the dialogue

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Encaro o laptop na minha frente novamente, meus olhos estavam cansados e eu sentia um cansaço enorme. Fim de expediente, fim de temporada, véspera de férias. É sempre assim. Uma correria que sufoca até a alma, mas vale a pena. Vale a pena pelo bônus que ganho no fim do mês e pelos dias em que não preciso trabalhar.

Desligo a luminária em cima da mesa. Olho pela parede de vidro fumê o por do sol que surgia bem atrás dos prédios comerciais e tinha uma alaranjado incrível. Contornava perfeitamente a silhueta de Eleanor, que estava sentada no poof cinza de pernas cruzadas com seu Kindle na mão.

Eu amava prestar atenção nos seus mínimos detalhes, como agora, as mínimas expressões que fazia enquanto lia, a mania de ficar mexendo no cabelo o jogando de um lado para o outro e o óculos de grau que era ajeitado a cada minuto.

— Acabou? — pergunta ela, logo retirando o olhar da leitura e o voltando a mim.

— Acabei — digo, me referindo ao documento que estava escrevendo. Vejo o descontentamento que cresce no seu rosto. — Sabe que nós não precisamos ir nesse jantar se não quiser, não é?

— Infelizmente precisamos — retruca ela, suspirando — Meu pai está se esforçando, e eu preciso reconhecer isso de alguma forma, nem que seja assim.

Assinto, a vendo se levantar de onde estava. Aquela situação só me fazia entender ainda mais que vivemos em polos totalmente distintos. Eleanor odiava tanto encarar os pais que isso me fazia refletir sobre como teria sido sua infância e adolescência.

— Falou com a sua mãe?

— Tentei uma ligação, à qual ela ignorou — ri de nervoso. — Mas tudo bem, não vivo mais na barra da saia dela...

— Mesmo assim ela não deixa de ser sua mãe — murmuro baixo, recebendo o mesmo olhar que ela direciona aos outros quando dizem algo errado — Eu só estou dizendo que...

— Então é melhor não dizer nada.— diz diretamente a mim, virando as costas e saindo da sala como se eu não estivesse mais ali — O jantar vai ser às oito, vou te mandar o endereço por mensagem.

— Não quer que eu te acompanhe?

— Acho melhor eu ficar um tempo sozinha.

Com essas últimas palavras, me vejo sozinha na sala apenas com o barulho bruto e grave da porta sendo fechada.

(...)

Eleanor não me manda mensagem alguma. São oito e cinquenta e me encontro jogada na cama escutando o barulho da chuva que cai la fora. Trovões se fazem presente e é com tal fenômeno natural que o quarto se ilumina por breves segundos.

Amor, cadê você?

Eleanor?

Bufo encarando o celular, desistindo de tentar ser ouvida.

Quase que imediatamente consigo escutar o latido de Shark. A campainha soa freneticamente, e antes que eu tenha qualquer reação meu celular toca em uma chamada de um número desconhecido.

Me arrasto pela cama pegando o celular.

— Oi?

Oi, Billie, é a Claudia. Por acaso a Eleanor está com você?  

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora