𝐈𝐍, a família jeonOnde histórias criam vida. Descubra agora