hospital room

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Assim que o médico responsável por Eleanor aparece no quarto para dar notícias sobre o estado de saúde dela, Claudia e Collen o acompanham até o corredor para uma longa conversa. Noto o quão preocupado o olhar de Sulewski se torna quando o médico dita a segunda frase, e Collen abraça o próprio braço martelando seus dedos na pele em ansiedade.

Me sento na cadeira ao lado da cama de hospital. Era estranho como Ele parecia estar somente dormindo, mesmo com o tubo que a ajudava a respirar e com todo aquele cenário.

Seguro sua mão fria com cuidado para não encostar na agulha pesa entre dois dos seus dedos. Na televisão, o programa de fofocas mais famoso da Europa anuncia o internamento da famosa empresária e bilionário Eleanor Hernández.

"E por falar em empresários, Eleanor Hernández acaba de ser internada no hospital Pont la Cruz."

A mulher sorri, como se aquela fosse uma notícia ótima.

"E por falar em Eleanor, temos as fotos da viagem que ela fez a Paris no último mês?"

A partir daí são mostradas fotos que a mostram no aeroporto, embarcando, outras na conferência conversando com outras pessoas do trabalho, e quando Madden aparece em uma delas pego o controle ao meu lado e desligo o aparelho.

— Ela ainda não acordou? — Collen entra no quarto, segurando uma sacolinha da lanchonete do hospital enquanto toma late em um copo descartável.

— Ainda não — murmuro, olhando a ela mais uma vez.

— Pega, trouxe 'pra você — ele estende a sacolinha — Você está aqui desde o almoço, e já são quase meia-noite.

— Obrigado — aceito o lanche, mas sei que não vou ter estômago para comer nada naquele dia — E a Clau?

— Foi ajudar Maya com as crianças, Matteo está tentando convencer meu pai a denunciar Madden — diz triste, com um suspiro pesado — E então... Você e Eleanor estão juntas desde quando?

A pergunta me pega de surpresa, e passa pela minha mente que talvez todos saibam de nós.

— Defina "juntas", Collen... — ele ri fraco. O homem de cabelo cacheado se senta ao meu lado, tomando outro gole do líquido no copo descartável.

— Billie, eu sempre brinquei com Matteo dizendo que Eleanor talvez gostasse de mulheres e se ela ficasse com alguma, talvez deixaria de sofrer por homens feios e pobres. Eu só não imaginei que isso fosse genuíno. — Collen me faz sorrir pela primeira vez em dois dias. — Só 'pra deixar claro, eu já pressentia de vocês.

— Como? — pergunto.

— Vocês não são nada sensatas, e conversam como se as paredes daquela casa não fossem extremamente finas — ele dá de ombros — 'Pra falar a verdade, eu desconfiei de vocês no dia em que chegaram, a forma com que vocês brigavam era sem sentido. Mas só fui ter certeza quando passei pelo corredor e as ouvi conversando na última noite de estadia — termina ele — Acredita que vocês duas vão durar?

— Opto acreditar que sim.

Pendo a cabeça para o lado, Eleanor ainda não havia acordado.

Um dia sem reação ao tratamento.

Um dia sem seus pulmões voltando a funcionar.

— Sei bem como é esse sentimento — ele expira, com um olhar triste. — Suponho que o maior problema de vocês serão a imprensa e os nossos pais, não que a nossa mãe ligue para algo, mas ela ama nos criticar quando tem a oportunidade.

Na verdade, os nossos problemas não eram a imprensa e nem a aceitação da família, eram a própria Eleanor.

Os ideais dela, a forma como ela não se aceita completamente, como ela ainda não se sente confortável para se assumir publicamente e primeiramente como ela enxerga as coisas.

Não posso nem se quer a culpar.

O processo de aceitação é demorado, dolorido, e raramente tem um final feliz. Encorajar pessoas de famílias conservadoras a se assumirem antes de serem independentes é uma percepção burra, que julga que todos são mente aberta como a mídia mostra, quando, na verdade, a maioria nos condena.

Querendo ou não, apesar de Eleanor ser independente, não duvido que seu pai possa entrar com um processo e tirar a empresa dela se ele quiser.

— Tenho que te apresentar meu namorado um dia desses, inclusive. — sorrio ao ouvir a frase — Surpresa! Estou namorando, já faz cinco meses, mas ainda não contei a ninguém além de meus outros irmãos, Claudia, e agora... bem, você.

— Fico feliz por vocês dois — ele agradece com um sorrio — Obrigado por confiar em mim.

— Disponha. — ele dá outro gole do seu copo, visivelmente feliz.

[...]

Ela não ressarciu? — Lauren indaga-me através da ligação de voz.

— Ainda não.

E você vai dormir aí? Em uma poltrona do hospital?

— Vou... — murmuro, baixo por conta do horário — Por favor, tome conta da empresa, eu tenho muito amor no dinheiro que ela me fornece.

Vou cuidar da empresa como o meu bebê, agora preciso ir, okay? Daqui a uma hora te trago atualizações.

— Certo.

Me avise se algo mudar, por favor, ah e antes que eu me esqueça... Halley perguntou por você, e tem uns quatro envelopes que chegaram hoje endereçados para a sua sala.

— Amanhã vejo isso, 'tá?

A Halley ou os envelopes?

— Os dois, Lauren, pare de pegar no meu pé com o que eu fiz.

Meu bem, eu sou sua amiga, e é por isso que eu ainda vou te encher a paciência com esse assunto — ela ri fraco — Adeus, baixota, se cuida.

— Até mais, chata.

Com a minha frase, Lauren encerra a chamada.

Encaro o ecrã luminoso do meu celular. Já se passava das duas da manhã, e até agora ninguém havia tido o prazer de dormi, ninguém se quer conseguia.

Nesse meio-termo Matteo criou um grupo para facilitar a comunicação, e pelo número de mensagens era de se notar que todos estavam acordados, acordados e bem desesperançosos a cada "Ela ainda não acordou" que eu enviava.

Já era o segundo dia sem resposta ao tratamento.

Cada próximo minuto mais insuportável que o antecedente.

É quando eu me levanto para ir pegar meu carregador que o bipe do monitor se torna contínuo e ensurdecedor, que o corpo de Eleanor começa a tremer de uma forma grotesca sob a maca e que uma luz amarelada se acende no quarto iluminando o local.

Com rapidez tento ir à porta, aberta antes que eu possa ter a oportunidade de chamar alguém.

O médico de antes entra com pressa e atrás dele vem três enfermeiras.

O cenário me apavora e de repente não há mais agito.

Ela não treme mais.

Não há mais tubo em sua boca.

Ela acordou.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Onde histórias criam vida. Descubra agora