MAGRINHA E BRANCA, a prima Lili parecia mais de cera, de tão pálida. Tinha a minha idade e uns olhos azuis e uns cabelos louros até o pescoço. Sempre recolhida e calada, nunca estava conosco nas brincadeiras.
— Esta menina não se cria — diziam as negras.
Na verdade, a prima Lili parecia mais um anjo do que gente. Qualquer coisa era motivo para um choro que não acabava mais. Comigo ela sempre se abria. Eu lhe era menos agressivo que os irmãos. E juntos nós estávamos com a tia Maria, e nos cuidados e nos dengues de nossa amiga nos encontrávamos de quando em vez. Lili não ia ao sol, vivia o dia todo calçada. Tudo lhe fazia mal: o chuvisco, o mormaço, o sereno. E só vivia nos remédios.
Não sei por que, fui criando a esta criaturinha uma amizade constante. Gostava de ficar com ela, na companhia de suas bonecas. E um preá-da-índia que me deram, eu lhe ofereci de presente. Também era tão terna comigo!
Um dia amanheceu vomitando preto e com febre. Entrei no quarto onde ela estava, mais branca ainda, e a encontrei muito triste, ainda mais magrinha. Suas bonecas andavam por cima da cama como se fossem as suas amigas em despedidas.
Os olhinhos azuis se demoraram em cima de mim, parece que me pedindo alguma coisa. Era talvez para que eu ficasse com ela mais tempo. Mas levaram-me do quarto.
No outro dia, quando me acordei, a minha priminha tinha morrido. Lembro-me do seu caixão branquinho, cheio de rosas, e da tia Maria chorando o dia inteiro.
Ainda hoje, quando encontro enterro de crianças, é pela minha prima Lili que me chegam lágrimas aos olhos.