at my veins

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Uma vez li em uma revista que a ambição move o homem. E que como a ambição era sinônimo do sobrenome Hernandez, logo, todos os Hernandez eram ambiciosos, eu só não havia sentido na pele a cobiça e a gana por capital e magnificências ultrapassando a linha frágil do ser humano. 

Após a conversa que Eleanor teve com o pai, ele não teve outra opção senão aceitar o nosso relacionamento, mesmo que por uma fração do tempo e de forma forçada. O essencial é que ela disse que ele se esforçou.

Diversamente de Eleanor, meu pai sempre foi meu melhor amigo, meu confidente, e desde pequena o via como meu herói. 

Jamais precisei cobrar por sua atenção, e vejo isso até hoje. Quando passo alguns dias sem dar notícias, ele me liga, pergunta de mim, do Finneas, do Dean, e por fim pergunta da Eleanor.

Isso é uma das coisas que admiro no meu pai, o modo como ele consegue ser meu pai e mesmo assim o meu melhor amigo, é esse o trato que ambiciono ter com os meus filhos.

Minhas conversas com ele pelo telefone haviam se tornado muito frequentes, e em quase todas falávamos sobre a Ele. Ele gostava de me ouvir falar sobre ela, gostava de saber como ela me fazia feliz e gostava de me dar conselhos sobre como agir em algumas situações. 

Como, por exemplo, quando cogitei me afastar dela. Tive uma longa conversa com o meu pai sobre isso. 

A verdade é a realidade ser triste, principalmente no trabalho que escolhi para mim. Eu já não era tão respeitada por ser mulher, e quando perceberam que sou lésbica então, tudo piorou, e piorou muito, mas consegui contornar isso com o tempo. 

Antes de Eleanor ser internada, conversei com meu pai sobre ela. Contei dos meus medos, o medo de acabar me tornando o segredinho dela, como já havia acontecido comigo antes. Eu estava pronta para acabar com tudo, mas meu pai não deixou, mandou eu esfriar a cabeça, agir como lúcida e botar em prática a comunicação que aprendi em casa. Foi um pequeno golpe na minha sensibilidade, mas foi o bastante para me fazer tomar uma decisão excelente. 

“E se ela for o amor da sua vida, filha, vai perder o amor da sua vida por medo do passado?” perguntou ele, como se estivesse prevendo o futuro. 

Queria que minha mulher pudesse sentir isso uma vez, e não ter a relação que tem com o seu pai. Desejava tanto isso para ela, que às vezes me sentia levemente culpada quando dizia algo sobre o meu pai e via seus olhos brilharem em tristeza.

— Você precisa parar de pensar no seu pai. — digo, sentindo-a suspirar pesado na cama. 

Já havíamos deitado para dormir, mas nenhuma das duas conseguia, percebi isso quando Ele começou a ficar agitada e respirar fundo tentando controlar a ansiedade estonteante até.

— Ele pediu 'para eu apresentar as nossas famílias, incluindo seus pais e os meus — diz de uma vez. — Sei que ele está se esforçando, mas ele…  

— Amor, para de se sabotar — murmuro, a puxando para deitar seu corpo sob o meu. 

Sabia que ela amava essa posição, e eu amava também. Me sentia tão bem abraçada com ela, que às vezes eu me sentia em um clichê somente sentindo o calor do seu corpo se transformar em carinho e ternura.

— Mas Bill, eu estou sendo racional. O meu pai não é assim, ele não… 

— Seu pai quer me conhecer, me conhecer como a sua namorada, e conhecer os meus pais. Julgo eu que se ele não está no caminho certo, está próximo, não é? — beijo eu ombro, tentando amenizar a situação.

— Agora nós namoramos? 

— Você ainda não havia percebido? — sou eu quem pergunto, enchendo seu rosto de beijos enquanto minha mão se arrasta na sua barriga e a faz cócegas. 

Entre risadas rolo meu corpo pela cama até que ela consegue me prender os braços e ficar em cima de mim, com cada perna de um lado do meu corpo. 

Ainda com a respiração ofegante, jogo meu cabelo para o lado e selo seus lábios em um movimento rápido.

— Você é bem implicantezinha, mas eu te amo, te amo muito — murmuro, escutando sua risada gostosa. 

— Você é insuportavelmente perfeita — murmura ela de volta, como se estivesse noticiando um segredo recôndito. — Te amo, mas bem pouquinho. 

— Bem pouquinho? Oi? 

— Sim! As outras também precisam de um espacinho no meu coração, sua egoísta — Eleanor explode em risadas com a própria fala, e é nessa hora em que me aproveito da sua falta de atenção e inverto nossas posições — Isso não é justo! Eu estava derrotável. 

— Fala isso para as suas outras vinte namoradas, engraçadinha — digo, rindo também. 

— É piada, amor, eu te amo, te amo te amo te amo… — Ele puxa meu rosto, agora é ela quem me enche de beijos, e quando eu menos espero ela aguarda o momento certo e inverte as posições de novo — Eu te amo! 

— Te amo muito mais — murmuro, vendo seu sorriso crescer. 

Eleanor solta meu ombro, e me encara por alguns segundos. 

— Quer casar comigo? 

Procuro algum resquício de brincadeira no seu rosto, mas não acho. Ela realmente endoideceu. 

— Casar? 

— Sim — ela diz, selando nossos lábios rapidamente logo após — Amor, eu nunca amei ninguém como amo você. Ninguém nunca chegou aos seus pés. Ninguém nunca me faz sentir tão bem como você. E agora que nós vamos poder assumir nosso relacionamento ao público…

— É claro que quero, nem precisa explicar — digo, vendo seu sorriso voltar — Mas você tem em mente que ainda temos muita coisa pela frente assim que todos ficarem sabendo, né? 

— Eu não ligo. Se eu estiver com você, qualquer coisa vale a pena — Acho graça da sua euforia — Espera aqui, eu já volto… 

Com isso ela sai rapidamente do meu colo. Eleanor anda saltitante até o closet, e volta rapidamente com as mãos para trás e um sorriso sapeca e contente. 

— Levanta da cama, rapidinho — fico sem entender nada, mas levanto mesmo assim. 

Dou a volta no cômodo ficando de frente para ela. A única iluminação no quarto era a luz amarelenta do corredor que estava acesa. Um vento gelado entra pela sacada e sopra seu cabelo, me perco no brilho que insurge dela, como se ela clarificasse tudo ali, mesmo que tal ato penetrasse, assim, cegamente. 

— Billie Eilish Pirate Bird O'connell… — fico sem entender como ela sabe meu nome completo. E me pego ainda mais surpresa quando ela fica de joelhos na minha frente, retirando uma caixinha de veludo preta de trás do seu corpo e a abrindo em minha direção — Aceita se casar comigo? 

Na caixinha há dois anéis. Ambos iguais, sutis, um diamante singelo reside no centro como principal, e consigo notar as duas pequenas pedras safiras em formato circulas bem ao lado. 

— Aceito — digo, sorrindo como uma boba. 

A observo colocar o anel na minha mão trêmula, e depois que faço o mesmo com ela, me sinto como nunca antes. Começo a chorar como uma verdadeira apaixonada, sendo abraçada pela minha, então, noiva. 

Sinto desejo de contar isso para o mundo, e ter finalmente a certeza de que não precisamos mais esconder é uma das maiores felicidades já sentidas por mim.

Pai, eu não perdi o amor da minha vida.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora