azul é a cor mais quente

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Cozinhar nunca foi o meu forte, talvez porque cresci tendo pessoas para fazer tudo 'pra mim e nem ao menos precisava arrumar meu quarto, mas mesmo assim eu e o fogão nunca nos demos bem. Sempre evitei panelas e chamas e comidas que não poderiam ser feitas no microondas... até arrumar uma mulher que tem síndrome de Master Chefe.

— Têm certeza que isso aí não 'tá queimando? — Billie faz uma careta com a minha reclamação.

— Pare de ser chata, ja disse que eu sou boa.

— Amor, 'ta cheirando a queimado — me aproximo dela, ela desvia o olhar e volta a mexer o risoto na panela.

— Não é porquê há fumaça que há fogo.

— Acho que o ditado não é bem assim... — sorrio fraco, ela nega.

— Pois eu acabei de mudar ele, meu bem. — vejo-a colocando a chama do bocal desligada e tapando a panela. — Já escolheu o filme que vamos ver?

— Ainda não, qualquer coisa pra mim 'tá bom.

Duvido que vou prestar atenção no filme com uma mulher dessas do meu lado.

— Vou pegar a coberta lá no quarto, já volto — diz ela, deixando um selinho no meu lábio para então subir escada acima.

Ja haviam se passado dois dias. O relógio marcava as 22:45 de um quinta feira, é incrível como o tempo passa rápido perto de quem gostamos.

Descobri que além de cozinhar muito bem, Billie também canta muito bem. Ela cantou para mim, tocando violão e tudo. Acho que me apaixonei mais ainda ali. Depois sua mãe apareceu por aqui e fez menção de me contar várias histórias de quando a filha cantava na igreja com o irmão.

Dona Maggie me ensinou a fazer uma sopa que melhorou minha garganta em um dia, um dia só. Pareceu até bruxaria de tão eficaz.

Em cima do balcão, o celular de Billie acende e o som das notificações ecoam no ambiente.

— Amor, alguém te mandou mensagem — digo alto para que ela escute do quarto, quase na mesma hora consigo a ver começando a descer as escadas com a coberta e um travesseiro em mãos.

— Olha se é a Lauren ou a minha família, por favor, se não for pode ignorar — faço um sinal de positivo com as mãos.

Estico o braço e pego o eletrônico em mãos, não é Lauren ou alguém que eu conheça.

"Pedi demissão hoje a tarde, pode vir amanhã assinar os papéis e eu poder sair daqui?".

— Quem é Hailey e por que ela pediu demissão? — pergunto, deixando o celular onde peguei e indo em direção a geladeira.

— É a minha estagiária — pego a garrafa de vinho na porta.

— Ah... — não me lembro da mulher, e então uma luz se acende na minha cabeça — Uma que de vez em quando gruda em você igual a um carrapato?  — Olho para Billie, ela parece não ter entendido minha brincadeira, ou nem ter me escutado, porquê no lugar da Billie de dez segundos atrás há uma Billie séria com o celular na mão. — Amor? — ela ergue o olhar.

— Desculpa... o que você disse?

— Nada, esquece... — despejo vinho nos copos de vidro que pego dentro do armário.

Enquanto guardo a garrafa e roubo um gole do copo de Billie, ela vai até a sala, escuto o som da televisão e o barulho dela trancando a porta e pondo Shark para o lado de fora da casa. O jeito com que ela fala com ele é fofo, mas naquela noite ela mal conversa com as suas brincadeiras.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora