jealousy

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— Está me evitando? — Billie me observa com as mãos para trás, escorada em uma viga de mármore, seu rosto é sério e a cabeça está tombada para o lado, prestando atenção em mim.

Escondo meu nervosismo, ou pelo menos tento fazer isso.

— Não estou.

— Você mente muito mal — seus lábios se curvam em um sorriso fraco.

Minha cabeça passa cenas daquela fatídica noite bem naquele momento como se quisesse me sabotar a qualquer custo.

— Não estou mentindo, O'connell, e você não deve falar comigo nesse modo — de nada adianta minha tentativa.

Me viro a Billie, tentando achar algum resquício em sua postura que indicasse alguma saída após algumas palavras.

— Fora da empresa somos somente duas mulheres, aqui posso conversar com você do jeito que eu quiser, Eleanor — me contenho para não sair dali com qualquer frase carregada de sarcasmo à altura — Por que está me evitando?

— Não estou te evitando. — ela arruma sua postura, desgrudando as costas do mármore para por último erguer a cabeça me fitando enquanto dá um passo a frente. Minha respiração se torna descompassada naquele exato momento — Nós... transamos, eu nem se quer te conheço, e pelo visto você trabalha 'pra mim, Billie, talvez seja por isso que eu estou te evitando. — descarrego minhas palavras, mesmo que elas pareçam não fazer efeito nenhum sobre a mulher.

Meu olhar desce para seus braços descobertos como eu sempre fazia, era impossível não olhar. Ela parecia ficar mil vezes mais atraents quando usava alguma regata que deixasse suas tatuagens dos membros superiores a mostra.

— É esse o problema? Sério? — assinto — Está mentindo... de novo.

— Não estou! — ela ri nasal.

Eu estou.

— Já que não quer conversar e facilitar as coisas, vou terminar meu almoço e a deixar voltar para o seu namoradinho — ela enfia as mãos nos bolsos da calça.

Até parecia ter ciúmes.

— Ele não é meu namorado.

— Então costuma levar vários dos seus subordinados para almoçar em um restaurante bonito? — agora sou eu quem sorrio.

— Você não pode dizer nada, também veio acompanhada de uma das suas subordinadas.

— Lauren é apenas uma amiga — noto seu olhar sobre mim, tentando me hipnotizar como já havia feito antes.

O pior é que funciona.

— Não é o que parece.

— Está com ciúmes? — ela pergunta, seu sorriso me irrita.

— Ciúmes de você?!? Não!

— Okay, vou fingir que acredito em você... — reviro os olhos.

Sem dizer mais uma palavra, tento passar por Billie para alcançar a porta. Um ato falho, pois sua mão agarra meu pulso me impossibilitando de sair dali. Fito seus olhos azuis, que agora pareciam me devorar com suas íris oculares claras. Deixo que meu olhar se arraste dos seus olhos até seus lábios carnudos. Quando a lucidez me vem à mente, solto meu braço e saio dali sem olhar a ela novamente.

— Tudo bem? — Madden me pergunta assim que me sento a mesa, faço que sim com a cabeça — Você demorou.

— Me ligaram da empresa me pedindo para voltar, se importa se eu for? Pego um táxi mesmo, não...

— Eu te levo sem problema algum, pode me esperar lá fora se quiser — ele sorri.

Quase me sinto mal pela situação.

(...)

Se tudo continuar nesse ritmo, teremos um aumento considerável de 15% no fim de casa semana por conta da desvalorização do dólar e a recente alavancada na exportação européia — Jauregui ressalta, expremendo os olhos a mim — Você está prestando atenção?

Pelo o que soube — e de acordo com as fichas — Lauren nasceu no mesmo país que eu, mas se mudou para Londres ainda criança, então não deve se lembrar de muito sobre a sua infância, consequentemente tem dupla nacionalidade.

Ela é bonita, incrivelmente bonita. Quase o padrão latino americano: com curvas, cabelos pretos, olhos verdes, tem um pouco do sotaque arrastado mesmo que quase imperceptível, é calma, fala tudo com objetividade, sorri frequentemente e se porta muito bem. Billie sem dúvidas deve ser muito feliz com ela, não sei. Se estiverem juntas devem fazer piadas sem graça uma com a outra, Lauren parece o tipo de pessoa que cozinha, e Billie... ela é ela.

Não deveria me importar com isso, e por mais que seja hipócrita, a idéia de Billie estar com qualquer um me incomoda.

Levo um susto quando Jauregui espalma as mãos a minha frente, me chamando a atenção.

— Oh, desculpe.

— No que tanto pensa? — seu sorriso me conforta, deve confortar Billie também — Estou falando a uns dez minutos e você não disse uma só palavra — a curiosidade brilha em seu olhar — Quem sabe eu possa esclarecer sua mente...

— Fofoqueira! — ela dá de ombros.

Não era comum eu me comportar daquele modo com alguém que trabalhasse comigo, porém, em todas as quatro reuniões formais ou informais que havia tido com ela, Jauregui conseguiu me fazer rir em meio a contas de matemática e possiveis falhas no algoritmo sistemático, algo remotamente impossível. Seu jeito me lembrava Claudia em algumas partes, sua personalidade principalmente.

— Eu sei guardar segredo, Ele — sorrio fraco com o apelido saindo da sua boca.

Se fosse qualquer outra pessoa eu a repreenderia, mas é a Lauren Jauregui.

— Conhece O'connell bem? — ela assente.

— Billie é minha amiga desde a faculdade — acompanho suas palavras, deitando minha cabeça em cima da minha mão apoiada — Você deveria tê-la visto loira e bem na época em que estava fazendo as tatuagens. Cada semana era uma nova.

Deixo um sorriso escapar mas me contenho assim que percebo. Lauren me olha como se estivesse me julgando.

— Está com ciúmes? — nego.

Como já comecei a admitir as coisas... Admito que senti ciúmes das duas, mas agora não mais.

— A reunião está encerrada. — sua gargalhada é boa de se ouvir.

— Deveria falar com Billie sobre isso, vocês duas fariam um belo casal. — sou oega de surpresa, ela percebe minha confusão e tenta arrumar a frase — Dona Eilish anda se mordendo de tanto ciúmes que ela tem de você e Madden juntos, não percebeu? — nego.

— Não acho que ela sinta qualquer coisa por mim, nem mesmo ciúmes — esvazio meus pulmões.

O olhar de Billie me vem à mente. Especificamente seu olhar enquanto me fitava com aquela correntinha fina de prata pura batendo no meu maxilar.

— É aí que você se engana, e olhe que você sempre está certa sobre tudo. — Lauren dá de ombros enquanto se levajta da mesa — Preciso ir. Mas conheço a amiga que tenho muito bem, Ele. E se quiser saber de mais uma coisa: Billie me faz vir aqui como um pombo correio para não precisar olhar pra você. Por favor acabe com essa babozeira, não aguento mais trabalhar por duas e chegar tarde em casa.

Rio com suas palavras, Lauren me lança um aceno amigável antes de sair da sala. Quando a porta se abre, estranho a minha secretária passando bem naquele momento, mas ignoro assim como ela ignora a presença de Lauren alí.

As suas palavras ficam em minha mente.

Preciso fazer algo.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora