dinastia Hernàndez

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Quando cogitei a ideia de ficar sozinha por um dia todo em um lugar desconhecido, realmente acreditei que seria algo mais empolgante a simplesmente me deitar no sofá enquanto leio as últimas notícias do Google.

Talvez por eu crescer em uma família enorme com dezenas de primos, oito tios e vários xeretas eu nunca tenha sido acostumada a ficar sozinha por completo. Até mesmo quando todos saiam e a casa ficava apenas para mim, os empregados da casa estavam lá, e eu sempre aproveitava para fofocar sobre qualquer um com Magda, uma senhora que nos auxiliava com o preparo da comida, apesar de meus pais cozinharem muito bem.

Bufo frustrada, deixando o celular cair sobre o sofá.

"Você pode sair. Arruma algum cara bonitão 'pra te fazer esquecer seu ex."

A frase de Claudia paira sobre minha mente, me dando a dose inicial do ânimo que precisava para me levantar e ir até o quarto pegar alguma roupa quente para sair do apartamento por algumas horas. Sair apenas para andar e comer alguma porcaria. É bom não ter homem algum ao qual você tem de dar satisfação sobre suas companhias a toda hora, mais específica... é um alívio. Um alívio que só cresce quando me lembro que o idiota pelo qual eu estava apaixonada por longos meses está agora em outro continente, fodendo a mente de outra pessoa burra o suficiente para cair em sua lábia como eu caí.

Pego o celular no sofá indo até o quarto em que eu estava. Visto outro sobretudo alongado que havia trago, um cachecol e um par de luvas. O clima de Londres não me favorecia a usar um simples moletom ou blusa de frio.

Antes de sair do apartamento pego um dos muitos chaveiros pendurados no suporte atrás da porta, um que consigo identificar a chave da porta. Dou "boa noite" a uma senhora no elevador quando ela me cumprimenta. Apesar de o relógio ainda marcar às seis da tarde, as pessoas em Londres tem os costumes diferentes dos meus. Alguns estranhos como tomar chá com leite ou comer sanduíche no lugar do almoço. Mas outros aos quais queria me habituar, como a pontualidade e a educação impecável que eles tem com qualquer um.

O porteiro, na entrada, acena-me com um sorriso.

Já andando lentamente pela calçada movimentada, desbloqueio meu celular para que o GPS me diga se Trafalgar Square era tão longe de onde estava. Após ler os "12 km" escritos, desisto e pego um táxi que passava por ali. Outra coisa que amo em Londres: os táxis, cabines telefônicas também.

Quando o motorista me deixa na praça, o agradeço e o pago com o cartão que deixo na capinha do meu celular — por favor, não me julguem —. Pelo dia e pelo horário, poucas pessoas estão circulando por lá, a maioria se encontra no museu que já estava fechando.

A menos de quatro metros posso observar os dois leões de bronze esculpidos sob mármore branco ao arredor do local.

Sir Edwin Landseer foi convidado, em 1858, para criar as esculturas, mas trabalhou tão devagar que, quatro anos depois, os leões não tinham nem saído dos desenhos. Ele passou horas no zoológico de Londres, estudando os hábitos dos felinos e até clamou por um leão morto de modo a manter em seu estúdio para estudo — teve de esperar dois anos até um do zoológico morrer—. Os leões da Trafalgar Square foram finalmente instalados em 1867, e mesmo que o trabalho tenha sido demorado e minucioso, suas patas se assemelham mais às de um gato.

Quando ando para longe dos leões, me aproximando cada vez mais da fonte de água situada no centro da praça, observo os pequenos flocos de neve caindo sobre mim. A neve rala e calma contrastavam com o céu completamente branco. Havia escolhido um dia péssimo para sair de casa, com certeza eu conseguiria ficar presa sem saber onde estou e cercada por neve e mais neve.

Enquanto caminho em direção às atrações artísticas, posso constatar, mesmo de longe, um hotel do outro lado da rua. "Club Quarters Hotel" era o quê um turista me disse ser o nome, acompanhado com a frase "O único ponto ruim é o preço".

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora