Desde quando eram crianças, Kisa e Alfredo sempre se implicaram para esconder o sentimento que nutriam um pelo o outro. Com o passar dos anos, isso não mudou, as provocações e brincadeiras só aumentaram, até que Alfredo foi fazer faculdade em Londre...
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Passo a mão pela cama e não sinto ninguém ao meu lado. Abro os olhos e maneio a cabeça para os lados à procura da cacheada. Levanto da cama, caminho para o banheiro e vou fazer as minhas higienes. Quando acabo, desço para a sala. Do corredor, posso ouvir uma melodia de piano e ela murmurando alguma música.
— Boa tarde — digo quando chego na sala.
— Boa tarde — diz, sentada no piano. — Então...? — Começa a tocar uma melodia.
— O que? — Franzo o cenho.
— Eu sei que tem algo acontecendo, que você quer me falar algo desde que me ligou e eu não aguento mais esperar para saber o que é.
— E você está esperando eu mesmo te contar? — supus.
— Exatamente. — Me olha rápido e volta ao piano.
— Eu vou para Londres por um mês.
Ela cessa a melodia, mas não me olha.
— Posso saber o porquê?
— Desenhar e produzir joias para um desfile, ou seja, a trabalho.
Volta a tocar.
— Que bom.
— Como assim "Que bom"? Eu disse um mês — reforço.
— Eu ouvi, Alfredo, não sou surda.
Aquela melodia está me irritando, ainda mais por ser uma melodia totalmente dramática que ela não estava tocando antes.
— E você não vai falar nada? — Me aproximo e me apoio na tampa do piano.
— O que quer que eu diga? Quer que eu te impeça de ir fazer o seu trabalho?
— Pare de tocar, por favor. — Ela para. — Quero que diga como se sente.
— Normal, como eu deveria me sentir?
— Com inseguranças, com medo de eu não voltar.
Ela sai do piano, indo em direção à cozinha, e eu vou atrás.
— Eu tenho motivos para isso? Para achar que você não volta? — Me olha brevemente por cima do ombro.
— Não!
— Então. — Entra na cozinha.
— Eu sei que você prefere guardar as coisas para você do que impedir alguém de fazer o que quer, mas é bom dizer como realmente se sente.
Ela para no balcão da cozinha e passa a mão no rosto.
— Quer saber? Tem razão, eu prefiro guardar para mim e me distrair, assim como eu fiz quando a Mirela foi viajar. Eu me enfiei em vários cursos, um atrás do outro. — Ela vira para mim. — Eu não gosto quando alguém faz viagens longas. Eu tenho medo de você não voltar como o Aron, ou passar meses como a Mirela, ou até...até como você fez.
