Meio aquele inverno, cuja neve era cinzenta pela poluição, estavam Velic, Saiph e Arneb esperando um momento para sair. Durante a escuridão antes da estrela nascer, a criminosa chamou a garota com sua fala mansa e educada.
-Princesa Saiph, você sabe lutar?
-Fui criada para isso antes de fazer aquele teste genocida... E não me chame de "Princesa".
-Ótimo. Alguma razão para isso?
-Acho que não vale a pena fazer parte dessa dinastia. Provavelmente não aceitariam que uma mulher governe sozinha, ou que eu decida não deixar descendentes para acabar de vez com o nome de Rígel.O sorriso daquela mulher era estranhamente assustador, ela abriu seus olhos azuis.
-Você sabe a origem da espada que usa?
-Pra falar a verdade, não. Na sinceridade, não sei nada sobre o que veio antes de mim... Sempre aprendemos sobre o período Arcturiano, tudo antes disso é manipulado.
-Uma garota com o nome de espada que não conhece sua espada e nem a si mesma... - Acrescentou num ar de decepção. -A arte da espada é sagrada, para os antigos, existiam até mesmo rituais para que guerreiro e arma se tornassem um. Você já estava predestinada a ser uma exímia usuária só pelo nome. Farei que seja minha aluna.
-Sendo honesta, senhora... Nunca quis ser uma guerreira.
-E o que gostaria de ser? Mais uma coitada manipulada por Rígel pelo baixo nível de educação? Se não é isso o que você quer, fique aqui e espere outras pessoas sofrerem.
-Pare com isso, por favor. Sempre colocam o peso do mundo nas minhas costas, eu não sou capaz de resolver todas as coisas e nem os problemas da minha vida! - Exclamou enquanto andava pela neve.
-Então supere.
-Superar o quê?
-A si mesma. Deixe-me contar outro assunto... Já tentei matar ele no meu auge.
-Isso não faz sentido, então por qual motivo você não matou Rígel?
-Eu te contarei tudo. Mas antes, conheça um pouco mais do passado dele... Fiz parte da geração dele, conhecida como a geração mais poderosa de guerreiros, existia uma mulher que era extremamente apaixonada por ele, Antares... Aquela "bruaca" me irrita até hoje.
-Mentira. Aquela víbora!?
-Ela mesma... Vou te contar toda a trajetória que conheço sobre sua linhagem. Antares o conheceu como qualquer criança, eles eram amigos de infância, passando horas brincando. Ela cresceu amando ele, mas... Do jeito que ele era lerdo, não era capaz de perceber.
-Teria sido um pesadelo se eu tivesse sido filha dela. Teria me tornado uma pessoa horrível, isso é certeza.
-Durante a adolescência, ela o beijou durante um discurso político, o povo tinha adorado aquilo, mas ele respondeu com um tapa.
-Que família mais unida.
-Não interrompe. Enfim, ela percebeu que Meyssa era a pessoa por quem ele se apaixonou. Ela poderia ter criado uma rivalidade por causa de homem? Poderia. Mas ela era muito mais inteligente que isso, simplesmente desistiu. Não estava valendo a pena, já havia sido humilhada demais.
-Então por isso ela odeia minha mãe?
-Não. É por causa de política, uma é conservadora reacionária, capitalista radical e a outra feminista e socialista. Elas são opostas, mas se tivessem conhecido uma a outra antes, possivelmente seriam amigas. - Arneb sorriu.
-Pra ser sincera, não vejo como lados extremos podem ser aliados. Isso é conversa de centrista.Depois de ter cortado a fala da mulher da constelação de coelho, Saiph voltou ao ponto: Por que ela não conseguiu matar Rígel?
-Bem... Não é uma longa história. Ele enviou tropas para matar oposições, antes de Sirius se tornar o Monarca do meu lar, as santas lutaram contra suas investidas... Mas esse é o ponto que nem eu esperava: Elas desistiram. As maiores protetoras e guerreiras da época, indicadas pela própria Monarca Nuwang foram rejeitadas pelo próprio povo, ficaram cegos de ódio e escolheram as ideias supremacistas de Rígel. Escolhi lutar até morrer, eu, a assassina, não as "heroínas" da história, como elas mesmas se chamavam com aquele senso de justiça e altruísmo irritantes. Fui pessoalmente até Esparta para matá-lo, mas... Um homem, Aldebarã de Touro, o protegeu... Eu só lembro de chorar enquanto tentei lutar contra o maldito. Rígel o fez matar a própria família, mesmo assim, ele o protegeu... Porque sente um medo terrível daquele ser nojento.
-Então essa é a história do Aldebarã... Por isso ele se impressionou com um simples gesto de educação.
-Ele matou a esposa, os irmãos, a pequena Elnath, filha recém-nascida dele. Tudo isso por medo.
-Mas por que o "invencível" não se revoltou?
-Aldebarã só é invencível porque nunca enfrentou os Monarcas. Eles são o que são, máquinas de destruição cósmica ambulantes. Se ele não tivesse assassinado a própria família, a punição teria sido torná-los escravos.
-Nossa, mas por que isso aconteceu?
-Ele, como general, havia indícios de ter cooperado na armadilha para matar o Monarca. Aquela cicatriz no pescoço. O orgulho espartano bateu dentro dele, era melhor morrer de forma honrada do que se tornar escravo.
-Que triste.
-O taurino nunca se perdoou pelo que fez. Quando ele vê um ato de bondade, ele se sente alegre... Ele se esqueceu de que o mundo ainda pode ser bom.
-E quem são os outros membros do "Zodíaco"?
-Hamal, a ovelha religiosa que segue cegamente a palavra de Rígel; Alhena, outra que foi forçada a matar quem amava... Era dona de um orfanato, ele a obrigou a tornar-se escrava para que as crianças vivessem, passando por todo tipo de tortura psicológica; Acubens é o carrasco pessoal dele. Os outros só ouvi falar.
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Saiph
Science FictionO universo está em um de seus maiores conflitos, reis sendo destronados, ditadores no poder e sangue inocente sendo derramado à preço de nada. A Terceira Guerra Intergaláctica, o universo está separado em dois lados, não há certo ou errado, apenas o...