daddy issues

747 80 10
                                    

Famílias nem sempre são como deveriam ser. A minha, por exemplo, na maior parte do tempo nem parecia uma família, mas sim uma grande série em que todos são movidos pela ganância e alguns se unem.

Ontem foi o último dia do meu irmão em Londres, me despedir dele mais uma vez foi doloroso. Doloroso por que na minha família, apenas tenho meus irmãos como minha real família.

E aí precisei me despedir de Anne, que chorou depois de entrar no carro e perceber que não voltaria tão cedo. É ruim os ter tão longe, mas Matteo tem uma vida lá, uma esposa, uma filha... mesmo assim me parte o coração o olhar de Anne quando a desejei boa sorte na nova escolinha, Billie também ficou abalada com a partida da minha sobrinha, mas tentou mascarar isso.

Leo também foi embora.

Todos se foram, e eu fiquei aqui, sozinha.

Sozinha em partes, por quê tenho Claudia, Emily, Billie, e talvez, só talvez, eu esteja me tornando amiga da Lauren e da noiva dela.

— Você andou tão calada hoje — diz Mily, com um sorriso cabisbaixo como se estivesse entendendo meus sentimentos.

— Meus irmãos foram embora — dou de ombros.

Encaro o copo de whisky na palma da minha mão. Rodo o restinho do líquido no colo antes de queimar minha garganta com o alto teor alcoólico.

— Ô meu bem... — minha amiga vem até mim, se senta no sofá e me abraça.  Me sinto uma criancinha abraçada a ela, uma criancinha muito triste, e muito velha.

— É muito maluco pensar que desde que eu cheguei aqui, a gente nem fez nada né? — ela concorda.

— Nossas rotinas são muito diferentes, mas assim que eu tirar férias ou uma folguinha que seja prometo que podemos ir a algum lugar.

— Como no colegial?

— Como no colegial! Eu, você e a Clau, como nos não tão velhos tempos — rio de sua gracinha.

Olho para cima, bem aos lustres dispostos no teto, sentindo meus olhos marejados se tornarem menos turvos.

(...)

Billie tem o cheiro de lavanda de sempre. É insuportável como seu perfume não consegue ofuscar o cheiro do shampoo.

— Depois desse contrato, eu quero sair dessa cidade um pouco.  — digo, terminando de ajeitar seu blazer escuro — É fim de ano, merecemos umas férias. O que acha de algumas semanas em Osaka?

— Onde seu irmão mora? — ela sorri ao me ver assentir — Eu adoraria.

— Vou te levar 'pra conhecer o estúdio dele, e Anne vai adorar te ver de novo.

— Se der certo vai ser a melhor viagem da minha — Ela esconde o rosto no meu pescoço, plantando um beijo ali. — Você não tem uma reunião agora?

— Sim, mas prefiro esperar todos os acionistas chegarem e só então entrar na sala. — digo — Me faz parecer autoritária, eu gosto.

— Te faz uma manipuladora, isso sim.

— Filha de peixinho, peixinho é — dou uma risada, logo deixando um selinho nos seus lábios.

— Ah é?

— Sim.

— Então irei manter distância.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora