𝑱𝒊𝒔𝒐𝒐
Após o jantar, decidi vir para o apartamento junto com Seokjin, mesmo que ainda não tenha me mudado oficialmente. Depois do que o senhor Vincenzo disse ele ficou o resto da noite estranho, calado, distante de todos.
Jungkook me contou que Júlio e Paula são os pais de Yoongi, melhor amigo de Seokjin que morreu no acidente que o deixou amputado. Não toquei no assunto quando entramos no carro e nem quando chegamos.
Ele foi tomar banho e eu estou aqui, na cozinha. Abro a geladeira, pego uma garrafa de água e bebo antes de ir para o quarto. Ao entrar, vejo apenas suas roupas em cima da cama. Tiro meu vestido e saltos, ficando apenas de sutiã e calcinha na cor branca.
Caminho até o banheiro e ao entrar o vejo sentado no batendo que tem dentro do box. Ele está molhado, mas o chuveiro está desligado. Seus braços estão apoiados em seus joelhos e ele respira pausadamente como se estivesse buscando por controle.
- Amor? - digo e ele vira sua cabeça para me olhar.
O que vejo em seu rosto faz meu coração apertar. Tiro minha lingerie e quando já estou completamente nua, vou até ele e sento de lado em seu colo.
- Fala comigo. - Peço segurando seu rosto com as duas mãos.
Ele aperta minha cintura com seus braços e sussurra: - Eu não... consigo... eu... - ele não diz mais nada. Seus olhos se fecham e quando ele os abre toda a dor que eu havia visto antes parece se libertar.
Seokjin começa a chorar me apertando forte. Seu peito sobe e desce, me fazendo abraçá-lo na tentativa de acalmá-lo.
- Eu estou aqui meu amor. Eu estou aqui. - Falo em seu ouvido e sinto seu corpo todo tremer.
Tenho que confessar, eu nunca havia visto um homem chorar assim, pelo menos não ao vivo. A única figura masculina que eu tinha na vida era meu irmão. Jimin e eu nos dávamos muito bem, mas ele sempre foi muito reservado em relação as suas emoções. A única vez que o vi emotivo ou perto de chorar, foi quando nossa mãe passou mal devido a alguns problemas de saúde, quando eu ainda tinha dezesseis anos. Meu pai abandonou nossa família assim que completei dois anos de vida e nunca mais tivemos notícias dele.
Depois de meu irmão, os homens que conheci sempre transpareceram ser durões e cansei de ouvir de suas bocas que homem de verdade não chora.
Mas agora, vendo o homem que eu amo chorar sem pudor, vergonha ou medo bem na minha frente me faz admira-lo ainda mais. Eu amo o fato de Seokjin não ter masculinidade frágil. Ele não se incomoda de expressar suas emoções e nem seus sentimentos. Arrisco-me a dizer que ele consegue ser mais sensível que eu. Na verdade, ele é mais sensível, mais carinhoso e atencioso que eu, que tenho a delicadeza de um elefante.
Passo a mão por seu cabelo molhado quando ele choraminga: - Não me deixe! - diz entre soluços - Por favor, não me deixe.
- Ei... - falo voltando a segurar seu rosto - ... eu não vou a lugar nenhum. - Digo firme olhando em seus olhos já vermelhos pelo choro. - Eu não sei o que você está pensando, mas eu sempre vou estar ao seu lado. Nunca duvide disse.
Ele anui e eu enxugo suas lágrimas, depositando beijos por todo seu rosto.
- Me desculpe. - Fala com a voz embargada.
- Não precisa pedir desculpas.
- É que eu tenho tanto medo de perder você. - Confessa.
- Não vai, por que eu te amo seu bobo. - Falo e ele sorri fraco - Melhor? - pergunto e ele balança a cabeça confirmando - Tudo bem. Agora eu vou cuidar de você.
Ligo o chuveiro e deixo a água cair sobe sua cabeça. Levanto e pego o sabonete líquido, colocando um pouco em minhas mãos. Massageio seus ombros, peito e braços, intercalando com beijos suaves. Ele relaxa, fecha os olhos e joga sua cabeça para trás apoiando-a na parede. Fica assim por alguns minutos até que começa a falar, e me sento ao seu lado.
- Conheci Yoongi logo que... cheguei ao Brasil.
- Se você não quiser falar, tudo bem.
- Não. Eu quero. - Engole em seco, mas logo continua tendo toda minha atenção - Nos tornamos melhores amigos e ele era como um irmão para mim. Sempre fizemos planos juntos, ele era da família assim como Taehyung e sempre estava presente em aniversários, natais e... viagens. - Eu seguro sua mão e aperto sutilmente como um incentivo - Quando decidi ir à Itália não pensei duas vezes em levar meu irmão e meus amigos comigo. Logo na primeira noite, decidi sair para uma boate. Jungkook conheceu uma garota e Taehyung não estava se sentindo bem, então... apenas Yoongi e eu fomos. E... - Sokjin aperta mais minha mão e abre os olhos.
Vejo neles o quanto falar disso é difícil. Ele solta um longo suspiro antes de continuar: - Eu sempre fui um pouco paranoico com segurança, principalmente depois de tudo que minha família passou com a morte de minha tia Aurora, mãe de Daniel. Ela foi... atropelada.
- Eu sinto muito. - Digo tocando carinhosamente seu braço.
- Na época foi muito difícil para minha família. Ela era muito jovem e meu primo muito novo. Meu tio teve depressão e levou anos para ficar bem. - Seokjin olha para frente antes de continuar - Eu nunca dirigi depois de beber. Mesmo que fosse apenas um copo. Mas mesmo sendo cuidadoso... - ele balança a cabeça - Naquela noite, Yoongi queria beber então eu era o motorista da vez. Ficamos algumas horas na boate, dançamos e acabamos conhecendo duas mulheres...
Ele faz uma pausa, me olha e eu digo: - Tudo bem. Continue meu amor. - Ele anui e assim o faz.
- Decidimos ir para o hotel. Elas foram nos seguindo, pois estavam de carro também. Em um determinado lugar do caminho, um carro invadiu a nossa pista e... - Algumas lágrimas começam a cair e sua voz fica fraca - ... eu não consegui evitar. Eu tentei, mas... mas foi tudo tão... tão rápido e...
- E... - Digo passando meus dedos por sua bochecha - ... a culpa não foi sua.
- Desde o dia que eu acordei no hospital e recebi a notícia de que meu amigo não tinha sobrevivido, eu me sinto tão culpado Jisoo. Todas as vezes que eu olhava para minhas pernas me lembrava daquele dia. - Ele olha para baixo - O dia que eu perdi meu amigo, que Júlio e Paula perderam seu filho mais velho... Ele era tão... tão alegre e divertido.
- Meu amor...
- Depois daquele dia, eu não consegui mais vê-los.
Faço um carinho em seu rosto e digo: - Seokjin, eu não consigo imaginar o quão difícil foi para você passar por tudo isso e ainda perder alguém que você tanto amava. Infelizmente, tragédias acontecem com pessoas boas e ... não há nada a ser feito. Você foi uma vítima da imprudência de alguém e eu sei que você jamais vai esquecer o que aconteceu. Mas você tem duas opções: ou você acorda todos os dias disposto a lutar e viver sua vida fazendo o melhor que você pode ou passa o resto dos seus dias se lamentando, sofrendo, desperdiçando vida. A vida que foi lhe dada pela segunda vez.
Ele fica por um tempo em silêncio, apenas me olhando. Encosta sua testa na minha, segura meu rosto e me beija.
O beijo é doce, lento, cheio de amor.
- Você não existe, sabia? - diz me olhando nos olhos - Obrigado por me amar e... por não desistir de mim.
- Obrigada por confiar em mim.
- Você me trouxe Esperança Jisoo, quando eu já não tinha mais forças para lutar.
- E você me trouxe algo que eu sempre busquei, mas sempre achei ser impossível de encontrar. - Falo e um sorriso apaixonado surge em seu rosto - Paz... Você me trouxe a paz de viver um amor tranquilo.
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𝐒𝐄𝐎𝐊𝐉𝐈𝐍, a família jeon
Romantizm↬αdαρтαçασ jiиรσσ •lσиg-fic• cσиclυídα • vσlυмє σиє ❛ Não há como esquecer, e mesmo que eu quisesse, todas as vezes que me olho no espelho, o sentimento de culpa vem tão forte que sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado.❜ ⇢ 𝐃𝐢𝐫𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬...