A Bruxa e a Princesa

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A princesa encara os jardins do castelo de Adarlan enquanto aguardava a bruxa.

Estava um frio terrível em Adarlan naquela época do ano, e a princesa odiava a maldita bruxa por fazê-la esperar tanto tempo.

A bruxa estava infiltrada no palácio fazia semanas, e ninguém desconfiava dela. O que era bom para o plano de ambas.

A princesa ouviu passos e não se deu o trabalho de olhar para trás, pois sabia que daria de cara com a bruxa.

A bruxa soltou uma gargalhada e se aproximou dela. E então a férrica virou-se para olha-la.

Ela nunca diria em voz alta, mas achava que sua amiga era a bruxa mais linda que já vira em toda sua vida.

A bruxa pigarreou e cerrou os olhos para ela, que revirou os olhos e cruzou os braços.

— Apreciando a vista, alteza? — provocou ela, sentando ao lado da princesa.

— Ah, não se ache tanto, eu sou bem mais bonita que você — ela deu um empurrãozinho no ombro da bruxa. — Continua tenho os mesmos sonhos?

A bruxa suspira e a princesa tem sua resposta.

Sua amiga estava tendo sonhos com um homem que ambas jamais tinham visto ou ouvido falar.

Os sonhos não eram do tipo fofos e agradáveis. Eram perturbadores.

— Os chás não resolvem, estou enlouquecendo com isso — confessa ela, cruzando os braços. — O que mais me enlouquece é nunca ver seu rosto, e sinto que... vê-lo por completo me traria a resposta que procuro.

— Já pensou na possibilidade dele ser seu parceiro? — a princesa viu sua amiga gargalhar com escárnio e franziu o rosto.

A bruxa aceitava todo tipo de crença, religião e deuses, mas se recusava a crer que existia alguém destinado a si ou a outra pessoa.

Para ela, o laço de parceria era algo idiota, e que ela não se renderia jamais.

Mas a princesa começava a achar que a bruxa tinha um parceiro, e dizia aquelas coisas porque estava com medo de enxergar a verdade.

— Primeiro: não acredito nessas coisas, segundo: sou uma bruxa, isso não funciona em bruxas, tolinha — a bruxa revirou os olhos e pigarreou. — Mas vamos tratar de negócios, como foi lá?

A princesa suspirou e se encolheu, e a bruxa a puxou para perto, a abraçando de lado.

— O mesmo de sempre, o seduzi e ele acabou morto no final — respondeu, com a voz vaga. — E como foi aqui?

— Difícil, mas no fim deu certo. Eles estão noivos e devem se casar daqui a algumas semanas — a bruxa deu de ombros. — Ele está vindo, não está? Por isso toda essa pressa para fazê-los se acertarem.

A princesa assentiu, e mordeu o lábio para evitar chorar.

Queria tanto, tanto que aquelas pessoas tivessem uma chance de ser feliz... aquilo era tudo que ela mais queria. E ela morreria tentando ajudá-los, se necessário.

Tudo que a princesa tinha, tudo que ela mais amava... tudo já tinha acabado. Seus irmãos confiaram a ela a missão de salvar seu amado reino e ela o faria. Nem que morresse por isso.

— A culpa é toda deles! Se tivessem se casado naquela maldita guerra, quando Manon pediu Dorian em casamento... não estaríamos aqui — a bruxa suspira com raiva. — Droga! Por que eles têm que ser tão idiotas?!

A princesa riu e apertou a mão da bruxa.

— Manon lhe mataria se soubesse que você a chamou de idiota.

— Mas ela é! Talvez a essa altura a herdeira nem nasça mais! — a bruxa cobriu o rosto com as mãos e suspirou. — Esse bebê que nem veio ao mundo ainda é a nossa salvação, você entende isso, Al?! Eu confio que os senhores do outro mundo já têm o bebê, mas e Manon? Todos os mundos dependem dessas crianças! E nem sabemos se Manon poderá tê-la um dia!

— Não se preocupe com isso querida. Manon vai ter essa criança — a princesa sorriu convencida, ao ver a confusão no rosto da bruxa. — Meus sentidos dizem que isso está mais perto do que ela imagina. Talvez daqui à alguns meses.

A bruxa sorriu e percebeu o que a amiga falava. Entendeu que a única salvação da terra já estava entre elas.

— Quer dizer que...

— Sim — a princesa interrompeu a bruxa e segurou sua mão com mais força. — a rainha-bruxa está grávida, e a Senhora da Noite também! Nossos heróis estão a caminho!

Após as Cinzas ➝ °•Manorian•°Onde histórias criam vida. Descubra agora