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Maria Luiza

Hoje, após sete anos vivendo nessa vida suja, eu já estava acostumada. Acho que depois de tanto fazer coisas nojentas, acabei me entregando de vez pra vida porque talvez não existisse outra saída, enquanto eu tivesse colocando comida no prato do meu filho, eu estava feliz.

Hoje meu filho tinha nove anos de idade, entre esses anos consegui ver meu filho ir pra uma escola, fazer amiguinhos, trazer amiguinhos pra nossa casa, vi ele sorrir e vi ele ter um vida de criança normal.

O que pesa é a noite, a madrugada quando eu saio e deixo ele trancado no quarto pra nada acontecer, pra eu vender meu corpo e ter a segurança de que ele está bem. E quando ele acordou pela primeira vez e percebeu que eu não estava ali, que ele estava trancado, foi uma grande luta pra explicar, e na verdade, como eu iria explicar?!

Mas tive que deixar claro que a mamãe trabalha de noite e precisa fazer isso pra deixar ele em segurança, acho que eu não estava tão errada assim.

Caio: Mãe.- Chegou em casa gritando, encarei ele comendo meu chocolate e ele pulou em cima do sofá.

Malu: Qual é, moleque? - Passei a mão pelo cabelo dele.

Caio: Eu tava brincando com os meninos da esquina...- Falou coçando a cabeça e eu encarei ele feio.

Malu: Quantas vezes vou repetir que os meninos da esquina não são seus amigos e não é pra tá andando com eles? - Falei séria.

Caio: Mas eles são os únicos que tão por perto pra brincar comigo.- Continuei encarando ele.- Mas não é isso, é que hoje tem a festa de aniversário do Luiz

Malu: E quem é Luiz?

Caio: O filho dá Alicia, a ex mulher do Trovão.- Coçou a cabeça.

Malu: Desde quando você é amigo dele? E por que você sabe sobre o Trovão? Se manca ein, Caio.- Ele revirou os olhos.

Caio: Manhê, todo mundo daqui sabe. E o Luís joga bola comigo, então eu quero ir. Vai ser na pracinha, por favor! - Juntou as mãos e eu levantei os braços em rendição.

Malu: A gente dá um passada lá, não prefere ir no shopping? - Falei fazendo bico.

Caio confirmou com a minha ideia e se jogou em cima de mim, abracei aquele gordinho lhe entregando vários beijos e só escutei sua risada. Mandei ele se arrumar e fui também, fui toda bonita e ele parecendo um homenzinho, sai de casa andando com ele e a gente foi saindo da rua.

Os quatro moleques que moravam nessa rua e eram amiguinhos do Caio me olharam, eles eram mais velhos que o Caio, lá pros 16,17 anos... O problema é que todos os quatros eram do corre, viviam com coisas erradas pelo morro, e eles também sabiam o que eu fazia, já haviam me visto várias vezes saindo e voltando.

E meu maior medo é eles falarem pro Caio, ou algo assim. Mas até hoje eles nunca abriram o bico, sempre que eu passo eles apenas me encarando, dão boa tarde/bom dia/boa noite, e sem mais que isso, e eu ainda não sei se isso deveria me preocupar tanto.

Desci com o Caio pra pracinha e estava lotada, havia sido tudo organizado e pra entrar na quadra tinha segurança, encarei o Caio e ele apenas saiu na minha frente me ignorando. O segurança simplesmente falou com o Caio como se eles fossem super amigos, Caio sorriu e bateu na mão dele e entrou sem mais, nem menos, enquanto eu fiquei boquiaberta com a astúcia.

Uma mulher pediu pra seguimos e tiramos foto com o aniversariante, novamente o Caio estava em sua autonomia máxima e me fez apenas seguir seus passos. Quando chegamos perto da mesa do bolo outras pessoas tiravam foto, pra ser mais exata, o pai e a mãe do Luiz.

O trovão reclamava de algo pra mulher que ignorou se ajeitando, olhei pro rosto do trovão tendo em vista que eu havia visto poucas vezes de longe, ele me parou de falar e levantou o olhar, fazendo bater com o meu.

No mesmo instante o Caio se mexeu do meu lado e eu desviei o olhar rapidamente pro meu filho que me mostrou os brinquedos que tinham ali. Assim que o Luiz viu o Caio deu maior grito e correu pra perto dele, eu sorri de lado e encarei eles, vendo que a Alicia estava me encarando com desdém.

Primeira dama Onde histórias criam vida. Descubra agora