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Virgínia

O amigo de Nico está dormindo e o avião já partiu, não acredito que realmente estou saindo daqui. É horrível por que essa é a terra onde eu cresci, mas é bom porque eu não vou ter que ver Mauro nunca mais na minha vida.

Nico volta do banheiro e senta ao meu lado nas poltronas confortáveis e elegantes, estou um pouco nervosa de estar indo para um lugar que eu não conheço com uma pessoa que mal conheço. Engulo em seco e olho para a janelinha ao meu lado, Nico disse que tinha medo de ficar na janelinha.

Olho para o outro lado e vejo o amigo dele, a camisa está meio aberta e ele está muito imóvel para alguém que está dormindo, só sei que está acordado por que ele faz um ruído de vez em quando. Também está de óculos, então não dá para saber se está fingindo ou isso é real.

-Ele dorme muito depois de uma noite assim.- Nico explica.

-Vocês dois atingiram o limite da bebida.- falo com calma e Nico ri.

-Na verdade, a gente até atingiu cedo. Acho que por que era uísque.- ele mexe o dedo no couro confortável do assento.- Seu pai planejava isso há quanto tempo?

-Um ano.- volto a olhar para frente.- Ele quer alguma coisa de vocês. Não sei o que é, mas dá pra ver...

-Ele quer poder.- Nico fala sério.- Só isso.

-Talvez.- viro o rosto e olho para a janela.- Já contou para sua família?

-Não se preocupe.- é só o que ele fala.

-Temos um mês para o casamento.- volto a encarar os olhos verdes.- Eu deveria me preocupar.

-Eu sei, mas não é tão fácil assim.- ele limpa a garganta.- Meu pai vai me matar assim que eu disser o que aconteceu.

-Seu pai mataria você?- fico surpresa e ele me observa.

-Não, é forma de falar.- ele continua com aqueles olhos em mim.- Ele fala desde cedo que Xavier é perigoso.

-Bom, devia ter ouvido seu pai.- começo a ficar incomodada com aquele olhar.- Eu preciso ir no banheiro.

-A vontade.- ele não move um dedo.

Travo o maxilar e tiro o cinto, me levanto e fico de costas para ele enquanto passo entre a cadeira e suas pernas. O avião dá um solavanco e sinto suas mãos na minha cintura antes que eu caia direto no colo dele.

-Quer ajuda?- ele brinca e eu afasto as mãos dele.

Passo pelo corredor e entro no banheiro, olho para meu rosto enquanto afasto meus cabelos. Respiro fundo e tento me acalmar, mas tudo está acontecendo tão rápido que acho que vou acabar vomitando, e tudo vai ser culpa do avião, apenas do avião.

Fecho meus olhos e respiro fundo contando até cinco, sinto o ar entrando para meus pulmões e saindo, sinto o ar-condicionado bem em cima da minha cabeça e sinto outro solavanco. Bato as costas contra a parede e me encaro no espelho para ver a minha cara de assustada.

Dou uma risada bem humorada tentando ficar mais relaxada e saio do banheiro, volto para meu assento e Nico já arrumou uma revista de fofoca. Então me ajeito na poltrona e olho de novo para a janela ao meu lado como se ela fosse a resolução para meus problemas.

-Gostando da vista?- pergunta.

-Sim.- assinto.

-Você nunca foi para Vegas, não é?- pergunta e assinto de novo.- Parece que seu pai não gosta muito de você.

-Eu e ele temos nossos problemas.- falo calma, ainda não o encarando.

-Você tem problemas demais.- ele fala e rio virando o rosto para olhar para ele.

A Obrigação - 5° GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora