clinical

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Aproximo-me com pressa do leito, encaro seus olhos assustados e cansados, eles transparecem dor e medo, como se ela soubesse exatamente o que estava acontecendo. Eleanor tenta se sentar na cama tossindo e apertando o pescoço como se estivesse com dor.

— Você está no hospital Pont la Cruz e está sendo tratada por mim e pela minha equipe, pode me dizer se recorda-se do seu nome? — o médico é rápido e termina de retirar a aparelhagem que a mantinha respirando de perto da maca.

Ela continua confusa, mas consegue murmurar seu nome com muita dificuldade e desconforto.

— Fique com ela por um momento, vou fazer algumas ligações — assinto às palavras do médico, e em seguida ele se retira dali.

As enfermeiras andam mexendo nos equipamentos e retirando alguns dali.

Eleanor olha tudo assustada, pálida, com o rosto avermelhado e os lábios trêmulos.

— Ei, olha 'pra mim. 'Tá tudo bem, eu tô aqui com você... — Seguro seu rosto para que ela me olha-se, seu olhos se encontram com os meus e é quando ela parece cair em si própria — Você se lembra do que aconteceu? — é a primeira pergunta que eu faço, e então ela assente, com os olhos se enchendo de lágrimas e um soluço rasgando seu peito.

Seu choro se torna desesperado e tomo a liberdade de a abraçar, sua cabeça está escorada no meu peito e posso ter certeza que as lágrimas deixadas ali molharam o pano da minha camiseta.

Consigo ver a enfermeira mexer no soro que ela tomava na veia, e então olhar para mim antes de se retirar do quarto.

Não faço idéia de quanto tempo seu desespero dura, mas não é pouco. Gradativamente ela se acalma e então seu aperto se torna fraco. Não era ela se acalmando, tenho certeza de que aquilo era efeito de algum dos vários remédios que ela havia recebido no tempo em que estava alí.

— Me desculpa por aquilo, Billie, eu juro que não quis fazer nada mas na hora eu não conse-

— Ele se aproveitou, você não fez nada de errado — passo os dedos por entre seus fios de cabelo, sua testa começava a ficar úmida e uma raiva crescia dentro de mim. Mataria Dixon sem pensar duas vezes na próxima vez que eu o visse. — Fica calma... eu estou aqui. — retiro sua franja a movendo para o lado e beijo sua testa.

Eleanor não precisava de um longo diálogo que reviveria aquele momento, ela precisava de mim ali para simplesmente estar ali e a assegurar que eu não sairia dali. E é isso o que eu faço, permaneço ao seu lado, com o seu coração acelerado e seus soluços de choro fracos enquanto sinto suas mãos trêmulas.

Seu reflexo no vidro do hospital com as persianas fechadas doía de se ver. A sensação de a sentir naquele estado era a pior a qual já senti um dia. Sentia um pedaço de mim sendo arrancado do meu peito a cada vez que eu a olhava mesmo que ela tentasse esconder seu rosto.

É assim que me sinto e me findo por muito tempo.

Quando ela já está calma, o médico volta ao quarto e faz os exames de rotina. Junto a ele vem Collen e Matt, eles parecem trazer um pouco de luz ao quarto, e conseguem arrancar um sorriso mesmo que mínimo do rosto dela.

— Posso conversar com a Senhorita em particular? — murmura o médico olhando a mim. Assinto na mesma hora, sentido o aperto da mão que antes estava junto a minha se tornar mais forte.

Encaro Eleanor, que me suplica com o olhar choroso para que eu não vá, seu olhar fala por ela mesmo que nenhum som seja emitido.

— É rápido, eu já volto — ajeito seu cabelo atrás da sua orelha e deixo um beijo na sua testa novamente tentando a passar algum tipo de conforto, mesmo que mínimo.

Deixo-a com seus irmãos e sigo a fora do quarto junto ao médico, que se chama Torres. Li isso no crachá. Um nervosismo cresce dentro de mim quando ele me guia até o fim do corredor para uma conversa angustiante.

— E então... — murmuro, o Dr. Torres suspira e cruza os braços com a prancheta preenchida de informações sobre Hernández em mãos.

— Eleanor não corre risco de nenhuma infecção já que foi atendida rapidamente, e o seu organismo conseguiu resistir às drogas que lhe foram submetidas — a falta de entusiasmo na sua fala me faz ficar mais apreensiva ainda. — Essa é uma notícia ótima, eu a daria alta em alguns dias... Mas os exames de sangue de Eleanor me deixaram apreensivos quanto à sua saúde, a contagem de glóbulos brancos é baixíssima, tudo indica que ela não vem se alimentando a um tempo e o seu intestino está começando a criar uma ferida por conta dessa falta de alimentação adequada.

Me lembro de todas as vezes em que a percebi mais magra, ou em que percebi que ela não saia para almoçar, mas nunca imaginei que fosse algo preocupante, pensei que fosse somente o stress em excesso.

— Eu pedi um parecer do nosso psiquiatra para a examinar, espero poder contar com o apoio de todos vocês quanto a isso. — concordo, pensando por um longo tempo como eu não notei nada disso.

— Sim, claro. — ele nota minha preocupação, e dá um meio sorriso.

— Sua namorada sofreu um grande trauma mental, seu apoio neste momento vai ser de extrema importância, Billie, espero que esteja aqui por ela.

Sorrio de volta com a palavra "namorada", e assim o médico se despede com um gesto e entra e sai do corredor.

Volto para o quarto, a cena que eu vejo não me surpreende. Matteo está deitado ao lado da irmã na cama de hospital, ambos embaixo da coberta, enquanto Collen está com um livro de história infantis na mão, sentado na poltrona ao lado.

— Calem a boca, eu estou tentando ler! — rio com a frase, fecho a porta dali atraindo a atenção deles.No momento em que eles me vêem o sorriso no rosto dos irmãos desaparecem — O que o médico disse?

— Disse que ela está fora de perigo e que não há risco algum — conto a parte boa com um sorriso no rosto. A falta de alimentação seria um assunto que eu só conversaria com ela primeiro, e depois com os seus irmãos separadamente.

Eleanor não está animada, e seus olhos quase se fechados me dizem que a enfermeira a deu algum remédio para que ela se acalmasse.

— Matteo você é o irmão, ela é a namorada — diz Collen, provocando-o enquanto faz um sinal para que ele se afaste — Levanta-te.

— Minhas pernas estão doendo... — o outro choraminga, se afundando mais no travesseiro, recebendo um olhar da irmã — Okay, okay. Eu sento na ponta.

Matt se levanta, me obrigando a me sentar ao lado de Eleanor.

— Você mente mal — murmura ela enquanto arruma a coberta sobre minhas pernas quando estou ao seu lado. Seu olhar se encontra com o meu, e é como quando sua mãe te diz a frase "Em casa a gente conversa", mas de um jeito mais gentil e suave.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora