Saiph

Discussões

Após terminarem o pequeno trecho da página daquele livro, Saiph e Denebola andaram pela fortaleza, encontrando o Imperador Zumbi. O Monarca estava na porta de um banheiro, falando seu idioma.

-O ko ni lati beru (Você não precisa ter medo).

As garotas o interromperam.

-Com quem está falando? - Indagou Denebola.
-Hoje, trago uma pessoa especial para cá. Se afihan, Morrigan.

Aquele idioma não se parecia nada com o que elas já haviam aprendido sobre linguagens, que só é ensinado as línguas variantes do Reino Azul, Sem Cor e Verde. Aquela civilização era totalmente independente das espécies predominantes de tais lugares, eles não tiveram influência na linguagem.

-Desculpa, mas a gente não entende nada. - Disse Saiph, as meninas deram uma risadinha.

Uma mulher saiu dali, era do tamanho do Monarca, baixinha como ele. Assim como ele, era cinzenta, vestia-se de forma luxuosa, um vestido preto, delineado nos olhos, cabelos ondulados negros indo até a altura dos ombros, seu pescoço está rodeado de colares de artesanato feitos à mão, seu vestido é remendado, feito de diferentes tecidos e diferentes cores, seus braços eram expostos, seus olhos refletiam sua insegurança, a sensação de não estar nos "padrões de beleza" de uma sociedade.

-Quem é ela? - Perguntou a loira.
-Vamos, se apresente. - Disse o cadáver.
-Morrigan, prazer em conhecê-la, Princesa Saiph.

Por um momento, a garota tinha estranhado, mas ela lembra que por ser filha de um ditador, ela é praticamente conhecida em todos os Reinos.

-Ah sim... Que nome diferente, o quê significa?
-Significa "Terror"... Significa "Rainha Fantasma", significa "Grande Rainha"... Mesmo assim, isso significa pouco para mim.
-Por que?
-Ela tem crise de identidade. - Respondeu o cadáver.
-O quê é isso? Como funciona?
-Imagine que... Você viveu sua vida inteira sendo chamada de inteligente, de gênio, prodígio, aquele em único em infinitos outros... E não te reconhecem por mais nada. É assim, eu não sou nada além de uma pessoa inteligente, nem bonita eu sou.
-Você é bonita.
-Você só está dizendo isso porque lhe influenciei a falar isso.

A mulher queria voltar ao banheiro, ela assim o fez.

-Quem sabe quando você nos visitar no Necromundo, ela esteja melhor para se apresentar.
-Falando nisso, como é o Necromundo? - Perguntou Denebola.
-Ah, é tudo diferente! Invés dos arranha-céus de Risen, nós temos a nossa marca registrada: Pirâmides. Em todo lugar que você for, tem pirâmides.
-Por que?
-Essa é a forma geométrica mais coesa para um edifício tão gigantesco, é bem feito e dura por milhares de anos.
-Nunca imaginaria que usassem pirâmides. Como é o clima?
-O clima é bem temperado, de manhã faz frio, depois chove, de tarde fica quente, nublado e durante as noites é ainda mais frio.

Parecia que estava falando do Brasil, mas é bem por aí...

-Ahn... Quem é ela? Amiga? Esposa?
-Apenas amigos, por enquanto.
-Você gosta dela?
-Pelo contrário, ela gosta de mim.

Imperador Zumbi, que não sente vergonha de sair sem camisa, mostrar seus ossos, suas cicatrizes, não se importa com a própria aparência, não se cuida, não tem cabelos, não é nenhum concorrente à concurso de beleza, consegue ter alguém que o ama, a resposta para isso é simples: Empatia. Saiph sabe muito bem disso, ela não consegue ver motivos para odiar alguém que apresenta carisma e empatia como ele.

-Você e ela? - Indagou Denebola. -Parecem um bom casal.
-Obrigado. Morrigan gostaria de ouvir isso... Acabei trazendo-a para conhecer outros lugares, sair um pouco da caverna.
-Caverna?
-É o termo que usamos para zona de conforto. Mas ela é muito tímida, deve ter se arrependido. - Ela ouvia tudo no banheiro, retocando a maquiagem e se sentindo pior, que estava atrapalhando a vida dele... Que estava apenas sendo um peso. -Porém, Morrigan é uma pessoa muito carente, possivelmente sofre crises emocionais por conta do perfeccionismo de sempre ser nomeada apenas como bonita. Vejo nos olhos dela, mais do que apenas tristeza, eu vejo um belo mar, profundo, morto, horripilante, a definição de sinistro... Mas ela entende, o corpo nunca é o motivo de se estar apaixonado.
-E como sabe que está amando?
-Quando você sentir que não vive sem aquela pessoa, saberá que é mais do que o amor da sua vida, ela é sua arqué. Seu sentido de viver.
-Mas isso não é errado? Não deveríamos buscar um sentido próprio em nós mesmos invés de procurar viver por alguém? - Disse Saiph. -E se a pessoa morrer?
-Isso é interessante, vocês com certeza tem um futuro como filósofas. Respondendo suas dúvidas, não é necessário estar vivo para amar. O Universo é transitório, tudo o que você conhece vai e vem.

Ele começou a tossir.

-Está tudo bem?
-Está... Isso é sangue de tosse saudável.

Depois dessa pequena brincadeira, a tosse piorou.

-Achei que zumbis não precisavam respirar. - Disse Denebola.
-Morto-Vivo não é totalmente morto, são só alguns órgãos que a evolução não eliminou ainda.

Vide o apêndice, que teorias afirmam que era utilizado quando estávamos no início de nossa evolução, usando-o para ingerir uma dieta vegetariana. Morrigan correu para dar tapas nas costas do cadáver, ele cuspiu no chão um pedaço de carne.

-Ah, droga... Eu vou pegar um pano e limpar.

O Imperador Zumbi é o Monarca mais educado, ele é dono de diversos planetas e ainda tem a humildade de limpar o chão que pertence à um ditador extremamente preconceituoso que o vê como inimigo. Enquanto ele passava o pano, ele deixou a cabeça inclinada e a coroa caiu, Morrigan se agacha para pegar, mas...

-O meu olho caiu, de novo! Que raiva!

Saiph viu a mulher pegar o próprio olho do chão, dar uma limpadinha básica e guardá-lo. Ao ver isso, ela desmaiou.

-Saiph? Saiph!? - Gritou Denebola.
-Desculpa, era só uma pegadinha. - Disse o cadáver. -Mostra o olho pra ela.
-Não, não, não, não, não! - A garota de óculos ficou em pânico.
-É só um olho falso! - Morrigan mostrou o olho falso em sua mão, enquanto olhava diretamente para as meninas com seus dois olhos. -A gente costuma brincar bastante com estrangeiros, eles sempre se assustam.
-Desculpe-nos, mais uma vez... Desculpe-nos... Eu não achei que ela era tão sensível ao nosso tipo de humor.