Boas ações

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- Quando será que ele vai acordar?

- É melhor deixar ele quieto.

- E se já tiver batido as botas?

- Ele não está morto. Olha só; tem cara de defunto?

- Tem.

- Ei, vocês dois. Não fiquem tempo de mais aqui.

- Tá bom. - Uníssono.


Aos poucos Arthur foi retomando a consciência. Ao abrir os olhos ele viu que estava em um quarto pequeno com apenas uma cama, uma mesa e uma janela redonda e pequena.

Rapidamente ele levantou da cama que estava deitado.

Ok. Não lembro de como vim parar aqui.

De repente ele ouviu sons de passos e logo procurou algo que pudesse usar como arma. Mas não tinha nada além de um garfo; o que já foi suficiente pra ele se armar.

Logo a porta foi aberta e de lá saiu uma garota de cabelo cacheado carregando uma tijela que ao vê-lo em posição de ataque se assustou, derramando a sopa que levava e gritando bem alto.

O que? Uma garota?

Ao ver a sopa derramada no chão, os lençóis quentinhos em sua cama, os remédios na mesa próxima a ela e o curativo em seu peito, Arthur ficou confuso.

Estão cuidando de mim?

Espera!

- O que! - Arthur gritou - Por que eu tô só de cueca?

No mesmo instante um garoto idêntico a menina de cabelo cacheado surgiu na porta.

- Finalmente você acordou. - Disse ele - Mas por que está segurando um garfo de plástico?

- Em? - Arthur olhou para a mão e o garfo quebrou.

Em seguida ele se sentiu tonto e caiu já perdendo novamente a consciência.

Depois de algumas horas ele acordou novamente e, após conferir que estava totalmente vestido, levantou da cama, saiu pela porta e desceu uma escada de madeira dando de cara com o garoto de antes.

- Ví. - Gritou - Por que você não trancou a porta do quarto?

- Eu achei que você tinha ficado responsável por isso. - Ela respondeu e logo se assustou novamente ao vê-lo.

- Calma, cara. - Disse o garoto - Ninguém aqui vai te machucar.

- Que lugar é esse? - Perguntou Arthur - E como vim parar aqui? 

- "Esse lugar" não tem um nome específico, mas a gente costumava chamar de vilarejo dos sonhos. - Respondeu - E nós te achamos no rio, boiando em um tronco, quatro dias atrás.

- Quatro dias? - Ele se assustou.

- Isso mesmo.

Ainda pasmo, Arthur se sentou na escada, mas de repente sua barriga roncou tão alto que os outros dois puderam ouvir.

- Eita. - O garoto sorriu - Vou trazer algo pra você come.

- Por que estão me ajudando?

- Porque você precisa de ajuda. É isso que seres humanos fazem. - Respondeu - A propósito, eu ou o Edu e essa aqui é a Ví.

Os dois sorriram, mas Arthur não esboçou nenhuma expressão.

Seres humanos, é?

- Vocês moram sozinhos aqui? São só duas crianças.

- Eu não sou criança, tenho quinze anos. - Disse Edu - Minha irmã é um ano mais velha. E nós temos outra irmã que não está aqui, agora.

Depois disso, Arthur se sentou na mesa da pequena cozinha e comeu enquanto observava aqueles dois irmãos conversando e sorrindo. Era triste pra ele saber que nunca poderia ter um dia assim.

- Obrigado por tudo. - Disse ele ao terminar de comer - Agora eu tenho que ir.

- O que? - Disse Vi - Nada disso. Tem um ferimento a bala no seu peito. Você tem que voltar pro quarto e descansar.

- Não me dê ordens. - Arthur lançou um olhar furioso para a garota que ficou logo assustada.

No mesmo instante a porta da casa se abriu e surgiu outra garota que tinha longos cabelos castanhos acobreado a qual duas tranças partiam das orelhas e se juntavam na nuca.

- O que ele ta fazendo aqui? - Disse ela ao ver Arthur - Eu disse pra não deixarem ele sair do quarto.

- Foi a Ví que esqueceu de trancar a porta. - Disse Edu.

- Eu não! 

- Acalmem-se crianças. - Disse com tom gentil, uma senhora que surgiu detrás da garota que tinha acabado de chegar - E você, meu jovem, me deixe trocar seu curativo.

Arthur não pôde recusar.

Em seguida os dois subiram até o quarto e Arthur tirou a camisa e o curativo.

- O que? - Disse a senhora assustada - Já está cicatrizando.

Arthur continuou sem esboçar nenhuma expressão.

- Não se preocupe. - Disse a velhinha - Não precisa dizer como isso aconteceu.

Mesmo com ele ainda em silêncio, a senhorinha continuou dizendo:

- Meu nome é Alice. - Sorriu - Mas todos aqui me chamam de Iaiá; e você pode me chamar também se quiser. A propósito, como se chama?

- Arthur.

- Que nome bonito... Que tal irmos amanhã de manhã falar com meu marido. Foi ele quem tirou a bala do seu peito. Depois de uma avaliação você pode ir embora, mas se quiser ficar será mais que bem vindo.

Alice o enfaixou e saiu do quarto.

-Descanse bem, criança. - Fechou a porta.

Arthur deitou, olhou para o teto e pensou:

Como uma pessoa pode ser tão boa assim, mesmo com alguém que nem conhece. 

SOMBRAS DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora