girfriend, or girl that's a friend?

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Sinto o peso do corpo de Anne na minha barriga quando acordo. Seus olhos estão fechados e seu corpo mexe alguns centímetros quando ela respira forte e suspira profundo. Ao meu lado, Ele dorme com o rosto virado-me e uma mão debaixo do travesseiro, sua feição serena não dura muito, pois ela abre minimamente os olhos quando o barulho dos carros na rua se torna um pouco alto e a desperta. Seu olhar se cruza com o meu e ela sorri fraco.

— Gosta de ficar me observando, não é? Stalker. — concordo.

— Não posso fazer nada se você chama a atenção por onde passa, Hernández — ela ri fraco da brincadeira e se senta na cama, vagarosamente.

Ela olha pela janela, o vento balançando a cortina, e enquanto eu me esgueiro de Anne a deixando ainda em sonhos profundos na cama, Eleanor fecha as portinhas de vidro não deixando o frio entrar. Antes de sair, ajeito um cobertor em cima da pequena.

— Não sabia que era tão boa com crianças — diz ela quando finalmente está fora do cômodo. Encosto a porta do quarto enquanto a olho — Eu não sei nada sobre você.

— Com o tempo você poderá descobrir várias coisas sobre mim — ela concorda, seu olhar vagando entre meus olhos e minha boca. — 'Tá tudo bem?

— Aham... — ela responde, sem aprofundar sua resposta. — Você tem uma escova reserva? Devo estar com bafo.

— Tenho, deve estar no banheiro lá debaixo — assinto — Vem.

Hernández me segue durante o percurso que pegamos, a escadaria até chegar ao corredor com um banheiro logo ao fim.

Quando entramos ela acende as luzes amareladas de menor luminância que se concentram no espelho principal do cômodo. Vou até o armarinho embaixo do mármore e tiro dele duas escovas de dente e um tubo de pasta-dental.

— Sabe, eu 'tava lembrando... Não que eu lembre muita coisa, na verdade, eu estava tentando lembrar — Ele começa a embolar as palavras no meio da frase como sempre realizava quando ficava nervosa perto de mim. Ela fecha a porta como se não quisesse que ninguém escutasse nada. — É complicado... Sabe? Eu...

— Pode falar, não é como se algo que você dissesse pudesse me surpreender — me viro a ela, deixando os objetos em cima da bancada. Ele aperta os dedos se aproximando de mim.

Sua respiração se torna descompassada quando ela se encosta na parede ao meu lado, mais ainda quando eu me viro a ela.

— Naquele dia, no hotel... Quando você apareceu no quarto e nós... Okay, como falo isso. Eu-

— Era a primeira vez que você ficou com uma mulher? Sei disso. — ela negou.

— Não, quer dizer, sim, é verdade. Mas não é sobre isso.

— Então... — ela suspira.

— Soa muito ruim se eu disser que não me lembro? Tipo, não lembro de quando nós...

Arregalo os olhos.

— Você não se lembra?!?

— Não, quer dizer, sim, eu me lembro de uma parte, só até quando... Meu Deus! Eu não falo isso em voz alta, Billie, prefiro acreditar que eu ainda tenho um pingo de salvação dentro de mim — a confusão nas palavras e o modo como ela se oprime para confessar algo me faz rir — Isso é desesperador, você não pode rir disso.

— Ah, eu posso sim! — sorrio quando vejo suas bochechas ficando avermelhadas — Não fica com vergonha, é normal não lembrar das coisas após beber.

— Você fala isso porquê não foi com você.

— Eu já estou bem acostumada com essas coisas — de nada adianta minhas palavras, e ela cruza os braços a sua frente batendo a ponta do dedo indicador contra seu antebraço freneticamente — Vem aqui...

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora