Domínio de Fogo e Gelo

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As chamas de Mintaka brilham mais, ambos começam uma coreografia lenta fazendo suas figuras andando sobre o ar.

-Me fale mais sobre o que você consegue fazer resfriando o ar.
-Já tomou banho de chuveiro e a água desce fria?
-Eu sou baixinha... A água sempre chega em mim já fria.
-Você precisa namorar, quem sabe assim você deixa de ser tão negativa. Bem, é o seguinte, o ruim de ter absorção tão rápida é que a água já desce congelada.
-Então você não toma banho?
-O jeito é tomar banho de mar... As chamas também causam desvantagens.
-Exemplo?
-A evolução... Diga-me, como estão as chamas de sua mãe?
-Ahn... Amarelas.
-Entendo...
-O que isso significa? Que ela é forte?
-Ela nunca te contou? Então quer dizer que não está preparada para a verdade.
-Por que? O que escondem de mim?
-Dor e sofrimento, você já tem de sobra.

Ambos caminharam sobre as ruas, as lojas todas fechadas, ela olha cada roupa das vitrines.

-Interessada?
-Eu não gosto muito das minhas roupas... Olha só, esta daqui tem o meu tamanho e é bonita, minha mãe só me compra estampa de flores. - Disse ela apontando para uma camisa preta com um gato com metade do corpo vivo e metade decomposto, referência ao Gato de Schrödinger.
-Gostou dela?
-Se eu gostei? Eu amo tudo que tem haver com física, isso retrata a mecânica quântica que é algo que estamos tentando entender desde quando a ciência era valorizada.
-O que aconteceu com esse planeta enquanto estive fora?
-A nova modalidade é comprar coisas que não precisa, gastar a vida em redes sociais, ganhar dinheiro com sexualização do corpo... Agora lutamos contra a anti-ciência, anti-vacinas, terraplanistas, conspiracionistas e contra nós mesmos.
-Geralmente as músicas tinham significado, agora é apenas sacanagem.
-Como assim sacanagem? Eles colocam o preço da carne nos álbuns?
-Não... Você entendeu. A arte é a melhor forma de fazer críticas, mas hoje em dia... Ao invés de, sei lá... Ler livros, sua geração procura se estragar ao máximo.
-Não seja assim... Pessimista.
-O pessimista é feliz quando erra e acerta.
-Eu acredito numa verdade que é um fato eterno... Nada é tão ruim, que não possa piorar.
-Assim como a perfeição não pode ser definida, sempre tem como melhorar algo. - Mintaka a viu sorrir.
-É... Pode ser.
-Vai querer a camisa?
-Você não tem dinheiro, tem?
-Estamos sobre ataque... - Ele pega uma pedra pegando distância. -Saiph, segura a pedra!
-Aaah! - Ela se abaixou sobre o repentino ataque que quebra o vidro da porta atrás dela. -Ficou louco? Você sabe que isso é vandalismo?
-Não é vandalismo se for acidente. - Saiph começou a notar a malandragem de seu tio. -Assim como não estamos invadindo se o lugar nos recebe de portas abertas... - Ele abre a maçaneta do lado de dentro.
-Ficou louco?
-Quer a camisa, não quer? - Ele entra na loja procurando algo nas gavetas.
-Isso é furto.
-Não quando é comigo. - Ele pega uma caneta e começa a escrever na etiqueta de preço.
-O que está fazendo?
-Quando eu era criança, ficava brigando por causa do lugar no sofá, dizendo que era meu... Minha mãe dizia: "Por acaso seu nome está escrito aí?" e é por isso que agora, estou dando esta camisa para você. - O jeito que ele falava ajudou muito a convencê-la, não estava exatamente certo... Mas pelo lado dele não parecia estar errado.
-Eu não posso ficar com algo roubado.
-Não é roubado se for minha.
-Mas é roubado se não pagar.
-Não dá pra comprar se o vendedor não está aqui.
-Então pelo menos deixa o dinheiro aqui.
-Mas se eu deixar ele não vai me devolver o troco.
-UUUUUUUURGHRGHGH! - Grunhiu de raiva.
-Pega logo. Afinal, aqui em Esparta só é crime se você for pego.
-Não devo, não posso e nem quero fazer isso.
-Eu não devo, mas eu posso e quero, dane-se. - Ele retirou a camisa do boneco.

Eles saíram da loja com algumas roupas.

-Não seria mais eficaz pegar armaduras? Agora que provavelmente podemos ser atacados de surpresa?
-Menina, você nunca jogou RPG? O que importa não é a armadura, é o estilo.
-Lugar de cadáver bonito é no velório, não no campo de batalha.
-Lugar de corrupto é na cadeia, onde está seu pai?
-Isso foi golpe baixo...

SaiphOnde histórias criam vida. Descubra agora