Praia de Payhor

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Lia sempre adorou praias.

Ela sempre adorou a tranquilidade que a praia a proporcionava, sempre amou sentar-se na areia e sentir o vento batendo em seu rosto enquanto as ondas quebravam no mar, e o que mais gostava nas praias era que somente o vento fazia barulho.

Mas naquele dia, a praia estava repleta de barulhinhos de risadas alegres e inocentes, e Lia não negava que risadas era o som que mais gostava de ouvir.

"Ouvir risadas significa que tudo está indo bem", pensou Lia. Mas aquilo não era a verdade completa.

As crianças estavam ótimas, mas seus pais estavam com medo do que os assassinatos podiam causar em seus variados reinos, e as pessoas na praia tinham diversos pensamentos ruins inundando suas mentes. E Lia, ironicamente, era uma dessas pessoas.

Enquanto as crianças brincavam na areia sob os olhos dos pais, Lia encarava o férrico dos cabelos dourados, que parecia tão inerte em seus pensamentos quanto a bruxa.

Desde que tinha visto o féerico, Lia não havia conseguido dormir direito, e sempre tinha pesadelos com ele.

Ela não entendia sua ligação com esse féerico, mas sabia que não era coisa boa. As vozes em sua mente diziam que o pior estava por vir.

E ela sabia que as vozes estavam certas, as vozes nunca erravam.

Acertaram sobre o destino de seus pais, sobre o irmão de Sarah e sobre Jude. Não seria agora que as vozes iriam errar.

Às vezes, Lia odiava as vozes, mas sabia que no final, só restariam elas para consolá-la. Como sempre acontecia.

A bruxa respirou fundo quando uma rajada de vento passou por ela e sentiu seus ombros perderem um pouco da tensão.

Lia estava cansada, assustada e preocupada.

Temia por sua rainha, temia pelo povo e temia por si mesma. E não sabia o que fazer para perder aquelas sensações ruins.

Sentiu passos atrás de si, mas não olhou para trás, sabia quem encontraria ali.

O féerico dourado sentou-se ao seu lado, e Lia evitou encará-lo.

Ele era bonito demais, e ela sabia que se perderia encarando os olhos do féerico.

— Tento falar com você desde que cheguei e você me evita como se eu fosse uma praga — começa ele, encarando o mar a sua frente. — Por quê?

— Você chegou a pouco tempo — diz ela, como se respondesse tudo.

Ela ouviu o féerico soltar um riso nasalado, e se perguntou qual som ele faria ao gargalhar.

— Não gosto e não vou enrolar, Lia, você sabe que temos algum tipo de ligação louca — disse, vendo Lia assentir, apesar daquilo não ter sido uma pergunta. — E... bom, eu sei que talvez não seja o melhor momento, mas... caso você permita, eu gostaria de descobrir o que é, e também... eu... ahn, gostaria de te conhecer melhor, podemos ser... amigos? Não acho que nada seja por acaso, e eu sonho com você faz meses, e nem sempre são sonhos bons.

Lia engoliu em seco e analisou suas opções. Talvez explorar aquilo realmente fosse uma boa ideia.

E ela tinha certeza que eles não eram parceiros, aquilo era coisa féerica, então não haveria problema em descobrir o que aquilo era.

Mas ela não era tola o suficiente para achar que uma ligação não poderia virar uma paixão avassaladora e era isso que queria evitar.

Lia não era burra, sabia que o amor existia, e sentia que o macho ao seu lado acreditava nele com muito afinco, mas... ela não era esse tipo de pessoa.

Tinha plena consciência de que o amor existia, mas sabia que não era pra ela. E estava tudo bem.

Mas antes de se jogar desse possível penhasco, deveria garantir que o féerico ao seu lado não se iludiria, seria injusto demais, mesmo para alguém como ela.

— Com uma condição — começou ela, vendo o féerico gesticular para que ela continuasse. — Não podemos envolver amor, paixão ou qualquer coisa do tipo.

Ela virou para finalmente olhar para o féerico e viu a surpresa em seu olhar. Ele com certeza não esperava por aquilo.

Lia esperava que aquilo não fosse um problema para ele, já que o mesmo disse que não gostava de enrolação.

E bom, caso ele aceitasse, os dois podiam conseguir descobrir a causa dos malditos sonhos e qual era a maldita ligação.

Ela esperou ansiosamente enquanto o féerico decidia o que fazer, e por um momento, ela se perguntou se havia sido grossa demais.

O féerico sorriu e assentiu, fazendo Lia sorrir e voltar a encarar o mar.

Enquanto encarava as ondas quebrando, perguntou as vozes se aquilo era o certo a se fazer, mas as vozes não responderam.

E então, Lia se lembrou de algo.

— Qual é o seu nome? — o féerico a encarou, completamente incrédulo.

— Não pode usar a desculpa dos dias pra não saber meu nome! — por um momento, Lia se perguntou se ele estava magoado ou se estava fingindo.

— Muitas pessoas, muitos nomes para decorar, não pode me culpar! — Lia sorriu e o féerico resmungou algo inaudível até mesmo para ela.

— Fenrys — disse ele, estendendo a mão para ela. — Me chamo Fenrys Moonbeam.

Após as Cinzas ➝ °•Manorian•°Onde histórias criam vida. Descubra agora