A Obrigação - 5° Geração

Nervosismo

Nico

Estou arrumando as pastas na estante enquanto meu pai joga dominó com Leon, os dois me dão um olhar repreensivo quando erro e um sorriso fraco quando acerto. Acabei de mandar os seguranças tirarem um cara que estava apostando o que não tinha daqui.

-O que você errou?- meu pai pergunta quando volto a me sentar.

-Não sei, é o certo mandar ele embora quando não tem mais nada...

-O certo para ele.- Leon aponta.

-Pense.- meu pai me observa.

-Talvez...- repetido fundo.- Deixar ele continuar para acumular uma dívida e nos dever.

-Isso.- meu pai assente.- Tem que lembrar que nós não somos os mocinhos, ganhamos dinheiro com o descuido dos outros.

-Ok.- assente.

-Como resolveu o caso do cara que foi pego abusando uma das dançarinas?- ele pergunta fazendo a jogada dele contra Leon.

-Mandei Luigi dar uma lição e então desaparecer com ele.- falo.

-Isso, você só suja as mãos quando for necessário.- meu pai relembra.

-Com licença.- Luigi abre a porta.- Kiara está aqui.

-Kiara?- fico surpreso.

-Ela fez um trabalho para nós.- meu pai fala calmo.

-Pode mandar subir.- me encosto na cadeira e ele sai.- Que tipo de trabalho?

-Ela vai dar as informações e você vai se virar com o que tem.- ele suspira.- Esse jogo está chato, o que tem mais?

-Cartas.- Leon aponta.

-Esse.- meu pai assente.

Kiara era uma das primas que eu menos via, era até engraçado já que eu era o mais velho e ela era a mais nova. Eram doze anos de diferença, e mesmo assim ela sempre parecia estar acima de mim quando entrava no escritório com aquela roupa toda preta.

-Como foi lá?- meu pai pergunta.

-Quente.- ela cruza os braços e os cabelos loiros mal aparecem por causa do capuz.- O pagamento.

-Nico, primeira gaveta.- ele aponta.

Abro a gaveta e vejo um envelope fino, não tem como ter dinheiro aqui dentro e nem pode ser um cheque. Ela pega dos meus dedos e me observa, então senta na cadeira e abaixa o capuz, vejo um corte em sua bochecha e os olhos azuis frios me fitam.

-Estão planejando algo com o casamento.- ela fala.- Ouvi algo parecido com exigir alguns loteamentos que vocês tem por Vegas.

Meu pai olha para mim e percebo.

-Quer usar o casamento para pegar propriedades?- pergunto e ela assente.- O que mais?

-Falou que Virgínia está jogando um jogo perigoso. Algo sobre ela tentar não deixar com que ele tenha as coisas que quer.- ela passa a mão pela bochecha e limpa o sangue.