➜ Capítulo sete

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Manon finalmente aceitara ir dar um passeio por Forte da Fenda, e tinha que admitir que a capital estava bem mais... organizada.

As ruas não estavam mais tão sujas e nem repletas de ladrões como antes, e não cheiravam a mofo, bebidas velhas ou desejo sexual.

As barracas eram enfileiradas nas avenidas de pedra branca, e alguns vendedores andavam pelas ruas em que ela havia passado antes.

Naquele momento, os dois estavam em frente ao restaurante próximo ao porto.

O lugar dava uma sensação estranha de conforto. Talvez fosse pelas paredes azuis, ou pelas árvores e flores simples e organizadas, ela não sabia.

— Me conte como foram esses seis anos longe de mim — pediu Dorian, fazendo a rainha-bruxa revirar os olhos. — Prefiro que revire os olhos para mim em outro momento, bruxinha — ronronou, fazendo um calor percorrer toda a coluna da bruxa.

Ela deu um leve belisco no rei, que deu um pulo para o lado enquanto lançava um olhar indignado para a bruxa.

— Ah, vamos! Conte-me algo, por exemplo... sobre a administração do Reino das Bruxas.

Manon levou uma mão ao queixo, enquanto fingia pensar. Ela obviamente falaria com ele sobre o reino, mas queria fazê-lo esperar.

Ela também não queria falar sobre seu reino em um lugar tão lotado. Paredes tinham ouvidos, e governantes jamais deveria falar sobre seus planos livremente. Jamais.

— Tentaram me matar no início — respondeu, nostálgica. — Disseram que eu era fraca por dividir os desertos com uma mortal.

Cada palavra que saía da boca da rainha-bruxa era repleta de uma raiva contida.

— Famílias humanas foram pedir abrigo em meu reino, eu desconfiei, mas com muito custo os deixei ficar — algo que até agora se provara muito vantajoso até aquele momento. — Isso só fez as pernas-amarelas me odiarem mais, até me deixaram imunes a veneno.

Uma risada rouca e amarga saiu do fundo da garganta da bruxa. Ela estremecia de ódio somente ao se lembrar dos malditos efeitos colaterais dos diversos tipos de veneno.

Manon olhou de soslaio para o rei, e percebeu que ele estava pálido, e que emanava un ar frio e gélido.

Ela poderia jurar que viu uma nuvem de fumaça sair de sua boca.

— Meus três primeiros anos de reinado foram um porre. As Pernas-amarelas tentavam me matar a cada segundo, e muitas das bico-negro queriam que eu tomasse Erilea — Manon não encarava o rei, mas sentia o olhar dele sobre si. — Até que... uma bruxa chamada Aimee me desafiou para um duelo pelo trono, e eu aceitei.

A bruxa bufou, odiando-se um pouco mais por ter aceitado fazer aquilo. Foi algo idiota, mas necessário para que ela conseguisse o respeito das bruxas.

As bruxas estavam quase lhe tirando do trono, e ela precisava restaurar sua honra. Não podia perder o reino que tanto lutara para construir.

— O que houve no duelo, bruxinha? — indagou ele, passando um braço pela cintura dela. — Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?

Ela assentiu, ainda sem olhar para ele. Sentia a preocupação dele presente em seu tom de voz, e em seu cheiro.

A rainha-bruxa encarava as pessoas que entravam no restaurante, e nas poucas que se davam ao trabalho de se curvar para Dorian, quando disse:

— Eu e ela duelamos na Praça das Treze... — dizer o nome de suas irmãs ainda era doloroso para a bruxa, mas mesmo assim, ela prosseguiu. — Eu ganhei o duelo, mas ainda não era o suficiente. Sabia que outras viriam depois dela, então decidi dar um basta naquela situação.

Após as Cinzas ➝ °•Manorian•°Onde histórias criam vida. Descubra agora