>> Capítulo trinta e um

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Manon percebeu que havia amanhecido quando sentiu os raios de sol adentrarem seu quarto.

O prazo de Gother estava quase acabando, e ela ainda não havia encontrado Prythian. Nem mesmo outro mapa para o lugar.

Quando saiu de Adarlan, ela tinha um plano para encontrar Prythian rápido, porém tudo foi diferente.

Sua ideia inicial era usar a Chave dos Mundos para abrir um portal para Prythian, mas ela não contava que a chave estivesse danificada e sem mais utilidade.

A antiga princesa de Adarlan dissera que levaria meses - possivelmente anos - para conseguir consertar a maldita chave.

Então, enquanto Alina e Glennis tentavam consertar a chave, ela aguardou o retorno dos navios. Mas eles nunca retornaram.

E aos poucos, a bruxa foi perdendo as esperanças de encontrar esse mundo. Um mundo que talvez nem existisse, que talvez fosse somente mais um dos jogos de Gother para torturá-los.

Ela deslizou para fora da cama e foi em direção ao banheiro, tomando cuidado para não acordar Lothian, que havia dormido com ela na noite anterior por conta de um pesadelo.

Lothian tinha quase seis anos de idade, e a cada dia, se parecia ainda mais com Dorian.

Manon engoliu o bolo de culpa em sua garganta. Havia tirado Lothian de Adarlan, sem nem mesmo dar a chance de Dorian se despedir.

Ela sentia falta dele. Muita.

Pensava nele todos os dias desde que fora embora de Adarlan. E a cada dia, se sentia mais triste e vazia, sabendo que nunca mais o veria.

No início, ficar longe de Dorian foi devastador. Não conseguia nem mesmo comer, dormir ou tomar banho, ficava somente encolhida na cama, sendo devorada pela culpa.

Não fechava os olhos por tempo demais. Sonhava com Dorian, com os olhos azul safira do rei lhe olhando com ódio e desprezo. E não conseguia suportar.

Toda a comida parecia sem gosto, e ela não conseguia engolir. Não demorou muito para a fraqueza a dominar, e mesmo com seus anos de treinamento, não conseguia ficar de pé.

Tudo o que a bruxa aprendera em mais de um século de vida sumiu. Foi como se todos os treinamentos para suportar a dor, a ignorar emoções e sentimentos tivessem evaporado.

Passou dias definhando no quarto, até que Lia interviu, vendo que a rainha-bruxa estava morrendo lentamente.

Manon se forçou a enterrar a dor e todas as emoções negativas que a sufocava, se forçou a ficar de pé e lutar por sua filha e seu reino. Mas ela sabia, desde o dia em que fora embora de Adarlan, que algo havia morrido dentro dela. Algo que ela jamais iria conseguir recuperar.

A bruxa balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos, e terminou de tomar banho, vestindo seu habitual couro de bruxa e penteando os cabelos – que não eram mais longos, mas sim um pouco acima do ombro.

Voltou para o quarto, vendo que Lothian já havia acordado.

— Bom dia, mamãe — murmurou ela, enquanto coçava os olhos. — Minhas mãos ainda estão doendo.

Manon deu um pequeno sorriso para a filha, tentando disfarçar sua preocupação, e se abaixou até estar na altura dela.

— Bom dia, bruxinha — respondeu, dando um beijo nos cabelos escuros de Lothian. — Vá tomar banho para podermos ver uma curandeira depois do café, tenho certeza que isso vai passar logo.

A princesa das bruxas assentiu lentamente, e foi em direção ao banheiro, onde já tinha uma roupa separada para ela.

A rainha-bruxa estava preocupada com Lothian. E sua preocupação aumentava a cada dia, vendo que as dores nas mãos da menina e mais alguns... acidentes só se tornavam mais frequentes.

Após as Cinzas ➝ °•Manorian•°Onde histórias criam vida. Descubra agora