confess me

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— Eu quero voltar 'pra casa — murmuro quase inaudível.

Collen murmura um "eu também" e expira sem animação alguma.

Estávamos no quarto, sem nada de bom para fazer. Eu e ele intercalávamos tentativas de passar o nível — um dos mais fáceis — de um joguinho aleatório no meu celular. Era a vez dele, com toda a sua concentração.

— Já chega, eu desisto! — exclama ele, me devolvendo o celular. Collen pende a cabeça para traz, encarando o teto escuro — Não aguento mais não fazer nada.

— Não há o que fazer. Depois do jantar todos os casais sumiram e só sobraram nós dois — ele bufa.

— Odeio ser solteiro — volta a me olhar, ainda desanimado — E você?

— Eu o quê?

— De todo mundo aqui, a única pessoa que eu não sei nada sobre, é você, Billie — ele espreita os olhos me encarando — Me fala alguma coisa sobre você.

— Eu sou desinteressante, Collen, nem vale a pena...

— Você é linda, tatuada, rica, e tem um irmão muito gato. Duvido que seja desinteressante — dou uma risada fraca — Pode ir contando algo que preste, nem que seja uma fofoca.

Fofoca? — em uma velocidade impressionante, a voz de Matteo se faz presente no quarto.

Quando olho para a porta, o vejo entrando no cômodo. Com os cabelos molhados e uma roupa comum. Na hora me lembro de Eleanor, por conta da semelhança dos dois.

Me pergunto se ela estava bem, se estava com Madden, e me preocupava com a sua segurança.

— Billie está prestes a me contar mais sobre ela, senta aqui 'pra escutar também. — diz Collen, com um sorriso mínimo no rosto.

— Não vale a pena me escutar... — De nada adianta as minhas palavras. Matteo se senta na ponta da cama, me olhando com curiosidade — Tenho quase vinte e quatro anos, meus pais moram em Los Angeles, moro sozinha em um apartamento, e é isso.

— É solteira? — Matteo praticamente o fuzila com o olhar quando o irmão pronuncia a frase — Ah! A propósito, eu sou gay, 'tá? Do tipo muito gay, que você olha e fala "Nossa, que gay!" — ele parece um pouco nervoso pela forma como a pergunta sobre eu estar solteira haver saído como um flerte — Não comenta com ninguém, por favor.

Devo admitir que o fato de ele dizer aquilo em voz alta me surpreendeu bastante.

— E eu achando que não tínhamos nada em comum... — Matteo parece um tanto confuso com a fala. — Sou lésbica, se já não está tão claro — dou de ombros.

— 'Tá bem claro, bastante claro. — ele diz, assinto. — Então, Billie... Não que eu queria bancar o irmão maluco, mas por acaso você tem visto Eleanor saindo com alguém diferente, tomando remédio a mais... bebendo talvez? — franzo o cenho — Eu só estou preocupado com a minha irmã. Antes ela me contava tudo, e desde que se mudou me ignora e não fala mais comigo, nem com ninguém.

— A não ser que envolva trabalho — Matteo completa — Eleanor anda muito estranha.

— Deve ser por conta do trabalho. Assumir uma empresa na idade dela, com todas as responsabilidades que ela tem é de longe um dos trabalhos mais difíceis que já vi. — com a minha própria frase, percebo o peso que aquelas palavras tem.

Na última semana, condenei-a em todas as formas, mas hora nenhuma parei para pensar que ela não deve ter tempo nem para ter os próprios pensamentos. Toda vez que a vejo na empresa, Eleanor está ocupada, saindo de reuniões, em palestras ou visitando lugares de importância trabalhista. Nunca a vejo parando o que faz para se quer comer.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora