>> Capítulo trinta e dois

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Dorian estava pensativo naquele dia.

Há quase cinco anos atrás, sua esposa e filha foram para o Reino das Bruxas, sem data para voltar. E aos poucos, ele sentia as esperanças de vê-las novamente sumirem.

Faltava apenas um mês para sua filha completar seis anos de idade. E ele havia perdido tudo da vida dela após o primeiro aniversário.

Não sabia como era voz, a aparência ou nada. Era como se nunca tivesse tido uma filha, como se a existência dela tivesse sido apagada da sua vida. E aquilo o corroía por dentro.

Ele mandava cartas, livros, roupas e outros diversos presentes, mas... nunca seria a mesma coisa que tê-la por perto.

Desde a partida de Manon e Lothian, foi como se sua vida tivesse perdido o sentido.

No início, Dorian não conseguia sair do quarto. Ficava encolhido no chão enquanto seu poder destruía tudo o que podia.

Sentia seu coração doer ao fechar os olhos e lembrar do sorriso banguela da filha, um sorriso que talvez jamais voltasse a ver. E então, perdia o controle. Sua magia agia contra a sua vontade, e congelava, queimava e destruía até onde aguentasse.

Passou dias daquela forma, até que Chaol o fez se levantar, o fez lutar contra a dor de perdê-las, e o fez pensar que ainda não era o fim e que talvez fosse vê-las novamente.

E Dorian se agarrou naquilo. Na esperança de reencontrá-las, mas... ainda sim, algo havia mudado. Ele não era o mesmo.

A dor de perdê-las fez com que o rei mudasse drasticamente, apesar de ainda tentar lutar. E mesmo que não quisesse, sabia que a tristeza e o vazio por estar longe delas estava o dominando. Mas não desistiria.

Iria aguentar o que fosse para manter a paz em Erilea, para manter a família e amigos seguros. E se o preço a de pagar fosse ficar longe de Manon e Lothian por um tempo, ele resistiria — mesmo que aquilo o dilacerasse por dentro.

— No que tanto pensa? — perguntou Charles, levantando as sobrancelhas.

Dorian encarou os olhos castanho-dourado idênticos aos da mãe, e sorriu.

— Em muitas coisas — respondeu, dando de ombros. Ele encarou o céu e franziu o nariz, ao ver nuvens de chuva. — Acho melhor entrarmos, vai chover. E sabe que sua mãe não gosta quando toma banhos de chuva.

Como se tivesse sido conjurada, Yrene apareceu nos jardins. Josefin e Chaol vinham logo atrás dela.

— Charles, vamos entrar! Não vai tomar banho de chuva outra vez! — gritou Yrene, enquanto andava até eles.

O menino bufou, parecendo frustrado, fazendo Dorian gargalhar.

O sobrinho adorava chuva. E sempre que podia, ficava nos jardins até a chuva passar.

— Tio Geladinho, consegui curar uma pessoa ferida hoje! — disse Josefin, pulando animada.

Ele bateu palmas para a sobrinha, que sorriu ainda mais.

Josefin havia começado a treinar seus dons de cura há cerca de dois anos atrás, e já havia evoluído muito, o que deixava Dorian muito orgulho.

Sua sobrinha tinha onze anos, e estava ficando a cada dia mais parecida com a mãe. Os cabelos castanho-dourado estavam trançados e ela usava um vestido azul claro, que era o tom habitual das curandeiras.

Ele ficava feliz ao ver que sua sobrinha se orgulhava tanto de ser uma curandeira. Dorian sabia que aquela sempre fora uma preocupação de Yrene e Chaol.

— Estou orgulhoso, querida — falou ele, fazendo uma pequena reverência com a cabeça. — Mas pare de me chamar de Geladinho.

Ela sorriu e negou com a cabeça, fazendo o rei rir levemente.

Após as Cinzas ➝ °•Manorian•°Onde histórias criam vida. Descubra agora