Horrores da guerra

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O planeta tem uma rotação maior, a iluminação diurna dura menos e os suprimentos acabarão rápido, os soldados lutarão assim que descansarem de seu sono. Saiph e Denebola conversam.

-Estou perdendo a esperanças nas pessoas, Denebola. Estou vendo as consequências dessa guerra.
-Eu devo estar ainda pior, estive a todo momento no campo de guerra... Não vou mentir, estou com medo de morrer. - A garota estava de cabeça baixa, sua mente está nebulosa, nem ouve o batimento de seu coração, como se estivesse morta e o corpo se esqueceu de cair.
-Acho que agora te entendo totalmente. Você é mais forte que eu...
-Do que está falando? Do braço?
-Digo psicologicamente. Você já nasceu sendo caçada para morrer em Esparta, os expurgos à classes menores.
-Certo, eu tenho uma certa blindagem... Mas tudo o que me acontece só resultou em traumas.
-Você me disse ter dupla personalidade. Tem certeza que não é transtorno bipolar?
-Não. Pra falar a verdade, eu não lembro o que acontece quando estou fora de mim.
-Quando isso começou?
-Foi quando Regulus me machucou uma vez, acidentalmente. Eu sangrei, a partir daí não lembro de nada, ele disse que quase matei ele. Que pena, eu devia ter acabado com aquele idiota. Eu tenho isso desde meu nascimento, por isso "Sarfah", "Transformadora" combina tanto comigo.
-Eu ia discordar, mas eu acho ele tão chato que no mínimo não deveria casar, imagina se aquele idiota se reproduz.
-Um único Relugus é ruim, imagina mais.
-Percebe o quanto a gente muda de assunto?
-Do nada estamos falando sobre traumas, daí começamos a falar do imbecil. Quer voltar ao primeiro assunto?
-Pra ser honesta, não, mas... A element que eu salvei... Daquele bordel, me fez refletir o quanto esse mundo é ruim. Eu poderia ter congelado, com medo, sem reagir... Felizmente eu dei um jeito.
-Como isso refletiu em você?
-Percebi que... Risen é um deus cruel. Ele tem poder para acabar com a guerra e todos os problemas, mas não o faz.
-É. Estamos em um mundo que deuses nos abandonam. Seria pior se Risen fosse como o deus mitológico que teria afogado incontáveis de nós.
-O que faria se você fosse uma deusa?
-Minha querida, eu sou uma deusa. - A garota de óculos colocou as mãos na cintura e balançou o cabelo da forma mais brega possível. Autovalor é tudo.
-Eu faria um mundo sem sofrimento, a vida tem mais a oferecer do que apenas dor. Acabar com a guerra.
-Se eu pudesse proteger apenas uma pessoa dos horrores da guerra... Então eu suportaria qualquer vergonha. Eu suportaria com orgulho.
-Você é admirável, é ótimo estar ao seu lado.
-Obrigada. Digo mais: Se seltene macht ou element, qualquer raça e espécie que seja, tratar meu nome com desonra por ter salvo alguém desses horrores, não me importaria. - Saiph sorriu ao recuperar um pouco de sua fé nas pessoas graças à Denebola.
-Você é a pessoa mais altruísta daqui, com toda certeza. Já eu, estou confusa... Não me vejo como uma pessoa capaz de ajudar meu povo.
-Você pode, se tudo der certo você será a próxima Monarca.
-Mas eu não quero ser Monarca, entende? Eu seria Rainha com um povo que me odiaria.
-Qual é a sua ideia?
-Eu pretendo arranjar algum jeito de equilibrar as coisas. Trazer mudanças. Eu percebi que temos essa influência desde cedo à sermos todos submissos ao Monarca.
-Democracia?
-Seria um bom jeito de enfraquecer o poder político do Rígel. Mas, foi desse jeito que ele conseguiu virar Rei, então daria no mesmo.
-Que tal enfraquecer o poder dele usando as leis? Se pensar na hipótese mais positiva, teria como pensar num golpe de estado.
-Não... Somos revolucionárias mas rapidinho ele dá um jeito na gente.
-Somos?
-Não sei... Somos?
-Somos, né? Acho que sim.
-É, somos... Mas enfim, quem herdaria parte desse poder?
-Poderíamos dividir o poder.
-Como?
-A gente poderia dividir em executivo e judiciário, já que ele mesmo mata os condenados sem um tribunal de verdade.
-Incluindo o... Legislativo.
-Esqueceu o nome?
-Por um momento. Então, o legislativo é o que cria as leis, mas essas pessoas teriam que ser muito imparciais para não serem corrompidas, para não serem usadas por suborno... Você seria uma dessas pessoas, com certeza.
-Você não?
-Digo que você seria melhor que eu. Não me vejo sendo alguém útil na política, ninguém dá ouvidos à mulheres.
-Se pensar desse jeito, até bactérias vão ser mais úteis do que você. E estou falando sério, elas podem terraformar mundos, liberando oxigênio e diminuindo o dióxido de carbono por exemplo.
-Triste, sou mais inútil que uma bactéria.
-Ai Saiph, o que me estressa em você é isso, você tem que melhorar essa autoestima!
-Me desculpe... Eu te decepcionei, eu não consigo mais me ver feliz. - A menina de cabelos dourados começou a se encolher, o rosto chorava mas os olhos não.
-Calma, desculpa por levantar a voz... - A garota de óculos a abraçou por trás. -Você é perfeita.
-Eu não sou perfeita e minha vida é um conto de falhas.
-Todo mundo tem falhas, mas você é perfeita. Palavras não definem pessoas, você não pode se chamar de inútil.
-Eu sou uma Princesa inútil, nunca fiz nada pelo povo.
-Você ainda é adolescente, não precisa se preocupar em colocar o peso todo de uma culpa que não é sua nas costas, de pouco em pouco seus feitos crescem.
-Ficaria ao meu lado se eu não fosse?
-Claro, como você mesma dá esse entendimento: É só um título. Apenas uma palavra incapaz de defini-la. Saiph, a nobre que fala gírias, estudou em escola pública... Fez um lugar para proteger animais de rua.
-Falando nisso... Não vejo meu coala desde que perdi meu braço... Ele deve estar perdido, deve estar chorando.

Enquanto isso em Esparta... O coala está na cama de sua dona, repetindo passos de dança de uma mulher na televisão com luzes de festa, enquanto o corvo de Denebola está voando ao redor.

SaiphOnde histórias criam vida. Descubra agora